É fato e já não é de hoje que o Brasil e o mundo reverenciam a pluralidade dos dons, dotes e talentos caipiracicabanos - isto nos vários segmentos das atividades humanas.
Quem viveu a alegria da efervescência artístico-cultural piracicabana no final dos anos 70 e início dos anos 80 sabe muito bem a importância dos encontros musicais e das pensatas tantas na Rua do Porto; aquele doce recanto rústico outrora somente habitado por ribeirinhos da Noiva da Colina.
Por Paulo de Tarso Porrelli
Em meio aos trabalhos do também saudoso Elias dos Bonecos Livres e às famílias de pescadores, Marinho Castellar e sua trupe denominada 'Banda Disritmia' cantarolavam toadas, violavam cantigas e bradavam folks, pop-rocks, clássicos do samba e MPB, passeando pela world music sob a britânica influência dos Beatles; tudo com ares e cores duma peculiaridade ingenuamente universal.
Os anos eram de chumbo, mas os pensamentos libertários de Marinho Castellar demarcavam aquele eufórico tempo-espaço com letras épicas e arranjos desconcertantes. O intrépido Marinho Castellar foi pai da cabeça musical de muita gente Piracicaba afora. Seu 'LP' "Ovo", cujo acetado de cor amarela inovou a produção fonográfica independente no Brasil, ganhou a cena cult internacional.
Agora, mesmo que a todo instante sejamos tomados de assalto pelo mau uso das tecnologias num universo multimídia para lá de mercantilista e de 'redes sociais' vãs, entusiastas como o produtor cultural Nordahl Christian Neptune acertam em cheio quando nos trazem à memória a eternidade de obras como a de Marinho Castellar. E o Nordahl bravamente reunirá no SESC Piracicaba, na noite do próximo 24 de setembro, músicos contemporâneos de Marinho Castellar - num justo tributo; 25 anos depois da morte desse grande artista da nossa querida terra-mãe.
O legado poético-musical de Marinho Castellar ajuda-nos a entender melhor a linha do tempo das civilizações. Aliás, seria enfadonho contar a História sem a existência da música. É certo que não devemos olhar a vida pelo retrovisor, sobretudo quando as imagens que se sucedem aos nossos olhos são, por vezes, desalentadoras.
Contudo não dá para olhar para frente sem lembrar de seres vívidos que frutificaram e se perpetuaram pelo viés das artes neste Planeta tão conturbado, como o fez o bom combatente Marinho Castellar. O show "Tributo a Marinho Castellar - Fera Livre Ato Novo" é uma atitude justa e legítima, em nome da posteridade.
Viva Marinho Castellar!
Paulo de Tarso Porrelli é jornalista e diretor presidente da Educativa FM - a rádio que pensa.
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter