Nunca se esteve tão perto da unificação do género humano, nem nunca aquela foi tão necessária; basta manter a globalização e enterrar o capitalismo. É urgente ir criando uma Weltanschauung, uma cosmovisão que enquadre as estratégias e as táticas adequadas.
1 - A globalização tornou obsoletos os estados-nação
A globalização e as novas tecnologias unificam gradualmente os povos, facilitam trocas culturais, criam novas entidades e retiram a relevância à grande maioria dos estados-nação, erigidos a partir do século XVII através de guerras que consolidaram nos respetivos territórios burguesias nacionais ciosas do controlo das suas populações e intratáveis para quem lhes disputasse a respetiva coutada de força de trabalho. Do mesmo modo que os senhores feudais procuravam manter direitos sobre os seus servos ou os donos de escravos procuravam assegurar a posse tranquila daqueles.
No quadro da evolução histórica dos sistemas produtivos importava ao capitalismo aumentar a produtividade reduzindo os custos da submissão da força de trabalho. Para que esse controlo ficasse aceite ou facilitado - e com menor recurso à coerção - utilizaram a escola e o serviço militar para incutir essa coisa historicamente recente, do patriotismo, da exclusão e desconfiança face ao Outro; embora, como nós próprios, o Outro seja de carne e osso, desejando igualmente, a satisfação das mesmas necessidades - paz, pão, liberdade, habitação, saúde, educação e ainda, a pulsão de amar e ser amado.
Hoje, a produção de bens e serviços, através das tecnologias de informação e comunicação tornou-se global, segmentada, distribuída por vários locais, colaborativa e constituída por redes de micro-decisões, tornando desnecessária a função docapitalista, bem como essa construção do capitalismo chamada estado-nação.
Após as transformações decorridas nos últimos cinquenta anos, contam-se pelos dedos os estados-nação, com umasoberania significativa. Mesmo nesses poucos casos, a globalização tornou-os muito vulneráveis a mudanças ocorridas quer dentro, quer fora dos seus espaços nacionais, promotoras, por sua vez, de desigualdades e hierarquias interiormente ou no exterior, com os problemas imensos decorrentes dessa multifacetada interação.
Urge construir uma Humanidade solidária, como matriz de trocas materiais e culturais, consolidar a unificação dos povos, o processo histórico da globalização, o aproveitamento do conhecimento para o bem-estar coletivo. Para isso é essencial mandar pela borda fora o capitalismo e os seus agentes económicos, políticos e ideológicos.
2 - A tríade que atualmente domina
O poder das multinacionais, das suas redes de negócio erguidas com grande dinâmica, destruiu fronteiras e vêm diluindo os estados-nação em organizações feitas à sua medida, ainda que formalmente sejam plurinacionais - FMI, OMC. OCDE, ASEAN, TTP e, porventura o TTIP ou o CETA... Entre elas, no caso dos europeus, merece um relevo particular, a UE com a sua burocracia, claramente dominada por lobbies, gerando em conjunto de fórmulas criativas e antidemocráticas de gestão política, erigindo monstruosos aparelhos de manipulação mediática e de coerção dos povos.
Por outro lado, o sistema financeiro, igualmente globalizado, vem condicionando através do crédito e da dívida, os estados pequenos e médios ou, os que detêm menores indicadores de riqueza ou maior fragilidade política; Utiliza para o efeito as classes políticas respetivas que, para manterem os seus quinhões no saque, transferem os custos dessa pressão para a população, mormente trabalhadores, desempregados, pensionistas e pobres em geral, inviabilizando também pequenas e médias empresas que, para acompanharem a lógica da competitividade ficam entaladas entre a pressão do crédito e a punção fiscal, ambas sempre em crescimento.
Em paralelo, existe uma economia do crime que, alicerçada em tráficos vários, burlas, fugas fiscais e corrupção, possibilita elevadas taxas de rendabilidade; o que a torna muito atrativa. É o sistema financeiro que, transforma esses capitais "sujos", através dos conhecidos offshores, em "investimento" na economia dita real, mormente no imobiliário, na hotelaria e na especulação bolsista que, tanto pode elevar, como baixar, o valor de mercado de títulos de dívida pública e das grandes empresas, fundos e entidades financeiras, seguindo as volúveis opiniões das empresas de rating.
3 - Alguns instrumentos ideológicos de domínio
Em consonância, multinacionais e capital financeiro montaram uma ideologia de consumo que potencia a distância entre as aquisições e as reais necessidades individuais, favorecendo o endividamento que envolve as pessoas numa ânsia demente de comprometimento do futuro para acompanhar a onda de consumo do momento; o que é tanto mais insano quanto, estruturalmente, a precariedade e a incerteza na vida se acentuam. A mesma volúpia é gerada pela ideologia do empreendedorismo e da competição que mantém as empresas pequenas e médias com elevada dependência do asfixiante financiamento bancário e cujos custos transferem, tanto quanto possível, para os seus trabalhadores, precarizados, mal pagos e reprimidos. Replicando, portanto a lógica neoliberal.
A fixação na acumulação de capital faz parte do código genético do capitalismo e, mais concretamente, conduz à acumulação da riqueza numa escassa minoria de seres humanos; a sua irracionalidade pode observar-se sob vários ângulos. Produz uma rápida e descuidada deterioração das condições de vida no planeta; as políticas de precarização do trabalho e de baixo salário reduzem as capacidades de consumo da grande maioria e traduzem-se num baixo crescimento do sacrossanto PIB (imagine-se!); promove um endividamento global, impagável, cujo volume é o triplo do PIB global; foca-se nos lucros obtidos na esfera financeira a que chamam "investimento"; e inclui habilidades estatísticas criativas como a consideração dos gastos militares como investimento ou a inclusão dum cálculo das receitas da prostituição para que o PIB possa crescer nos dados do Eurostat e ainda, a recente anomalia irlandesa referida pelo seu próprio governo.
No contexto ideológico consolidou-se um discurso que se traduz na perpetuação da situação de crise para justificar uma austeridade sem fim, em paralelo com uma optimista e constante afirmação da sua próxima superação - um suplício que faz lembrar Tântalo. Para isso, joga um papel essencial o pensamento único, expresso nos grandes meios de comunicação, mormente as cadeias de televisão, através de comentadores, propagandistas próximos da classe política, contratados pelos grupos económicos que controlam os media.
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