Próximo ao centro histórico da Cidade do México se ergue imponente uma estrutura de 65 metros de altura feita de pedra e mineral originário do país. No início pensado para ser o palácio legislativo do governo de Porfírio Diaz vigente por 35 anos o prédio mais tarde se transformou em depósito dos restos mortais de quatro heróis da Revolução Mexicana: Francisco I Madero, Venustiano Carranza, Plutarco Elias Calles e Francisco Villa. O Monumento à Revolução, finalizado em 1938, se converteu então em um grande símbolo iconográfico da luta armada.
Outros exemplos como esse podem ser vistos pelo México, comprovando que, por meio da arte, os heróis mexicanos se transformaram em ícones. O escritor José Vasconcelos, renomado ministro da Educação em 1921, impulsionou esse fenômeno levando a arte para as ruas. O que se percebia era que, além de uma revolução social, era preciso uma revolução cultural, em que a arte e a literatura estivessem ao alcance do povo. Desde que assumiu o cargo de ministro, Vasconcelos fez com que grandes artistas tivessem acesso aos muros dos edifícios públicos, criando assim o Movimento Muralista, datado do princípio do século XX. Assim era inaugurada a era Modernista, quando artistas se comunicavam com um público de gostos homogêneos afirma o artista Felipe Ehrenberg.
Durante as décadas seguintes, artistas como Diego Rivera, Jose Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros transformaram paredes públicas em grandes telas, onde foram reproduzidos os principais momentos históricos da revolução.
No mural intitulado Do Porifiriato à Revolução, que se encontra no Museu Nacional de História da Cidade do México, Siqueiros contrapõe a ditadura de Porfírio Dias ao movimento revolucionário de forma inovadora. No início, o artista quis usar somente um terço do espaço, mas mudou de ideia e percebeu que precisava criar uma grande pintura documental sobre o grande movimento social e político mexicano do século XX.
Do Porifiriato à Revolução é o primeiro mural em superfície plana que compõe uma unidade sem solução de continuidade. Em um dos ângulos da parte central, a obra mostra um grupo de camponeses vestidos com mantas e sombreiros, enquanto seguram fuzis e cartucheiras ao redor dos dorsos. Pode-se distinguir os rostos de alguns dos líderes revolucionários, como Emiliano Zapata, Francisco I Madeiro e Venustiano Carranza, entre a multidão.
Em outro ângulo, a pintura expõe um grupo de mulheres com o rosto doente. Perto, Porfírio Diaz assume a pose de quem controla o destino do país, rodeado por assessores que adulam o homem com sombreiro e luvas de seda. Próximo, mulheres exibindo sinuosas curvas em vestidos franceses, jovens Marias Antonietas alheias ao que acontecia na sociedade mexicana naquela época.
A pintura sempre refletiu os movimentos sociais. Os artistas que se sensibilizam com as grandes rupturas históricas se sentem totalmente influenciados por essa forma na hora de criar, assinala Moisés Rosas, diretor do Museu de Estanquillo da Cidade do México.
É uma forma de refletir o que somos como povo e nos entendermos, afirma Leo Mendoza, roteirista de cinema.
Nos murais, os artistas mexicanos mostraram a ousadia dos revolucionários, os abusos da classe governante e a interpretação visual da história da revolução. Pela primeira vez o povo teve acesso à arte e se viu refletido nas paredes de prédios públicos. Saltamos de uma pintura afrancesada para uma totalmente realista, de denúncia, que fala do aparecimento das massas na sociedade explica Rosas.
Além de ser afrancesada, a arte colonialista copiava paisagens; os elementos principais eram a vegetação e a natureza, deixando de fora individuo e sociedade. O surgimento do movimento armado no México deu início à uma arte onde a sociedade passou a ser preponderante.
Diego Rivera
A corrente tradicional do paisagismo evoluiu para o muralismo, que se viu diretamente refletido em gerações de pintores. O paisagista José Maria Velasco, por exemplo, foi mestre do pintor conhecido como Dr Atl e este por sua vez, ensinou Siqueiros e Jose Clemente Orozco que revolucionaram a pintura do país. Outro grande muralista influenciado pela revolução foi Diego Rivera, que após estudar na França, viajou ao México em 1920 para unir-se ao movimento artístico em desenvolvimento.
As artes se encarregam de expressar o que o imaginário popular odeia e ama afirma Ehrenberg. Assim o fez Rivera, que criou pinturas cheias de significado para o mexicano. Ele pintou diversos muros no Ministério de Educação Pública e imprimiu imagens de banhistas, tecelãs e lavadeiras em afrescos. Rivera dirigia o sindicato revolucionário de operários, técnicos, pintores e escultores, cujo lema era o artista vestirá um macacão, subirá no andaime, trabalhará em equipe, reafirmará seu oficio, tomará partido na luta de classes.
Na pintura do mexicano, a revolução e a arte foram unificados, o que faria com que sua obra transcendesse e chegasse a ser a mais celebrada no México. Entre seus murais sobre a revolução, estão os da Universidade Autônoma de Chapingo, intitulado A Divisão de Terras e O Sangue dos Mártires Revolucionários Fertilizando a Terra.
Opera Mundi
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