Jolivaldo Freitas
Lá se vão 58 anos do golpe militar que pegou o Brasil de surpresa e foi o início de uma ditadura danada. A política no Brasil é coisa para profissionais, pelo que vemos todos os dias. Quem consegue controlar a sanha dos políticos? Interessante é que lendo um livreto de um oficial do Exército, que falava sobre a ação dos militares apenas 60 dias depois do golpe, ele que se autodenominava revolucionária, logo na capa do tomo pergunta se era uma revolução ou uma quartelada.
O autor baiano, Sodré Martins, militar e ativo desde antes das primeiras horas do golpe, estava chateado, por presenciar que os políticos de esquerda tinham sido alijados, mas que os de direita e que buscaram apoiar o ato militar logo nas suas primeiras horas estavam fazendo de tudo para conseguir manter o status quo. Pior é que conseguiam. Os militares precisavam de apoio e faziam vistas grossas para a questão. Isso revoltava os “puristas” dentro das corporações. O tema podia ser visto, por exemplo, nas páginas de uma publicação de título “Gorila”, que circulava nos quartéis. O autor do livreto a que me refiro no início do parágrafo se reportava aos também insatisfeitos colegas os chamados “Jaguares”.
Muitos políticos com menos de dois meses do golpe e depois de perderem o receio de um “paredón” ou perseguição, tinham sido beneficiados com cargos ou continuavam atuando na solapa da mesma forma que vinham antes. Ele se queixava que muitos corruptos que deveriam ter sido punidos estavam agora puxando o saco dos militares e seguindo em frente. E na maior desfaçatez seguiam em frente com seus velhos expedientes. Coisa que já vinha do Império e passando pela Primeira República e por aí seguindo em frente, sem nada e nem ninguém dar jeito. Os políticos aplicando em pleno golpe militar o famoso “jeitinho brasileiro”.
Interessante é que durante muitos anos o golpe foi comemorado nos quartéis e reverenciado pela direita no parlamento, mas parece que a história vem colocando as cores nas devidas paletas e hoje são raros os dinossauros que ainda perpetuam a imagem da “Revolução de 1964”. Para não fugir à regra o presidente Bolsonaro a citou no seu dia histórico – 31 de março. A defendeu, como sempre defende a ditadura militar. Só seus asseclas deram repercussão.
Mas basta dizer que um assunto que também gerava discussão nos velhos tempos entre quem admirador dos militares ou se posicionava contra, era saber se a revolução/golpe aconteceu mesmo no dia 31 de março. Muitos questionavam garantindo que os militares tomaram o poder, destronando o presidente eleito democraticamente, João Goulart, essencialmente um esquerdista, mas que não quer dizer que seria um comunista – um socialista -, no dia 1 do mês seguinte. Os militares não queriam assumir a data real do ato de tomada do poder pela força. Por que o dia primeiro de abril é nada mais e nada menos o “Dia da Mentira”. Não só aqui no Brasil, como na maioria dos países.
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Escritor, jornalista e publicitário. Email: [email protected]
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