Não se iludam...

O ano de 2014 marca o fim formal do Resgate Financeiro e a consequente partida da Troika. Algumas cabecitas desinformadas ou formatadas já estão para aí a dizer que a Austeridade também vai embora... Ledo engano! A Austeridade, é infelizmente como a Toyota... Veio para ficar.

Ponta Delgada, 05 de Janeiro de 2014

 

O Capital Financeiro irá continuar a expropriar a riqueza daqueles que trabalham e irá, porque o gigantesco buraco que abriu na Economia Mundial, não está e nem vai estar tapado pelos tempos mais próximos. Estamos convencidos que nunca estará... O resto são falácias para iludir incautos.

 

Os "Senhores dos Mercados", acolitados por políticos apátridas, criaram a Austeridade para gerar ativos que compensem as perdas financeiras que todo o Sistema Financeiro Internacional teve em resultado da excessiva especulação com produtos de Engenharia Financeira de alto risco. Os ditos Reguladores do Mercado, os Bancos Centrais (FED, BCE, etc.), sabem que qualquer Bolha Especulativa, mais cedo ou mais tarde, dá o berro... Mais, sabem que as flutuações financeiras nas principais praças de Capital Especulativo, Wall Street e na City Londrina, não dependem da "mão invisível" do mercado... Têm quem as manipule... Todavia fecham os olhos e permitem, com a conivência de Governos corrompidos, toda a espécie de veleidades aos "mercadores de moeda desmaterializada e contrafeita", como é de facto o Capital Especulativo.

Ninguém sabe o valor do prejuízo e se calhar, nem convém saber... Contudo há quem afirme que o montante dos chamados ativos tóxicos ultrapasse a soma dos PIBs dos USA e da Europa. Um valor astronómico...

Um dos desígnios dos Globalistas é o da implementação de uma moeda única à escala planetária, facto que transforma os Países em Nações párias, sobretudo as de Economia débil. A moeda, num sentido mais lato, como qualquer mercadoria está também sujeita à lei de Oferta e Procura. Significa que o seu valor depende da sua quantidade no mercado. A abundância de moeda tem como consequência a perda de valor unitário; pelo contrário, a escassez, aumenta-lhe esse valor. Por outro lado, a moeda tem a particularidade de só poder ser produzida por uma única entidade. Atualmente, no caso da União Europeia, compete ao Banco Central Europeu, que mais não é que um Cartel dos grandes Bancos Privados Europeus, a emissão do Euro em exclusivo. Anteriormente cada País emitia a sua própria moeda e fazia-o de acordo com as suas necessidades. O monopólio da moeda dá a quem a produz um poder extraordinário sobre a Sociedade. Permite manipular a Economia em função dos interesses do Cartel Bancário, os quais não são obviamente coincidentes com o bem geral de um Povo, embora certos políticos e economistas procurem escamotear esse facto. Esse poder de manobra torna-se mais facilitado quando o dinheiro em circulação, como o Euro, tem uma origem extranacional. Tal como o agricultor que, para manter um preço expectável da sua produção, provoca uma aparente escassez, queimando uma parte dela, o Cartel Bancário controla a emissão de moeda e a taxa de referência de modo a garantir que o valor unitário da mesma não se deteriore. Permita inclusive, pela escassez, gerar a necessidade de Crédito. É aqui que se entronca toda a problemática da Dívida Soberana os Estados.

Portugal, embora tenha potencialidades, raramente teve uma Economia sustentável, pelo que a sua Balança Comercial foi quase sempre deficitária. A contrastar com o nível de vida baixo da população, as Elites, quer a monárquica, quer a republicana, não se coibiam de "viver à grande e à francesa"... como aliás ainda acontece. As Dívidas Soberanas antigas tiveram sobretudo origem nesse facto. No livro "Portugal na Bancarrota - Cinco séculos de História da Dívida Soberana Portuguesa", de Jorge Nascimento Rodrigues, citando o historiador Adriano Vasco Rodrigues, podemos ler o seguinte: "Das Flandres exportavam-se para Portugal pergaminhos, lanças, chumbo, redes, cordas do Barbante, saleiros de prata, guardanapos, vestuário de linho e veludo, pratos de estanho e de latão, tapeçarias de Arras, pinturas, esculturas e obras de arte, iluminuras, livros impressos, papel de impressão, instrumentos musicais, chapéus eclesiásticos e civis, botas e instrumentos litúrgicos". Grande parte destas importações, como se constata, são bens de luxo, que obviamente não se destinavam ao consumo popular... Claro que esses bens eram pagos com moeda de ouro e prata, em créditos obtidos junto de prestamistas nacionais e estrangeiros. Outra conclusão, é o facto do nosso País ter sido sempre pobre em manufaturas para consumo próprio e exportação Tal parece-nos devido à fraca iniciativa do Capital Nacional, mais propenso ao Comércio que à Indústria...

Com a perda das colónias, a Globalização dos mercados, o advento da Produção em Escala e a adesão ao Euro, a Economia portuguesa ficou ainda mais vulnerável e a sua Balança Comercial, tendencialmente deficitária, agravou-se, aumentando a dependência de importações e logo de crédito para pagar as mesmas, tal como no passado, pelo que vivemos sobretudo uma penúria de moeda.

A Dívida Pública Bruta de 2012 e 2013, segundo dados da Pordata, ultrapassou a fasquia mítica dos 200 mil milhões de Euros. O ano de 2013 deverá fechar nos 220 mil milhões de Euros. A este ritmo, e com uma Economia a crescer às décimas de centésimas, não nos espantará que no final do presente ano aquela dívida esteja próximo dos 260 mil milhões de Euros. Ora para quem acreditava que a Troika iria pôr um travão na Divida Soberana, até porque o seu programa se chama Programa de Resgate Financeiro, bem pode "tirar o cavalo da chuva"... Pior é que toda essa dinheirama não é para o investimento público, mas para pagar dívidas vencidas, serviço da dívida, défices das parcerias público privadas, rendas e o "diabo a quatro"... Daí que haja quem diga que "as dívidas não são para pagar, mas para gerir". O ex- Primeiro-ministro José Sócrates apenas esqueceu-se de dizer, ou não se esqueceu... que as dívidas são para ir pagando com os rendimentos do Trabalho. Eis porque a Austeridade é para continuar.

 

Artur Rosa Teixeira

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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