Chuva será acima da média até dezembro
A população do Grande ABC pode começar a se preparar para enfrentar os temporais de fim de ano, típicos de fim de primavera e início de verão. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Meteorologia, ligado ao Ministério da Agricultura, a região metropolitana de São Paulo terá chuva acima da média até o fim do ano, com chances de se estender até o fim da estação.
A partir de novembro, a precipitação deve superar pelo menos em 10% os 154 milímetros previstos. Até então, o volume esperado para dezembro é o maior e também deve ultrapassar a máxima de 229 milímetros.Os cálculos para todo o verão começarão a ser concluídos a partir do mês que vem. O motivo da tendência, segundo meteorologistas, é, entre outros fenômenos, a intensificação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, que acontece todos os anos e consiste na junção de ventos úmidos vindos da Bacia Amazônica e do Litoral em direção à Região Sudeste.
O encontro dessa umidade com o ar quente acumulado sobre o Estado é o que potencializa os temporais. Essas ilhas de calor se formam especialmente onde há elevado grau de urbanização e grandes concentrações de gases na atmosfera. A situação é agravada pela falta de solo vegetado para absorver o volume de água. Com poucas opções de escoamento, o excesso precipita e causa alagamentos. Em questão de dias é impossível se recuperar dos estragos para receber novas chuvas com capacidade suficiente de vazão.
A cada ano, esse encontro da umidade com o calor acontece em áreas diferentes da Região Sudeste. "O contraste é acentuado, esse choque chama o desenvolvimento de tempestades. Em áreas construídas esse calor passa direto para a atmosfera e serve de combustível para ocorrência de tempestades. Como não há planejamento urbano e as cidades cresceram de forma desordenada, é preciso investir em infraestrutura para minimizar os estragos, porque a tendência é piorar", explicou o meteorologista do Inmet Franco Villela.
Segundo ele, a atividade humana agravou o problema dos alagamentos a partir da ocupação irregular. "Mas não podemos culpar só o homem. Temos conhecimento para evitar a piora, mas falta investimento." Neste ano, segundo o órgão, o fenômeno deve se intensificar entre o Sul de Minas Gerais e a região metropolitana do Estado de São Paulo.
Os sinais da convergência poderão ser notados com as instabilidades climáticas que começarão a aparecer em meados de novembro e se estenderão até dezembro. É possível ter até cinco dias nublados com predominância de chuva. O auge, segundo informou o Climatempo, deve ocorrer em janeiro, quando a intensidade das tempestades deve crescer.
Intensidade tem aumentado nos últimos anos
Apesar de o gráfico do Grande ABC apontar aumento no índice pluviométrico de 2008 para 2009, meteorologistas de três órgãos consultados pelo Diário garantem que não tem chovido mais nos últimos anos. O que há, segundo eles, é maior intensidade da chuva, agravada pelas altas temperaturas do verão. Em 2009, a ocorrência de chuva contínua e acima da média durante o outono e o inverno fez a diferença nos índices. Nesta época do ano, o tempo é mais seco e a média mensal geralmente não ultrapassa os 50 milímetros.
Já em relação aos estragos causados nos últimos verões, especialistas minimizam o volume de água acumulado e alertam quanto à dimensão do problema. "A alta temperatura faz com que haja mais evaporação, as nuvens ficam mais profundas e ocasionam chuvas mais intensas. Sem dúvida isso foi agravado e acelerado pela atividade humana. A temperatura média do planeta está aumentando ano a ano", alertou o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Gilvan Sampaio.
A constante emissão de gases tóxicos por indústrias, fábricas, termoelétricas e veículos automotores tem forte influência na alta da temperatura global. O pesquisador defende o uso de energias renováveis para evitar o agravamento da situação, como solar, eaólica ou das marés.
HISTÓRIA
Para alguns especialistas, o problema é mais antigo do que se pensa. Considerando o relevo do Estado, grande parte dos moradores se instalava no topo dos morros. O problema é que, com os passar dos anos, as moradias irregulares tomaram conta das partes mais baixas. "A paisagem era a mesma. Tínhamos uma conformação do relevo, as baixadas eram naturalmente inundadas e exatamente por isso não eram ocupadas. Hoje é natural que tenhamos de conviver com as inundações por causa da pressão urbana. Os índios já sabiam do problema e só ocupavam o alto. Ou seja, os ditos 'incivilizados' tinham mais conhecimento do que nós, que hoje dispomos de tecnologia para combater o problema", avaliou o professor de Geologia da Universidade de São Paulo, Paulo Boggiani.
Grande ABC está na rota das tempestades de verão
Os fenômenos La Niña, as ilhas de calor situadas sobre o Estado e a localização das cidades colaboram para que a região fique na rota dos temporais de fim de tarde, típicos da estação mais quente do ano.
O ar frio e úmido que sobe em direção ao planalto a partir da Serra do Mar se encontra com o ar quente predominante sobre o Estado. Com a convergência dos ventos vindos da Amazônia, o resultado são as chuvas fortes. Já o La Niña tem como característica a redução da temperatura das águas do Oceano Pacífico. Esse fenômeno altera a circulação das correntes atmosféricas, que provocam a mudança no clima global. O fenônemo é instável e deve interferir nas mudanças climáticas a partir do fim do ano.
No verão deste ano, foram despejados 390 milhões de litros de chuva nas sete cidades. A média do volume de água acumulada em janeiro foi de 464 milímetros. Com essa quantidade seria possível encher cerca de156 piscinas de 25 x 50 metros.
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Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
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