Por ANTONIO CARLOS LACERDA
Correspondente Internacional
PARIS/FRANÇA (PRAVDA.RU) - A historiadora, escritora e arqueóloga francesa Fred Vargas acaba de colocar sob suspeita o processo que condenou o ativista italiano Cesare Battisti à prisão perpétua por assassinatos na Itália.
Segunda a historiadora, folhas assinadas em branco pelo ex-ativista foram usadas para forjar documentos, o que é negado pelo procurador do caso, Armando Spataro. Fred Vargas afirma que três procurações teriam sido fabricadas durante o auto-exílio de Battisti para permitir que ele fosse representado em seus julgamentos.
Na denúncia, Fred Vargas diz que Battisti teria deixado ao ex-companheiro de guerrilha Pietro Mutti, líder do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), folhas em branco assinadas em outubro de 1981 para serem usadas na eventualidade de um processo judicial.
Esses papéis assinados em branco, segundo a historiadora francesa, teriam sido usados pelo procurador do caso, Armando Spataro, e pelos ex-advogados de Battisti, Guiseppe Pelazza e Gabrieli Fuga, para forjar procurações que viriam a ser usadas nos julgamentos, em 1982 e em 1990.
Para fraudar os documentos, a historiadora diz que Armando Spataro, Guiseppe Pelazza e Gabrieli Fuga teriam usado uma procuração anterior, escrita de próprio punho por Battisti em 1979 e reconhecida como legítima por todas as partes.
Com base nas três novas procurações, o ex-guerrilheiro pôde ser levado a julgamento na Itália, onde a legislação diz que um preso pode ser julgado, mesmo ausente, desde que tenha nomeado representantes legais.
Na ocasião do julgamento, segundo Fred Vargas, Cesare Battisti vivia no México, sem contato com familiares e amigos na Europa e não sabia que estava sendo julgado na Itália.
Nas cópias dos documentos obtidas pela escritora - célebre na França por seus romances policiais -, Battisti dá direitos a Pelazza e a Fuga para representá-lo. O que surpreende é a semelhança dos textos e das letras. Em oito linhas, sempre terminadas pelas mesmas palavras, as cartas mostram termos e escritas quase idênticas, apenas com espaços maiores ou menores.
A sobreposição dos documentos mostra palavras em posições distintas, mas grafias que, segundo Fred Vargas, foram copiadas uma a uma no intuito de simular a letra de Battisti.
Contratada pela escritora, a grafologista Evelyne Marganne, perita do Tribunal de Recursos de Paris, analisou as assinaturas de Battisti nos documentos e também levantou dúvidas sobre a autenticidade dos documentos.
Segundo seu laudo, a mesma pessoa assinou todos os documentos, mas os números das datas que constam nas cartas não são originais.
"Sobrepondo os dois documentos e observando-os contra a luz, qualquer pessoa vê que são o mesmo documento. Seria até divertido, se não fosse grave", diz Fred Vargas. Além disso, as assinaturas seriam autênticas, mas feitas no mesmo momento, e não com o intervalo de oito anos.
O procurador Armando Spataro - hoje coordenador de Contraterrorismo em Milão, na Itália - negou as acusações de Fred Vargas, dizendo que "São absolutamente falsas. É uma história antiga que surge de tempos em tempos, sempre que aparecem discussões públicas sobre Battisti."
Cesare Battisti está preso no Brasil por ordem do Supremo Tribunal Federal. Ano passado, no apagar das luzes do seu mandato como presidente da República do Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou o pedido de extradição de Battisti feito pela Itália.
A decisão do governo brasileiro gerou um conflito diplomático entre Brasil e Itália, o que vem retardando a libertação de Battisti. O caso agora está nas mãos dos ministros do Supremo Tribunal Federal que dêem dar a decisão final sobre o caso Cesare Battisti.
ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.RU no Brasil. E-mail:- [email protected]
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