Komila Nakova, ex-KGB, desvenda segredos do conflito Rússia-Ucrânia

por Fernando Soares Campos

A russa Komila Nakova, ex-KGB, atualmente faturando no ramo de investigação particular, expert em casos de infidelidade conjugal, e Steve Lahnella, positivo e operante agente da CIA, estão na cama de um quarto de resort de luxo, numa praia do Mar Negro, com vista eterna para a Baía Gokova. Antes de partirem para o bem-bom, trocam impressões sobre a guerra Rússia-Ucrânia e o Resto do Mundo. 

Komila estava decidida a arrancar do gringo informações importantes, dessas que podem lhe render uma boa grana no mercado de colaborações para as agências de espionagem.

‒ O que você sabe sobre essa guerra na Europa? Quer dizer, lá onde os ventos europeus fazem a curva... Qual o verdadeiro motivo desse confronto? ‒ Quis saber Komila.

Steve Lahnella, por um instante, fitou a ex-KGB.  

‒ Para ser sincero, Nakova, não sei praticamente nada sobre o que está realmente motivando essa guerra. E, se soubesse, não poderia lhe contar...

Komila levantou-se, pegou sua blusa e começou a se vestir.

‒ Pra onde você vai?! ‒ perguntou Steve quase gritando, temendo perder aquela oportunidade de faturar a deslumbrante cossaca.

‒ Pra onde vou? Ora, vou à luta, vou buscar uma fonte mais bem informada. Não vou dar de graça a um agente tosco, desatualizado...

‒ Quem você acha que vai lhe dar essa informação?

‒ Boto fé em Big Cock. Se o negão não souber, mas, com ele, vou ter, pelo menos, maior prazer. Ele não é um bananinha qualquer, como alguns com quem eu já Steve... ‒ Steve não notou o trocadilho.

‒ Volte aqui, Nakova! Apesar da minha ignorância sobre esse conflito, eu tenho, sim, algumas informações relevantes, muito interessantes.

‒ Tá bem, vou lhe dar uma chance. 

Komila voltou para a cama, mas não tirou a calcinha, o que só faria se o agente ianque lhe contasse alguma coisa importante sobre a guerra dos cossacos russos contra os cossacos de fora.

Steve colocou a mão sobre a barriga de Komila, como se quisesse impedi-la de se levantar novamente, e soltou a língua:

‒ Você sabe que eu fui encarregado de monitorar o Coiso brasileiro em sua viagem à Rússia...

-- Sei.

‒ Pois bem, o Coiso entrou nessa apenas como joguete do Biden, sob orientação do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Estrategicamente, Biden está tentando manter a Rússia longe da América do Sul, precisamente bem longe da Venezuela.

‒ Estratégia?! Como assim?

‒ A ideia é manter a Rússia ocupada com a sua vizinhança, visto que isso impediria, ou em muito dificultaria, o apoio da Rússia à Venezuela, caso os Estados Unidos decidam invadir aquele país. Agora motivado...

‒ Motivado? Como assim? 

‒ Ora, Nakova, se ligue! Quando se fala em ingerência dos Estados Unidos na América Latina, o que isso lhe faz lembrar?

‒ Você está se referindo à Doutrina Monroe? América para os americanos?

‒ É por aí. 

‒ Tudo bem, mas, até aqui, você não contou nenhuma novidade.

‒ Sim, até aqui, não; mas garanto que, depois de ouvir o que tenho a dizer, você vai reconhecer que conquistei o direito a usufruir a... perseguida.

‒ Veremos. Continue...

Steve não pretendia ficar na mão, num toque-toque solitário. Tratou, então, de dizer o que sabia:

‒ Para os Estados Unidos invadirem a Venezuela, estudos do Pentágono concluíram que precisamos do apoio de praticamente toda a América do Sul e parte dos caribenhos. Sabemos que já não contamos com o apoio da maioria dos países sul-americanos. Mas, quanto ao Brasil e a Colômbia, desses não se espera apenas a concordância.

‒ O que mais precisam?

‒ Precisam que esses países botem a mão na massa. 

‒ Você quer dizer derramar o sangue de jovens brasileiros e colombianos. É isso?

‒ É por aí...

‒ E quanto aos jovens norte-americanos.

‒ Bem, na verdade, aqueles que Washington pretende mandar pra essa guerra são os milhares de latinos que sonham com a cidadania americana. Pronto, falei. Agora, chega pra cá!

Apesar de convencida da importância daquilo que o agente da CIA lhe contou, Komila tentava se safar da prometida transa.

‒ Ainda não sei se essas suas informações são tão relevantes como você pretende que sejam.

‒ Não sabe?! Como assim, Nakova?! Há pouco, quando lhe falei que não sabia quase nada dessa guerra, você me chamou de tosco e desatualizado. Agora me responda ‒ olhando nos olhos da maravilhosa cossaca, perguntou: ‒ como se chama quem não sabe avaliar a importância de uma informação dessas?

Komila não respondeu e, com um sorriso contido, bochecha puxando os cantos dos lábios para cima, começou a tirar a calcinha.

(*)Fernando Soares Campos é escritor, autor de "Saudades do Apocalipse - 8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018; e "Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo", Grafmarques, Maceió, AL, 2022.

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