Passados 65 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, chamada pelos russos de grande Guerra Patriótica, diversas perguntas devem ser feitas pelos historiadores. Uma delas se refere ao papel das mulheres na resistência a ocupação Nazista da pátria soviética. No ocidente, por causa da manipulação política da indústria cultural, que edita, e distribui a produção cientifica e artística sobre a Segunda Guerra, o esforço russo em deter a barbárie Nazifascista é escamoteado, o papel das mulheres em todos os setores da resistência nem sequer é citado.
Na realidade há uma campanha quase que cotidiana de certos setores políticos e econômicos do ocidente, cujos conglomerados midiáticos se esforçam para construir uma visão menor, do esforço de guerra soviético, no imaginário coletivo da sociedade. Fazemos referência explícita aos canais de TV History Channel e Discovery Channel, cuja construção histórica-imagética da Segunda Guerra é completamente deturpada por uma narrativa que ainda está contaminada pela demonização da URSS, proveniente das agências de inteligência dos países que compõem a OTAN, com estreita relação com a mídia tradicional e as universidades norte-americana.
Na atualidade há como burlar estes mecanismos de dominação cultural, e ter acesso através da Web, a documentos históricos produzidos na URSS durante a guerra. A neblina que impedia uma visualização mais heterogênea do maior conflito do século XX aos poucos está sendo dissipada. Filmes como: Ela Lutou Pela Pátria (1943), Arco-Íris (1944), As Auroras Nascem Tranqüilas (1972), destacam a disposição das mulheres russas em defender o seu país. Estas películas, principalmente as duas primeiras, realizadas durante a guerra, propiciam ao espectador uma construção da narrativa sobre a situação da mulher na guerra, bem como o seu cotidiano no front e na retaguarda. Estes dois primeiros filmes realizados sob a influência estética e do realismo socialista, possuem uma força imagética documental, no que tange a especificidade feminina no combate aos alemães. Um dos elementos de destaque nesses filmes é o duplo papel da mulher em combater diretamente a Wermartch e SS e dar assistência aos filhos que muitas vezes foram mortos pelas forças de ocupação.
Em Raduga e Ela Lutou pela Pátria, o infanticídio de crianças soviéticas, cometido através da Operação Barbarossa, nos territórios ocupados pelo exército hitlerista foi filmado com detalhes, lembrando inclusive os relatos de alguns correspondentes de guerra soviéticos como Vassily Groosman. Ao estabelecer pontes analíticas entre os relatos de Groosman, e a construção fílmica destes dois filmes as similaridades das narrativas ficam evidentes. Apesar destes dois filmes demonstrarem aspectos da micro-historia da guerra, enfocando aspectos particulares, eles conseguem relacioná-los com estruturas mais amplas relacionadas ao conflito, em especial a política de extermínio do povo soviético empreendida pelos alemães durante a ocupação. Groosman também relaciona perspectivas estruturais mais abrangentes com as situações particulares dos indivíduos que moravam em territórios ocupados, bem como aqueles que foram obrigados a se mudar para não serem exterminados pela ensandecida fúria nazista.
A contemporaneidade para ser compreendida na suas múltiplas facetas requer um aporte historiográfico que deve ser o mais amplo possível. Como a conjuntura mundial é muitas vezes definida pelos fóruns de decisão internacionais criados a partir do termino da Segunda Guerra, as configurações geopolíticas atuais, ainda conservam elementos estruturantes provenientes das conseqüências da Grande Guerra Patriótica. Logo, estes filmes soviéticos que atualmente circulam na Web, e podem ser acessados pelos ocidentais, cumprem o papel de revelar a interpretação soviética do conflito, cuja disseminação na sociedade ocidental foi, e é censurada pela mídia tradicional.
Diogo Carvalho.
Historiador. Mestrando do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade UFBA. Bolsista Capes.
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