Cuidar e ser cuidado pressupõe uma relação de dar e receber amor. O que diferencia os cuidadores são as motivações.
Quando quem cuida tem consciência da grandeza do seu trabalho, o desempenhará com mais leveza que aquele que o exerce apenas como opção rentável.
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A vida está correndo bem dentro de uma família quando de repente um dos membros mais velhos, pai, mãe ou cônjuge começa a apresentar distúrbios comportamentais e sinais de senilidade precoce. Após semanas ou meses de consultas e exames neurológicos chega-se ao temido diagnóstico de Alzheimer ou outra variante de neuropatia de curso progressivo e incapacitante. Está armado então o cenário para uma longa e dramática jornada, de desenrolar e duração imprevisíveis, a ser percorrida por dois atores principais e inseparáveis: o paciente e o cuidador.
E quem cuida do cuidador? Ele foi obrigado a desestruturar e reformular toda sua vida social, profissional e pessoal para se dedicar exclusivamente a seu paciente. A carga é muito pesada e ele precisa de apoio psicológico e se ressente da falta de solidariedade até de dentro da própria família.
A minha sofrida e rica experiência vem do cuidar de meu pai. Ele tem 65 anos e em 2017 foi diagnosticado com demência vascular. A notícia e a explicação do que era uma doença degenerativa me atingiu violentamente, já que ele cuidava de mim e era minha referência de vida.
“De quem é essa casa? Que horas vamos embora? Como vim parar aqui?
A partir de então tive que entender que os papeis se invertiam, cuidar de quem cuidou de mim, passar de filha a mãe de meu pai.
O cuidador tem de fazer renúncias difíceis em sua vida. Quase sempre seu trabalho é solitário e intransferível. Ninguém se dispõe a ajudá-lo. Inevitavelmente essa situação começa a afetar seu equilíbrio emocional. Felizmente para mim, ao criar um grupo de pessoas que partilham da mesma realidade, dividimos nossas experiências e nos confortamos mutualmente. Esse grupo que denominamos Cuidando com Amor, vem crescendo e já conta com a valiosa ajuda voluntária de um psicólogo do Amazonas.
Seguimos com a nossa missão de ficarmos juntos à aqueles que cuidaram de nós no passado e que agora foram atingidos por uma senilidade que os jogam no desamparo físico e mental. No olhar de cada um, confuso e amedrontado podemos intuir a súplica “fique aqui, cuide de mim, não me abandone!”
Cuidaremos deles com paciência, carinho e amor até o dia de sua finitude.
Clécia Rocha
Jornalista
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