Cidadão inteiro e íntegro, preferiste sempre a afirmação das convicções, a polémica em nome dos teus valores e princípios, a recusa da mediocridade, do obscurantismo, dos consensos pantanosos e do politicamente correcto. Estiveste sempre, na tua obra literária e na tua vida, do lado dos humilhados e ofendidos, dos que não têm poder e não têm voz, e cuja libertação é sinónimo de mais democracia. Por debaixo do teu pessimismo antropológico, nunca abdicaste da tua revolta activa contra o mal no mundo, nem do sonho e da utopia emancipadoras.
Comunista, revolucionário, radical (no sentido verdadeiro de procurares sempre a raiz das coisas), solidário, corajoso e irreverente, combateste a alienação e o preconceito, recusaste o espírito de seita ou de facção, a ortodoxia cristalizada ou o fechamento ao diálogo crítico e leal com os outros.
Ajudaste-nos na compreensão de que a morte é parte da vida, que quando nascemos começamos a morrer e que cabe a cada um de nós aproveitar e justificar bem o tempo único que temos.
Vais fazer-nos falta. Criador, indignado, frontal e crítico, inteiro na tua humanidade insubmissa. Amaste e viveste plenamente. Bem hajas pelo testemunho da tua vida e pelo legado cultural e cívico que nos deixas, agora património da nossa caminhada comum. Aproveitaste bem a tua circunstância e o tempo da tua vida. Que melhor homenagem? De quantos de nós poderá ser dito o mesmo?
Aqui ficam, como modesto tributo ao português cidadão do mundo José Saramago, um extracto duma entrevista em que nos fala da Democracia e Luís Pastor cantando um poema seu:
http://oqueficadoquepassa.wordpress.com/
Henrique SousaSubscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter