Nasrallah: Encontro abrigo em Alá, contra o mal apedrejado

Sua Eminência Sayyed Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah

Encontro abrigo em Alá, contra o mal apedrejado. Em nome de Alá, o Clemente, o Misericordioso. A paz esteja com o Selo dos Profetas, nosso Mestre e Profeta Abi Al Qassem Mohammad. Com Sua casa casta e pura. Com Seus companheiros escolhidos e com todos os mensageiros e profetas.

A paz esteja com vocês, com a misericórdia e as bênçãos de Alá.

Dias atrás, quando me preparava para um discurso televisionado, lembrei-me de que há semanas não me reúno com vocês. Nessa minha fala, abordarei alguns assuntos locais, além de lançar um olhar geral sobre a situação na região. Mas, sem dúvida, o desenvolvimento mais sério que teve lugar na região - o início de guerra de agressão contra o Iêmen - vai dominar essa minha fala, dado que dominou as preocupações políticas da região e do mundo. Por isso, abordarei muito brevemente os assuntos internos locais, tratando de dois pontos, antes de passar para o desenvolvimento mais recente que exige que tomismo posição e especifiquemos as responsabilidades. 

Agressão contra o Iêmen

Desnecessário repetir que todos os libaneses, todas as libanesas, e todos os homens e mulheres do mundo tem de declarar sua posição sobre evento de tal magnitude, como é a agressão contra o Iêmen. No Líbano, nossa posição surgiu tarde, também. Não queremos que ninguém nos culpe por manifestar nossa posição, dizendo que o Líbano tolera ou não tolera nossa posição. 
De fato, eu estava trabalhando no meu discurso, já quase meia-noite, ao mesmo tempo em que assistia ao noticiário, quando, por acaso, ouvi a primeira notícia, no canal Al-Arabiya, sobre o início da agressão contra o Iêmen. Era meia-noite. Imediatamente já começaram a surgir opiniões e posicionamentos, uns depois de outros. Não se passara nem uma hora, e lá estava o primeiro-ministro do Líbano, Saad Hariri falando e comentando e apoiando a agressão saudita. Até condenou os iemenitas e disse que a ação dos sauditas seria resultado de uma intervenção iraniana, dentre outras coisas.

Bem, no Líbano, como em outras partes, todos tiveram chance de falar e tomar posição. Tomar posição é direito de todos. Uns apoiam, outros se opõem. Uns a favor, outros contra. Não há nisso problema algum. E nós temos o nosso direito de expressar a nossa postura e nossa visão, que é diferente da visão dos outros. (...) Espero apenas que esta nova discórdia, bem como esta nova divisão política, sobre este desenvolvimento no Golfo, não venha a causar tensão no Líbano ou ter repercussões no nível do governo. Verdade é que o governo deve levar em consideração as diversas tendências libanesas e visões sobre esta questão, para garantir que ele arrastará o país para ainda maior conflagração ou influencie a situação de modo geral [fala de questões internas do Líbano].

De modo especial, peço que as massas da Resistência tenham paciência, tolerem e não deem atenção às vozes da discórdia. Porque o objetivo delas é reviver provocação e sedição sectária e entre facções, e aquelas vozes não têm lugar entre nós, mas em atmosfera de sedição, divisões rígidas e conflitos internacionais. Não queremos o que eles querem. Agora, precisamos só ter paciência e deixar passar a atual onda de provocações.

Acusações contra o Irão e Hezbollah

Sem dúvida, o vácuo presidencial é prejudicial para o Líbano, e é muito importante que se realizem eleições presidenciais. A única coisa que me preocupa é que já se ouvem acusações contra o Irã e, consequentemente, contra o Hezbollah. O Irã está sendo acusado de tumultuar e tornar impossíveis as eleições presidenciais no Líbano. Quanto a isso, só digo a vocês que o Irã não interferiu antes nem jamais interferirá em eleições presidenciais no Líbano.

Franceses fizeram contato com os iranianos e irritaram demais os iranianos. Os iranianos informaram o governo libanês e disseram aos franceses que se trata de assunto interno libanês, e que o Irã não vetaria nenhuma personalidade libanesa para ocupar a cadeira presidencial. Para que vocês fiquem informados, o Irã não nomeou ninguém, não recusou ninguém nem discutiu nome algum. Portanto, o Irã nada tem a ver com 'impossibilitar' as eleições no Líbano. Hoje, temos de dizer as coisas como as coisas são. O lado responsável por paralisar o processo das eleições é muito conhecido na mídia, nos bastidores, e nos círculos políticos, e por todos os libaneses. É um estado bem definido e conhecido cujo nome já direi, daqui a pouco. Esse estado é que 'veta' os candidatos mais naturais, mais lógicos, mais fortes, mais capazes de construir o equilíbrio e a estabilidade no Líbano, nome que contra com o maior apoio entre os cristão e tem popularidade nacional.

O estado que está impedindo as eleições é o Reino da Arábia Saudita, mais precisamente, o chanceler saudita, Saud Al Faisal. Não digo novidade alguma: todos sabem disso. Eu deduzo, pessoalmente, que a liderança do Movimento Futuro não se oporia a esse candidato. Nas discussões, ou no fundo de suas convicções pessoais, o chefe do Movimento Futuro não se oporá a essa escolha. Mas o problema no Líbano é que há um estado que veta qualquer bom presidente para o Líbano.

Arábia Saudita trabalha para prejudicar eleições

Se todos sabem que a Arábia Saudita está trabalhando para prejudicar as eleições presidenciais no Líbano, por que tanto empenho em acusar o Irã, numa questão eleitoral libanesa, com a qual o Irã nada tem a ver? Nós é que decidimos, elegemos, escolhemos. Nem amigos nem inimigos, ninguém nos diz o que fazer. Primeiro, tomem o poder para decidir em suas próprias mãos, sem dar qualquer atenção a veto ou não veto, aqui ou acolá. Com isso, o dilema das eleições presidenciais no Líbano pode andar para o final natural e lógico. Só precisava fazer esses comentários sobre esses dois pontos dos assuntos libaneses. Passo então a tratar do outro e crucial novo desenvolvimento.

Era meia-noite, quando ouvi a notícia sobre a Arábia Saudita, que iniciara guerra contra o Iêmen, comraids e bombardeios aéreos. Depois se disse que 10 ou mais países apoiaram o ataque, que se formara uma coalizão, e que a coisa recebera o nome de "Tempestade de firmeza".

Falemos primeiro de emoções. Depois, falaremos de política. Desde aquele primeiro momento e até agora, quando acompanho as notícias e comentários, uma pergunta não me sai da cabeça, e acho que muitos estão fazendo a mesma pergunta: O que terá acontecido, que causou essa "tempestade de firmeza" em que o regime saudita e seus aliados estão envolvidos? Vê-se muita firmeza árabe, galhardia árabe, valentia árabe, heroísmo árabe, determinação árabe - que Alá seja louvado! Tudo isso se vê. Mas é doloroso que, desde 1948 e por décadas e décadas, o povo da Palestina e os povos dos países próximos da Palestina tanto sofremos sem parar, porque aqui existe a entidade "israelense" na Palestina. Mas não recebemos nenhum sopro de "Tempestade de firmeza", nem um ventinho de firmeza, que fosse! Quanto sonhamos com uma brisa árabe que nos ajudasse. Infelizmente, não veio.

Pois bem, se o problema é pedir ajuda para o povo palestino, há décadas os palestinos pedem e continuam pedindo. No Líbano, em 1982, o povo libanês apelou aos árabes para que nos ajudassem. Não ajudaram e nós perdemos a esperança em você. Em 2006, eu mesmo lhes disse que não queremos nada deles, que nos deixassem em paz. Mas o povo palestino muito pediu e ainda pede ajuda! Na guerra mais recente, quando Gaza foi atacada por Israel durante 51 dias, e as casas de milhares de moradores de Gaza foram bombardeadas e demolidas, e mulheres e crianças foram massacradas. Do outro lado há muçulmanos, também, são sunitas, mas sou obrigado a reagir. E os palestinos clamavam por reis árabes, príncipes e líderes árabes. Pois os sauditas não deram um passo!

