Mais dois filmes brasileiros em Berlim

Quase na última hora, surgiram mais dois filmes brasileiros no 65. Festival Internacional  de Cinema de Berlim: Beira-Mar, de Felipe Matzembacher e Márcio Reolon; e Brasil S/A, de Marcelo Pedroso. Ambos participarão da mostra paralela Forum, onde há 43 filmes.

Rui Martins

Embora o Brasil tenha um filme na competição internacional de curtas metragens (Mar de Fogo de Joel Pizzini – http://correiodobrasil.com.br/destaque-do-dia/festival-de-berlim-cade-o-brasil/747386/), o cinema português ficou fora de todas competições, mas participa também da mostra Forum com um filme documentário de Joaquim Pinto, premiado há dois anos em Locarno, com Nuno Leonel, sobre a pesca nos Açores – Rabo de Peixe.

Beira-Mar estréia em Berlim

Beira-Mar é uma das principais promessas da novíssima geração do cinema gaúcho: os diretores são Filipe Matzembacher, 27 anos, e Márcio Reolon, 30 anos, da Avante, produtora atuante tanto na produção de filmes quanto na realização de mostras e debates (os festivais Close e Diálogo de Cinema, por exemplo). Eles contam, em seu primeiro longa, a história de dois jovens (Mateus Almada e Maurício José Barcellos) que passam um fim-de-semana na frente da praia em pleno inverno, para resolver problemas de família, e acabam ficando numa casa envidraçada à beira de um mar frio e revolto. Ali, deparam-se com situações e decisões muito mais maduras do que esperavam encontrar. O filme segue na linha de pesquisa dos realizadores – o cinema jovem e de temática. Foi rodado em julho passado nas cidades de Capão da Canoa, Osório e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Sobre a escolha da locação, os diretores complementam: “Outro importante ponto para nós, enquanto realizadores, foi desenvolver uma narrativa que explorasse um lado do Brasil quase nunca abordado, distante do imaginário global sobre o país. Uma região fria, com pessoas mais apáticas e ambientes urbanos mais desertos. A revelação de um outro lado da diversidade nacional foi muito importante para nós.”

Brasil S/A  sem diálogos

Brasil S/A  com o título de Sonho Brasileiro, em inglês, é o primeiro longa metragem do cineasta pernambucano Marcelo Pedroso, de 35 anos, formado em jornalismo. O filme Brasil S.A. ganhou como o melhor longa, no Festival de Brasília e ainda levou outros premios, como roteiro, som e trilha sonora.

O filme conta, sem nenhum diálogo mas apenas sons, como um ex-cortador de cana fica sem emprego com a chegada das máquinas e migra para a cidade. O filme começa com a chegada de tratores e cortadoras, vindos da China, que desembarcam no porto e assinalam a fase do desenvolvimento tecnológico e do capitalismo predador contemporâneo, devastando a paisagem e criando a cidade.

O cineasta Marcelo Pedroso é filho de professores dos quais recebeu uma boa  formação política, tendo diversos engajamentos sociais, desde o diretório acadêmico na Universidade Federal de Pernambuco. Seu filme se inspira do ocorrido no Brasil nos últimos tempos.

Pescadores nos Açores

Rabo de Peixe , filme documentário dos realizadores portugueses  Joaquim Pinto, 66 anos, e Nuno Leonel, 45 anos, trata de pescadores dos Açores.

Joaquim Pinto recebeu o Premio Especial do Júri, do Festival de Locarno, em 2013, com o filme E Agora? Lembra-me.

Rabo de Peixe pergunta até quando se conseguirá proteger as águas dos Açores? Foi filmado na Ilha de São Miguel, Açores, onde a população sofre, involuntariamente, os efeitos devastadores da quebra de pescado no Oceano Atlântico.

Pedro, a personagem central do documentário, encontra-se no centro desse dilema. Protagonista de uma actividade duríssima, a pesca do espadarte, ele insiste em continuar contra ventos e marés. O filme vai ao encontro do homem e da sua família, num ciclo completo.

Rui Martins, correspondente em Genebra, estará do 5 ao 15 em Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.

Foto: Joaquim Pinto

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