Conciliando o inconciliável

Conciliando o inconciliável

Outro dia, fui numa reunião de velhos amigos de esquerda e estavam todos embevecidos com as posições do Papa, que chamavam carinhosamente de Chico.

Fiquei pensando em como ele tem um enorme talento para o marketing político.

Ninguém como o Francisco tem sido tão habilidoso na condução da sua igreja frente aos problemas maiores da humanidade. Pena que ele não abandone nunca este jogo de faz de conta. Não tivesse o atual emprego de Papa, argentino  Jorge Mario Bergoglio bem que podia se candidatar a marqueteiro de nossos políticos.

Em declarações publicada nos jornais do mundo inteiro ele disse: "Deus criou os humanos e permitiu que se desenvolvessem segundo leis internas que deu a cada um". Os jornais viram na declaração uma afirmação que sustenta que a evolução é compatível com Criação. A menos que tenha havido um novo problema de tradução, como naquela história da aceitação do homossexualismo , quando o tal apoio ao casamento de gays não era bem assim, a nova declaração do Papa não tem nada a ver com a evolução das espécies.

A teoria darwinista, a grosso modo, diz que a evolução das espécies começa com a primitiva ameba até terminar com o ser humano. Se o Papa tivesse dito que Deus criou a ameba, ainda teria alguma lógica, mas tendo criado o homem e não a ameba primitiva, Ele teria feito a sua intervenção quando o processo estava quase finalizado.

Tentar conciliar o inconciliável pode dar manchete simpática nos jornais, mas não ajuda em nada à razão científica.

Tinha mais lógica um velho professor da Faculdade de Filosofia da URGS, quando, para não atropelar a ciência que ele ensinava, dizia que o homem tinha sofrido todo um processo de evolução e quando ele chegara ao estado atual, Deus tinha lhe presenteado com uma alma imortal.

 Para o Bergoglio o que importa é estar em evidência, chamando a atenção para as práticas da sua igreja. Com isso, ele vai espalhando prestígio pelo mundo inteiro nessa época de comunicação instantânea.  Nota dez, como divulgador da Igreja Católica Apostólica Romana.

Essa não foi a primeira grande jogada dele. Há alguns meses atrás, ele conseguiu juntar os presidentes da Autoridade Palestina e de Israel para plantarem a "Árvore da Paz" nos jardins do Vaticano. Ganhou manchetes no mundo inteiro, De prático, nada. Os israelenses continuaram tomando as terras dos palestinos e contra isso, não se ouviu nenhuma palavra do Papa.

Outra especialidade dele é dar palpites sobre futebol, porque sabe que nenhum assunto interessa mais as pessoas no mundo inteiro do que este jogo. Para os argentinos, junto com o tango e o assado de tiras, o futebol é a sua grande paixão. Então, Bergoglio dá palpites sobre os jogos e diz que tem até um clube do coração, o San Lorenzo.

Outra jogada de mestre na área do marketing. Como na Argentina, ou você é Boca ou é River, o Papa não quer se comprometer. Ele é San Lorenzo.  Ninguém é contra o San Lorenzo.

Quando o Brizola foi governador do Estado, para não desagradar a colorados e gremistas, ele dizia que torcia para o Renner.  Ora, aqui no Rio Grande, só se torce para Inter ou grêmio.  Renner, São José, Nacional ou Força e Luz são ou eram na maioria dos citados, times pelos quais se tinha alguma simpatia, mas dos quais, ninguém era torcedor.  Por uma questão de justiça, vamos dizer que algumas pessoas em Pelotas torcem realmente pelo Brasil.

O Papa faz o mesmo. Diz que é San Lorenzo e fica bem com o xeneizes (torcedores do Boca) e os milionários ( torcedores do River).

Estão dizendo agora que, indiretamente, através da CNBB, ele mandou apoiar a greve do último dia 28, no Brasil.

Quem sabe ele sai de cima do muro, deixe de falar por metáforas e apóie o Lula?

O mais provável, porém, como mestre no marketing político que é, o Papa Chico, não abra tão cedo o seu jogo.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey