Cada cidade perdida pelos vários cantos do Brasil tem seus homens e sua história. Aqui, ali e acolá, eles estão lá, parte da glória, pedaço da memória. Muitos, dando continuidade, outros, guardando os cacos, fazendo o mosaico de histórias vivas, quase sempre esquecidas. Assim as cidades se reinventam, renascem. Assim, nem tudo se perde no girar das horas.
Sempre por aí, buscando os vários brasis que se entrelaçam e formam um só, saio colhendo histórias aqui e ali, na busca incessante dos pequenos pedaços que nos fazem tanto, muito, gigantesco em suas generosas miudezas.
No sul, ao sul de Santa Catarina, encontro no topo da serra a altitude dos sonhos primeiros dos tropeiros, aqueles que deixaram a calmaria do mar para encontrar nas alturas a boa-venturança de colher e plantar. Quem me conduz o olhar é o guia Zanette, tropeiro que subiu a serra e se encantou pelo céu aberto sem planos e sem medidas da Serra Catarinense. Em São Joaquim, me apresenta a cidade que cabe inteirinha em seu escritório, pedaço por pedaço, beleza por beleza, recorte por recorte. Assim fica bem mais fácil saber o porque de São Joaquim ser o grande orgulho nacional, a cidade da neve, do frio, das maças, das uvas, e de tantas outras coisas mais...
Nascido em Criciúma, criado no meio das tropas, Zanette é patrimônio material e imaterial de São Joaquim, agricultor de sonhos que planta nos corações dos visitantes a semente da fruta do amor pela cidade, essa terra que o céu, todo ano, quer tocar e deixa pedaços de nuvens de saudade em suas ruas, nos telhados de suas casas, nas esquinas dos corações. Todo mês de julho é assim, me diz Zanette mirando o infinito, quando a tarde caia preguiçosa no horizonte infindo.
De lá vim tocado pelas coisas da cidade que hoje estão aqui comigo, nas páginas da minha memória e dos jornais em que dela falei, em que dela relatei os melhores pedaços. Lá bebi vinho, comi maças, tomei banho de cachoeira e fui feliz, fui brasileiro, tendo por orientação suas preciosas palavras.
Viver é mais, é ser parte do todo, buscar por ele. São Joaquim agora é paisagem, memória, um baú de saborosas lembranças.
Que a cidade de São Joaquim reconheça o valor daqueles que a fazem, daqueles que a representam e dê ao guia Zanette um pouco do que ele entrega, diariamente, a todos que visitam São Joaquim, sem nunca pedir algo em troca. Para um povo que sabe plantar e colher, é hora de semear aos quatro ventos o carinho que ele tem com aqueles que amam e dão vida à cidade, entregando ao guia Zanette seu título mais honrado.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com
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