Então, de onde brotaria tanta resolução, zelo, coragem, bravura e firmeza árabes, a ponto de os sauditas decidirem atacar o Iêmen? Esse ataque saudita é ao mesmo tempo surpreendente e doloroso. Certamente é algo de mais fundamental, importante e crítico do que qualquer coisa que tenha acontecido em nossa região em décadas. Quanta coisa aconteceu em nossa região, em matéria de guerras e opressões e violência, e nada, antes, exigiu que os sauditas se mobilizassem militarmente com tanta tempestade e firmeza... O que aconteceu que exigiu tudo o que se viu acontecer no Iêmen? É preciso pensar. 

Por quê Arábia Saudita não ajudou os Palestinos?

Se o objetivo fosse salvar os iemenitas, então por que os sauditas teriam deixado o povo palestino sofrer durante décadas, sem qualquer movimento? Pois se os sauditas até conspiraram contra os palestinos, distorceram palavras dos palestinos, falharam com os palestinos e os venderam aos "israelenses" e americanos!

Em segundo lugar, se o objetivo é restaurar a autoridade legítima que, dizem os sauditas, é representada por Abed Rabbu Mansour e seu governo, então por que nunca fizeram nem um mínimo esforço para restaurar o que é mais importante para que haja autoridade, a saber, a terra da Palestina e a santidades da nação palestina e o Kiblah para os muçulmanos?

Em terceiro lugar, os sauditas estão dizendo que a nova situação no Iêmen ameaça a segurança dos sauditas, a segurança do Golfo e a segurança da Arábia Saudita. Mas a situação é ainda muito recente e possibilidades e recursos ainda não são claros; ainda não se formaram completamente. Os sauditas dizem que pressentiram o perigo e tomaram a iniciativa e lançaram essa agressão contra o Iêmen.

Como é possível que os sauditas tenham 'pressentido' o perigo que viria do Iêmen, mas jamais pressentiram perigo algum que vem de "Israel", que tem um dos mais poderosos exércitos do mundo e ali está, junto dos portos, das fronteiras, dos mares e dos oceanos sauditas? 

Árabes e muçulmanos! Aí está mais uma prova de que, aos olhos desses árabes sauditas, "Israel" não é nem jamais foi inimigo ou ameaça que exigisse esse tipo de 'tempestade', assim tão rápida e violenta.

Pelo sim, pelo não, é preciso discutir os pretextos deles. Na verdade, é minha responsabilidade interpretar esta questão, para encerrar nossa discussão com uma tomada de posição e um chamamento. Examinemos os pretextos.

Justificativas ou pretextos?

São justificativas? Ou não passam de pretextos? São razão suficiente para que os sauditas se atirem à guerra mais feroz e destrutiva? Neste momento, casas estão sendo demolidas, a infraestrutura está sendo destruída. Mulheres e crianças - civis - estão sendo mortos. Há alguma necessidade disso? Razão para isso? Essas são perguntas que têm de ser propostas pelos grupos religiosos que ainda insistem em dar uma dimensão legítima a essa guerra. Que pretextos apareceram até agora, para a agressão contra o Iêmen e contra o povo do Iêmen?

Em princípio, são três pretextos. Deixarei o principal pretexto para o fim, porque exige comentário mais demorado.

O primeiro pretexto é que, na opinião dos sauditas, há um presidente eleito. Mesmo que o homem tenha renunciado, depois cancelou a renúncia, embora seu mandato tivesse sido encerrado, nos termos da Iniciativa do Golfo. Mas, sim, não discutamos o aspecto da legalidade. Vamos supor que não há problema legítimo. Suponhamos que ele não renunciou e o mandato dele não foi dado por encerrado. Suponhamos que há ali um presidente absolutamente legal, que pede ajuda aos sauditas: ajudem-me a me restaurar como presidente e a restaurar o meu gabinete, para assumir o poder no país. O pretexto, aí, é esse. Mas... é pretexto suficiente para iniciar uma guerra contra o Iêmen?

O que intriga é que, no passado, os sauditas jamais fizeram algo semelhante. Por exemplo, não invadiram nem fizeram guerra alguma, quando o povo tunisino se levantou contra Zein Al Aabideen Bin Ali, que fugiu para a Arábia Saudita e continua até hoje sob patrocínio saudita. Naquela época, o rei saudita ficou furioso. O rei, e todo o governo da Arábia Saudita tiveram posições muito duras e contundentes contra a revolução do povo tunisino. Até tentaram restaurar o presidente Zein Al Bin Ali Aabideen, mas fracassaram ante a firme decisão e a vontade da Tunísia. Mas nem assim constituíram 'coalizão' alguma, ou alguma aliança árabe e internacional, ou pediram ajuda para fazer guerra contra o povo tunisino para restaurar o presidente e o governo legítimos.

Arábia Saudita com posições antagônicas

Dou só mais um exemplo. Todos conhecemos a posição do Reino da Arábia Saudita, quando da revolução do povo egípcio, que derrubou o presidente Hosni Mubarak. Foi posição muito fortemente antagônica. Posição ostensivamente antagônica. Dizia-se também que estaria havendo uma 'briga' entre os sauditas e os norte-americanos, porque os sauditas estavam achando que os americanos estavam 'moles', que talvez até fossem cúmplices dos golpistas militares. E os sauditas viraram o mundo de cabeça para baixo, tentando ajudar Hosni Mubarak.

O Egito é o vizinho e é muito importante para os sauditas. Mas nem por isso os sauditas formaram uma coalizão internacional, nem pediram qualquer ajuda para invadir o Egito e derrotar os rebeldes e reinstalar no poder o presidente que, para os sauditas, seria legítimo. Os sauditas não fizeram nada disso. 

Por que, então, o reino saudita mudou completamente seu modo de agir, quando a questão foi o Iêmen?

A resposta é simples: não é nada disso; tudo, aí, não passa de pretexto, falso pretexto. Um pretexto que não convence ninguém. Foi uma das mentiras criadas para iniciar a guerra.

Nossa pergunta, pois, continua sem resposta. Por que essa agressão dos sauditas ao Iêmen? Se queriam restaurar o presidente legítimo, teriam de começar pelas sanções, pressões políticas, pressões financeiras e pressões econômicas; poderiam ter convocado para diálogos, servindo-se de todas as suas amizades e inimizades pelo mundo. Só no último estágio, se fosse o caso, se poderia cogitar de guerra. Qual é o segredo por trás desta ação militar estranha, estranhíssima e surpreendente e de tal magnitude?

Posso dizer a vocês que nada tem a ver com restaurar presidente ou governo no Iêmen. Há muito mais coisas aí, do que se vê.

O segundo pretexto é que a nova situação no Iêmen ameaça a segurança da Arábia Saudita, a segurança dos Estados do Golfo, e a segurança do Mar Vermelho. Para evitar as muitas palavras, daqui em diante direi "a nova situação no Iêmen". Para mim, aqui, "a nova situação no Iêmen" significa a revolução popular vitoriosa liderada pelo Movimento Ansarullah, com a cooperação e a assistência do Exército iemenita e de vários grupos da população iemenita, seções e tribos, independentemente de tendências e seitas.

Essa é a nova situação. E a nova situação no Iêmen será realmente ameaçadora para os sauditas? Que provas vocês têm, sauditas, para apresentar aos muçulmanos, aos povos islâmicos, aos estudiosos e aos muftis que lhes dão seus pareceres legais e autorizam a agir de um ou de outro modo? Onde está a prova decisiva de que a nova situação no Iêmen ameaça o Reino da Arábia Saudita? Vocês, sauditas, já estão fazendo guerra, o sangue já corre pelas ruas. E se os sauditas estiverem matando gente apenas porque queriam que prestassem contas a eles, sauditas, antes de dar qualquer passo, nesse caso os sauditas estão agindo com desumanidade - e desumanidade nada tem a ver com o Islã. Talvez essa seja a religião de George Bush, que pede contas às pessoas, ou não, conforme lhe apraza. Onde estão as provas de que a nova situação no Iêmen estaria ameaçando a Arábia Saudita e os Estados do Golfo? Não há prova nenhuma.

Grandes problemas internos no Iêmen

Além do mais, todo mundo sabe que os problemas internos no Iêmen são grandes. Há problemas de segurança, o "ISIL", a Al-Qaeda, problemas relacionados com partidos e regiões, além de problemas que têm a ver com desenvolvimento, economia, sociedade, sobrevivência da população, finanças e política, bem como com a reconstrução do regime e a elaboração de uma nova Constituição. Isso significa que o país tem de estar unido. Que o povo iemenita e as forças políticas no Iêmen têm muito trabalho, para, pelo menos, 20, 30 anos. Sabe-se quais são as capacidades militares iemenitas. Na verdade, quem mais bem conhece as capacidades militares do Iêmen são os próprios sauditas.

Pois bem. E o Iêmen fez algo que sugira alguma ameaça à segurança da Arábia Saudita ou à segurança do Golfo? O que sei, e não sei se circulou ou não na mídia, é que alguns ramos do Movimento Ansarullah tinham contatos com o Reino da Arábia Saudita, Qatar e países do Golfo. Houve contatos e negociações. Na verdade, na véspera da morte do rei Abdullah bin Abdul-Aziz, uma delegação do Movimento Ansarullah estava em Riad. Eles conheceram e se reuniram com a inteligência saudita.

O rei morreu e veio uma nova autoridade. Contatos foram rompidos. Há quem diga que eles estão prontos para o diálogo político. Tentaram um diálogo político em Sanaa - não aceitaram ir a Aden -, aceitaram ir para Muscat. Por que não quiseram, os sauditas, ir conversar em Muscat? A prioridade do movimento iemenita é o Iêmen. Eles estão prontos para ter contatos e realizar um diálogo político sobre o futuro do Iêmen em Muscat ou de qualquer estado neutro. O movimento iemenita nada fez contra os sauditas. Não tiveram nenhuma iniciativa de ataque ou de guerra contra os sauditas. Não declararam guerra aos sauditas.

Pelo contrário, os iemenitas sempre trataram os sauditas com boa vontade. Estão dizendo que o que passa no Iêmen, quanto à ameaça do "ISIL" e Al-Qaeda prejudica tanto o povo do Iêmen, quanto prejudica os irmãos sauditas. O que fizeram os iemenitas, para que os sauditas lhes declarassem guerra, decidissem que eles são ameaça à segurança da Arábia Saudita, do Golfo, do estreito de Bab el Mandeb, do Mar Vermelho e o que mais for?! 

Já se vê que esse também é pretexto fraco e sem fundamento. Espero que todos que me ouvem ponham de lado suas convicções locais, regionais, partidárias, de seita, todo o fanatismo, e que todos se dediquem a tentar entender o que está acontecendo. Aqui lhes ofereço fatos, uns divulgados, outros não. Quando qualquer homem neste mundo quer apoiar uma guerra ou aprovar esta guerra, ele se torna parceiro também na guerra e na culpa da guerra, no Juízo Final. Digo-o, para todos os muçulmanos que querem mante limpa a própria consciência.

Por tudo isso, é preciso analisar os feitos dos sauditas. Não é que a Arábia Saudita toma uma decisão, e todos os muçulmanos ficam obrigados a segui-la! Por que essa decisão? Contra quem a decisão foi tomada? Se tivesse sido tomada contra "Israel", todos nos apresentaríamos, rápidos, para sermos soldados nessa batalha. Mas, não! A Arábia Saudita faz guerra contra um povo árabe muçulmano. Todos devem sentar-se e refletir muito antes de pronunciar palavra sobre o que os sauditas terão de explicar no Juízo Final. Nesse mundo, homem algum tem poder para exigir explicações de outro homem.

O terceiro pretexto, que é o mais importante, também é logicamente débil. Adiante, direi a vocês qual a verdadeira razão por trás dessa guerra.

O terceiro pretexto que é o mais repetido pela Arábia Saudita, no Golfo, dos meios de comunicação de massa árabes e em todos os veículos financiados pela Arábia Saudita e seus aliados, é que o Iêmen teria sido ocupado pelo Irã. Por isso, os sauditas teriam declarado guerra ao Iêmen. O problema seria a hegemonia iraniana sobre o Iêmen. A intervenção iraniana no Iêmen. O Iêmen tornou-se Irã, virou iraniano.
O Iêmen é país árabe, e os sauditas teriam a missão de restaurá-lo. É parte da Península Árabe (embora os sauditas jamais tenham aceitado o Iêmen como membro do Conselho de Cooperação do Golfo, porque veem o Iêmen como estado de segunda classe). Os iranianos são pobres, e que seria mais um fardo. Seja como for, é preciso salvar o Iêmen da ocupação iraniana, da hegemonia iraniana e do controle iraniano. 

Focar em toda a região

Aí está uma das maiores mentiras que os sauditas trabalham para difundir mediante feroz ataque de mídia - mais poderoso do que o ataque militar.

Também aqui é preciso falar com calma e de forma lógica. A partir daqui, de fato, vou ampliar meu foco sobre toda a região, antes de voltar para o Iêmen - com o que encerrarei essa fala de hoje. Mas... onde está a prova de que o Iêmen estaria ocupado pelo Irã? Ocupação é evento de muitas faces, mas o aspecto mais importante e de destaque, para que haja ocupação, seria a presença de forças iranianas de ocupação, para ocuparem o Iêmen. Por exemplo, se houver bases militares iranianas num país, pode-se considerar as acusações de que o Irã estaria ocupando este país. Há tropas iranianas no Iêmen? Há bases militares iranianas no Iêmen? O Irã esta realmente ocupando militarmente o Iêmen? Aí está. É só mais uma das mentiras muito evidentes, que nem se precisa discutir muito. 
Bem, os sauditas podem dizer que não se trata de ocupação no sentido militar da palavra; que há a hegemonia iraniana e controle iraniano sobre o Iêmen. OK, aí está um ponto a discutir, não só por causa do Iêmen, mas porque esse ponto ajuda a compreender o está ocorrendo em nossa região. 
Permitam-me apresentar aqui um problema essencial que está na mente do regime saudita e os que estão com eles. Há um problema que nada tem a ver com reconhecer o "povo" - povo tunisino, povo egípcio, povo do Iêmen e até mesmo as pessoas do Golfo, o povo saudita, o povo iraquiano, movimentos de povos, o desejo dos povos e as causas pelas quais os povos lutam. 
Pode acontecer de os reis, os governantes poderosos, olharem para as pessoas como seus súditos; e súdito é gente que não tem vontade independente, nem causa independente nem identidade independente. Se os súditos um dia revoltam-se, a única explicação possível, para déspotas como os sauditas, tem de ser buscada nos grandes eixos de oposição na luta regional ou internacional. E aí está o problema essencial.
Por isso os sauditas agiram como agiram na questão da Tunísia e na questão do Egito. E desde o início, os sauditas lidam como se vê com o Iêmen, a Líbia, o Iraque e a Síria. 
E a que levam esse conceito e essa mentalidade? Só levam a posturas incorretas, políticas incorretas e, consequentemente, a resultados não satisfatórios. E os fracassos se acumulam.
Consideremos um exemplo: a política externa saudita a partir de 20 ou 30 anos atrás, até nossos dias. Não quero discutir assuntos internos; consideremos só a diplomacia saudita. Alguém poderia citar um sucesso, uma realização bem-sucedida dos sauditas? Não há. Só se veem fracassos, aí também. Neste contexto tampouco há sucessos, só falhas. Por quê? Porque o fracasso é o resultado das políticas erradas. Políticas erradas são resultado da leitura errada dos acontecimentos. Leitura errada dos acontecimentos é produto de uma mente que pensa de forma viciosa, errada, que tem convicções erradas.
Em princípio, essas políticas condutas e incorretas estão deixando a Arábia Saudita aberta e exposta ao Irã, mesmo que o Irã não se esforce muito. Sejamos francos. Vocês, sauditas, estão jogando os países nos braços do Irã. Digo e comprovo. O problema são vocês, sauditas, não o Irã. O problema está no fracasso saudita, na forma mental dos sauditas, no modo saudita de governar, no modo saudita de pensar, no modo de evoluir, de conduzir-se, de reinar e de compreender. [Continua] 

 

(Transcrições e tradução ao francês de Sayed Hassan)

 

 

Discurso do dia 27/3/2015, al-Ahed News (ing.) Parte 1/2
http://www.english.alahednews.com.lb/essaydetails.php?eid=29009&cid=562#.VSbdJ9zF8j3

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey