Iraque: Um ano após o crime do século

Que a maioria das pessoas no Iraque estão felizes que acabou o governo Ba’ath de Saddam Hussein, não haja dúvida. Que a maioria das pessoas no Iraque não estão felizes com as acções dos norte-americanos, não haja dúvida. Washington não trouxe liberdade para o povo iraquiano, criou antes um vácuo em que os piores elementos entraram, que desestabilizou tão completamente o país, que destruiu a sua sociedade civil. O resultado: um duplo Não-Não a Saddam e a Bush.

George Bush continua a ser uma persona non-grata no Iraque. Rotulado por “Deficiente mental” pelo governo de Saddam, o regime deste homem é responsável pela morte de dez mil civis e a destruição em grande escala das infra-estruturas do país, foi responsável pela obliteração de alvos civis por forças militares, antes de contratos de reconstrução serem arbitrariamente distribuídos, sem sequer a existência de um concurso. Isso não é liberdade, isso não é democracia.

30% da população do Iraque está desempregada. O fornecimento da água e da electricidade ainda está interrompido, tão selvático foi o ataque. Desde quando eras as redes da distribuição da água e da electricidade alvos militares? Antes da invasão, fora dos auspícios da ONU (tornando-a ilegal e fazendo qualquer baixa humana um crime de guerra), os cidadãos iraquianos andavam a noite nas ruas sem temerem pela sua segurança.

Hoje, todos os piores elementos da região entraram no país, seguindo o exemplo de Washington. Já há prostituição nas ruas, já há abuso de drogas, já há roubos, já há assaltos, já há raptos, até de crianças, numa escala nunca antes vista. Washington abriu as portas, os criminosos entraram, aproveitando da Liberdade e Democracia de George Bush.

Milhares de pessoas a volta do mundo puseram as suas vozes onde o povo espanhol colocou seu voto no domingo passado: contra a guerra, contra a campanha militar criminosa que chacinou ou mutilou dezenas de milhares de pessoas – civis – e de propósito.

George Bush nem se atreve a sair dum avião na maioria dos países do mundo e na sua última viagem ao aliado mais próximo, o Reino Unido, fui esforçado a ser o primeiro chefe de estado que visita o Número 10 de Downing Street a fugir pela porta de trás para evitar os manifestantes… resultado da sua Liberdade e Democracia.

Tal foi o ódio expresso pelo povo britânico contra este assassino, que a visita de estado de George Bush foi reduzido a três ruas de Londres e uma viagem-relâmpago ao círculo eleitoral de Blair, muito contestado pela população local. Um belo exemplo do apoio internacional pela Liberdade e Democracia de George Bush.

A Liberdade e Democracia de George Bush não tem apoio dentro do Iraque. A Liberdade e democracia de George Bush não tem apoio fora do Iraque. A Liberdade e Democracia de George Bush dividiu este país em três níveis: religiosa, politica e etnicamente. Não só se vê agora Sunnitas a lutarem com violência contra Shiitas, vê-se hostilidade entre árabes, curdos e turcomenos, onde nenhuma existia antes.

Além disso, o processo contra o partido Ba’ath empreendido por Paul Bremer levou a expulsões em grande escala de pessoas competentes, incluindo professores de faculdade, funcionários públicos, professores de escolas, trazendo o caos para a sociedade iraquiana. Em vez de permitir aos iraquianos a escolha da sua própria constituição, foi imposta sobre eles. Em vez de deixar aos iraquianos a escolha ou não de membros do partido Ba’ath, numa base de quem seria a pessoa mais competente para o cargo, ilegalizaram o partido. Que belo exemplo de democracia. Por estrangeiros, por invasores, pelos assassinos de dez mil pessoas inocentes.

A violência que se instalou no Iraque hoje vai continuar por várias décadas, porque os Estados Unidos da América desestabilizaram tão completamente este país, destruíram o tecido do Estado do Iraque. O legado das mentiras e da beligerância de Bush verá toda a região entrar num caos. A Liberdade e Democracia de Bush não é a mesma Liberdade e Democracia gozados pelos outros.

A Liberdade e Democracia de Bush se traduz em assassínio, crimes de guerra, a atribuição de contratos lucrativos sem concurso (Halliburton), se traduz num acto de irresponsabilidade nunca antes visto. O povo iraquiano nem sequer pode sair à rua, por medo de ser assaltado ou morto, nem sequer pode obter um copo de água por abrir a torneira.

Liberdade e Democracia? Choque, sim. Pavor, de certeza. Um ano depois, só uma pergunta: Onde estão as Armas de Destruição Maciça?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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