A história da imprensa no Brasil é pródiga por agir em duas direções: por um lado, no conluio do aparato de Estado com os meios de comunicação a serviço da burguesia, e por outro, a extrema repressão, desses mesmos agentes, aos instrumentos de divulgação e formação da classe trabalhadora.
Milton Pinheiro[1]
O Partido Comunista Brasileiro mesmo com a extrema perseguição política e a ilegalidade a que esteve submetido por longos períodos da sua história, sempre teve jornais semanais e até mesmo diários, assim como revistas de circulação nacional. Outras organizações, já no término da ditadura burgo-militar de 1964, também construíram experiências de jornais alternativos para lutar pelos interesses dos trabalhadores na transição para o Estado de direito. Mas, a esquerda brasileira não avançou para ter um jornal de ampla circulação que unificasse os interesses da nossa classe.
Há dez anos surgia o Brasil de Fato, em 25 de janeiro de 2003. Hoje, esse instrumento unitário dos movimentos populares está fazendo aniversário. Trata-se de um espaço onde os trabalhadores, os diversos movimentos sociais e as lutas mais sentidas do povo brasileiro encontram a divulgação merecida. Os fatos do Brasil e do mundo são apresentados pela ótica da nossa classe, levando-se em conta a verdade, que é sempre revolucionária.
Essa forma comprometida de fazer a imprensa popular se consolidou no trabalho realizado pelo Brasil de Fato. Neste espaço plural da esquerda brasileira, encontramos o combate ao aparato burguês, e a informação básica para alimentar os lutadores sociais no seu caminhar pela trilha do acirramento da luta de classes. Esse jornal apresenta uma proposta contra-hegemônica, que procura contribuir com os trabalhadores na construção de outra sociabilidade humana.
Em um país historicamente marcado pelo déficit democrático, cujas raízes remontam o escravismo, à política racista como regulação social e o patrimonialismo como gestão de Estado, a caminhada dos trabalhadores é revestida de enorme esforço. A luta pela terra, a defesa do meio ambiente, a manifestação da cultura popular, o apoio irrestrito aos trabalhadores em seus confrontos e a defesa de uma educação emancipadora, encontram no espaço democrático do Brasil de Fato a repercussão que a luta precisa para prosseguir.
Queremos contribuir para que esse instrumento da imprensa popular seja um semanal que se transforme numa representação da frente de esquerda, tendo como horizonte próximo o projeto de tornar-se um jornal diário, para responder a necessidade da nossa classe de enfrentar a ideologia do capital, em um país onde a burguesia controla de forma violenta os meios de comunicação, contando com a leniência dos governos.
Esse projeto vigoroso de tornar-se diário será efetivado a partir da participação das forças políticas e sociais, da crítica fraterna e construtiva à linha editorial, possibilitando ao jornal encontrar a linha política mais conseqüente, que abrirá o caminho mais justo para representar o conjunto de forças que no Brasil luta pela transformação social de caráter anticapitalista, na perspectiva do socialismo.
Neste momento de comemoração, um registro se faz relevante: enviamos uma saudação fraterna e convicta ao coletivo de homens e mulheres, profissionais e militantes que, com a sua dedicação revolucionária, constroem esse instrumento da classe trabalhadora, que com acertos e, até mesmo, com problemas se mantém no destacamento de apoio as vanguardas em luta por todo o Brasil. Afinal, são dez anos de muitas batalhas de uma guerra em movimento. É dessa experiência de imprensa popular que as massas trabalhadoras necessitam, para fazer, com a sua agitação e propaganda, a pauta da luta social avançar por todos os rincões do país, ajudando a formar o "povo filosófico".
Agora uma nova fase se apresenta para o Brasil de Fato. Precisamos avançar nas diversas frentes que, por ora, foram abertas pelo jornal. Consolidar uma linha editorial com profunda independência de classe, abrir espaços políticos nas diversas organizações da esquerda revolucionária brasileira, e ser um formador coletivo com capacidade real de contribuir para a direção moral e intelectual dos trabalhadores na sociedade brasileira.
Esse projeto, essa luta, esse compromisso faz do Brasil de Fato um jornal ao lado da nossa classe. Que a luta continue... Agora, mais forte do que antes.
[1] Milton Pinheiro é professor de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), editor da revista Novos Temas e membro do CC do PCB.
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