Conversas em torno de um Catena Zapata

Periodicamente me reúno com o Dr. Franklin Cunha em seu bunker debruçado sobre o Guaíba, para um balanço dos últimos acontecimentos, sempre inspirado por muitos goles de um malbec  Catena Zapata que um amigo correntino lhe fornece periodicamente.

Aliás, os vinhos Catena Zapata e Jose Luiz Borges, são para o Franklin, as duas mais importantes instituições argentinas e o pouco que sobrou da devastação provocada pela ditadura militar.

Falamos, basicamente, sempre sobre os mesmos assuntos - depois de alguma idade, a gente vai excluindo o supérfluo - política e literatura, já que outros temas que me interessam  - futebol e cinema  - não fazem parte do cardápio atual do Franklin, que tem dois graves defeitos: é gremista e não gosta de sair de casa para ir ao cinema.

Essa semana,  lamentamos o novo espetáculo de indignidade explicita dos deputados em Brasília. De alguns, dos quais não esperávamos nada  -como diria o Barão de itararé - não saiu realmente nada, mas do Fogaça, por uma razão qualquer, o Franklin tinha alguma esperança.

- Afinal, ele já escreveu letras para algumas músicas interessantes ( Vento negro, campo afora vai correr. Quem vai embora tem que saber. É viração) e quando se candidatou a senador, o Luís Fernando disse que ia votar nele.

É, mas o Fogaça não aproveitou a oportunidade para se recuperar.

Lembramos outra vez a importância  de se continuar lendo Zizek,  da necessidade de lembrar ao Airton, ao Luiz Octávio, ao Lantieri e ao Mareu , de que aquela ideia de revivermos a Liga Espartaquista , da Rosa Luxemburgo, precisa ser retomada.

E finalmente, nos dedicamos a falar mal do governo de Israel, com o apoio dos nossos escritores judeus preferidos - Naum Chomsky, Judite Butler, Sholomo  Sand e Norman Finkelstein.

Nessa hora, o Franklin, fecha as janelas e desliga os telefones, porque, embora não se considere nenhum pouco paranóico,  acha que com o Mossad, todo o cuidado é pouco.

Dependendo do Franklin nossos encontros em torno de um Catena Zapata nunca vão ter fim, porque como membro da Academia Rio Grandense de Letras, ele tem a imortalidade garantida. Eu como simples morta, tenho prazo de validade se esgotando e por isso preciso aproveitar. 

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey