Foi do nada e de repente o mundo ficou mais bonito. As mazelas da Guerra do Vietnã sendo denunciadas e combatidas. Todos contra todo tipo de guerra e o poder da flor (Flower Power) enfrentando e intimidando os caretas e mudando conceitos e opiniões. Homens não podiam usar roupa colorida e de repente mudou e eles ficaram mais coloridos que o arco-íris com tons primários, secundários e terciários. As paredes perdiam seu cinzento. As sensações se expandiam. Os gays tinham direito a gestos, atitudes e palavras. As mulheres mostravam sua força.
Jolivaldo Freitas
Era o ano de 1968 e eu na Bahia, berço do Brasil, com minha camisa pintada (tie dye), calça listrada de branco, verde e vermelho, bolsa de couro que eu mesmo fiz e pintei, minha sandália de sola de pneu, meus cabelos quase crespos (Black Power) e a vontade de pegar a estrada, sem lenço e sem documento. Sair de casa. Levar a paz. Buscar a paz. Aqueles momentos que todos que têm ou tinham 15 anos de idade sabem o que significa.
O movimento hippie tinha sido deflagrado sem nenhuma organização, nem mando, sem liderança, algo casual na Califórnia um ano antes. Seus slogans foram sendo criados espontaneamente e mudando a cultura mundial gradualmente; chocando, levando à discussão, ao enfrentamento da burguesia, do aparato policial, do mundo Orweliana. A Guerra do Vietnã matando jovens norte-americanos. A primeira guerra que passava ao vivo e a cores na televisão. E daí veio o verão do amor. E ele chegou um tanto atrasado no Brasil, mas ganhou o coração de boa parte dos jovens que se identificavam com a bandeira do Peace and Love.
O Movimento Hippie (não procure etimologia da palavra, pois já tentaram dizer que significa algo ou alguém (hip), ou roupa amarrada na cintura e quem sabe é derivação de happy, sendo o que mais se aproxima, pois, a filosofia hippie era a felicidade neste plano terrestre ou num astral. Felicidade era a essência do movimento que há 50 anos, no mês de junho, veio lá do bairro Haight-Ashbury na cidade de São Francisco, onde quase 600 mil foram para o Vietnã e milhares ficaram por lá. Os hippies buscavam a paz em todos os sentidos e se posicionavam contra a sociedade de consumo. Os primeiros a valorizar a natureza, o meio-ambiente, a pregar a igualdade de sexos, a respeitar as diferenças, buscar os valores da espiritualidade, pregar o amor livre.
A revolução se caracteriza pelo "ninguém é de ninguém". Ninguém era dono ou imperava sobre o outro. A arte era nova, era psicodélica, baseada em percepções extra-sensoriais, com muita cor, antecipação do sentido tridimensional, telas em movimento. Não à religião cristã. Sim às experiências sensoriais e corpóreas que levavam ao nirvana. Ao domínio da consciência. Um viva ao hedonismo. Os hippies nos Estados Unidos escorraçados pela polícia e os filhos expulsos de casa pelos pais. No Brasil tempo de Tropicalismo e ditadura militar. Na Bahia a perseguição implacável da polícia do secretário Joalbo Figueiredo, de Segurança Pública, que prendia e cortava os cabelos com máquina zero. Tempo de Arembepe. De ler Sidarta. Tempo do Make Love, Not War. Eram outros tempos. Perdemos.
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