Onde se escondem os artistas?

Quando a humanidade se fez, surgiu o homem coletor, nômade, aventureiro, descobridor, livre, independente e selvagem. Alimentava-se de frutos, pesca e caça.

Logo mais se constituíram os clãs, grupos maiores, organizados, comandados pelo mais forte, tal quais animais selvagens, lobos, leões, hienas, elefantes, ratos.

A força física foi substituída pela força intelectual. Para conservar o domínio, os mais espertos começaram a criar mitos e histórias fantásticas, recheadas de poderes sobrenaturais, mágicos, misteriosos. Neste momento, surgem as primeiras comunidades.

E o homem criou deuses, pajés, magos, curandeiros, feiticeiros. E a fantasia e mitologia se proliferaram por todos os cantos, culturas e nações.

Inventaram o julgamento para atemorizar espíritos malignos. Criaram o inferno e o céu, a carne e o espírito, o bom e o mau. A diferença é simplesmente a conveniência dos mandantes, donos do mundo, titulares do poder.

Assim, as igrejas participam do poder dominando, controlando e fazendo a cabeça das massas. O prêmio é a vida eterna, a salvação, a promessa da paz celestial. Exorcizam o pecado, a tentação, o demônio. Quem afinal, não teme a morte, o desconhecido, o lado escuro?

Já no início da revolução industrial, os pensadores começaram a discutir a vida em sociedade. Um lado defendeu a livre iniciativa. O outro, a vida em comum.

Ambos os processos produziram desagregações espetaculares.

Dos 6,6 bilhões de viventes, 4,5 bilhões vivem excluídos do mercado de consumo. Do lixo humano, quase 1 bilhão vive na África, pobre e desgraçada. Quase 3 bilhões, na Ásia. Quase meio bilhão, na América Latina. Quase 40 milhões na América do Norte e outro tanto, na Europa.

O mundo inteiro conhece esta realidade. A UN – United Nations, estabelece metas para reduzir estas diferenças. Atuam em nível institucional, forçando os governos. Esta pressão provoca planos mirabolantes, populares e messiânicos.

Por trás deste cenário, o homem é cada vez mais tentado a pensar exclusivamente em seus próprios interesses, custe o que custar. Este jogo insano alimenta a corrupção de valores, princípios, crenças.

Se os bastidores fossem revelados, os deuses se envergonhariam de grande parte da humanidade dominante.

De outro lado, o homo predator vem disseminando a natureza, minuto a minuto, sem dó nem piedade. Mesmo com ameaças catastróficas, as florestas, os recursos, os peixes não conseguem resistir à volúpia dos humanos.

Apregoam a falta de água, a degradação do ar, o aumento do nível dos oceanos, a expansão dos desertos, a deterioração da camada de ozônio e por aí afora.

Boa parte tornou-se insensível ao catastrofismo. Crê que tudo não passa de exagero da mídia.

No meio desta insanidade, como os artistas reagem? Os que as cores, formas, composições, expressões de sensibilidade pintam? Que herança cultural transmitem para os humanos do futuro, herdeiros desta loucura? Que inteligência inventam, criam, produzem? Que humanidade é possível sonhar?

Podemos temer tudo.

Menos refletir, criticar, divergir, pensar e falar em voz alta.

Orquiza, José Roberto , escritor, [email protected]

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