Não conheci a avó, apenas a neta: linda, bela, mágica... Dessas pessoas que a beleza nos ofusca, nos toca, nos queima em marcas de pintura em pincel da aurora... É uma rainha, nasceu no Dia de Reis, seis de janeiro. Valéria Caliegri , jornalista e neta da poetiza Eronides Almeida Possos Caliegri . Veio do Sul do Brasil, de um Porto distante para me fazer os dias alegres, bonitos e mágicos... Minha amiga, querida amiga... Eu, tão menino, imaturo para tanta beleza que nos meus braços adormecia.
Hoje, por obra dos homens, nos revemos e retomamos a amizade original, o apreço nunca esquecido, nunca perdido. De longe, me manda sinais de suas glórias, de suas vitórias e de alguns enganos. Nos encontramos em alguns sonhos não realizados... Somos tão iguais, tão iguais. Seguimos nossos caminhos, buscamos nossos sonhos e, a bem da verdade, nunca nos separamos. Na verdade mesmo, nos perdemos, não nos encontramos. A vida é apenas um segundo, quando se pode encontrar a eternidade no momento não imaginado. E fomos nós, levados pela correnteza das horas, órfãos de nossas glórias, de nossas histórias.
Para ela, certa noite, chegou-me um poema que não era meu. Ela sugeriu-me inventar uma palavra: ditardizinha . Coisa que fiz no poema caído da noite que me abraçou com os pés de veludo... Depois, revelou-me sua tristeza, sua dor. Dividi com ela, até que acalentou-me , escrevendo versos de sua avó, a vozinha de 90 anos: Tudo Passa... Tudo na vida se esvai./ Devagar, tudo sai do pensamento,/ Tudo n'alma se desvanece,/ No consolo final do esquecimento./ O noivo esquece a noiva num momento,/ A esposa, o amado, esposo que estremece,/ A mãe, o filho ao fogo lento/ Em breve esquece./ Tudo passa na vida, tudo finda./ A dor maior, a ilusão mais linda,/ Os enganos vis, os ideais./ E a quem ame demais sofrendo,/ Sinto aos poucos ir-me esquecendo./ Espero em breve não lembrar-me mais.
Infelizmente, na vida tudo passa e, para nossa dor maior, há algumas coisas que não passam na gente, e outras tantas que nunca saem de dentro de nós, infelizmente. Agora, trago junto a mim os versinhos de minha avozinha poeta que minha irmãzinha mandou-me nas asas do vento.
A vida é mesmo assim e há sempre um tempo para nos encontrar, há sempre uma manhã depois do amanhã e um dia novo depois do envelhecer das horas . Sinais da aurora. O que faz acordar os corações em canções. Penso apenas que deixamos um pedacinho de cada um de nós dentro das pessoas que encontramos pelo caminho, durante a longa caminhada. Fica uma semente que com as lágrimas das lembranças elas são regadas e dentro de cada um cresce e floresce, pedindo os raios primeiros do sol da primavera. Por isso, não nos dispersamos, não nos dispersamos muito, pois dentro de cada um de nós há um infinito inabitado, vazio, puro e solitário .
Vamos juntos acordar as horas. De mãos dadas, vamos inventar um mundo novo, irmanado pelos sentimentos que comungamos com os amigos que nunca deixamos nas curvas do caminho ...
Petrônio Souza Gonçalves
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