Sol está matando os satélites da SpaceX — e ninguém estava preparado

A SpaceX, empresa aeroespacial liderada por Elon Musk, está enfrentando uma ameaça silenciosa, porém crescente, à sua ambiciosa constelação de satélites Starlink. Lançados para fornecer internet de alta velocidade a regiões remotas do mundo, esses satélites estão sendo literalmente arrastados de volta para a Terra por causa de um fator natural: o Sol. O que parecia uma operação rotineira de comunicação global tornou-se, de repente, um exercício de resistência contra os ciclos imprevisíveis da atividade solar.

Pesquisadores de diversas agências espaciais alertam que a intensificação da radiação solar está aquecendo as camadas superiores da atmosfera terrestre. Isso faz com que a atmosfera se expanda e aumente sua densidade nas altitudes onde os satélites Starlink operam — entre 400 e 550 quilômetros de altitude. O resultado direto é um aumento no atrito atmosférico, o que reduz a velocidade dos satélites e os faz perder altitude. Segundo dados citados pela New Scientist, dezenas de satélites já foram perdidos por esse motivo desde o início do atual ciclo solar.

O caso mais notório ocorreu em fevereiro de 2022, quando até 40 satélites recém-lançados pela SpaceX foram destruídos após um evento geomagnético. Eles foram colocados em órbita baixa e, poucos dias depois, foram pegos de surpresa por uma tempestade solar que aumentou drasticamente o arrasto atmosférico. Incapazes de se corrigir a tempo, os satélites reentraram na atmosfera e queimaram completamente. Desde então, perdas similares vêm ocorrendo com menor repercussão pública, mas com impacto técnico cumulativo.

Apesar do alto número de perdas, a SpaceX não considerou, até o momento, mudanças drásticas no projeto Starlink. A empresa mantém um ritmo intenso de lançamentos, substituindo rapidamente os satélites afetados. No entanto, especialistas alertam que a abordagem atual pode se tornar insustentável caso o pico do Ciclo Solar 25, previsto para 2025–2026, ocorra com maior intensidade do que o previsto. O impacto da radiação solar pode afetar não apenas satélites de comunicação, mas também sistemas de navegação, observação da Terra e até operações militares em órbita baixa.

Engenheiros aeroespaciais sugerem possíveis soluções: lançar satélites em órbitas ligeiramente mais altas para escapar do aumento de densidade atmosférica, equipar as unidades com propulsores mais potentes para manobras corretivas, ou ainda estabelecer sistemas de alerta em tempo real com base em previsões de clima espacial. Essas medidas, no entanto, implicam em custos maiores e podem reduzir a eficiência operacional do sistema.

O projeto Starlink, que já conta com mais de 5.000 satélites em órbita e previsão de expansão para mais de 40.000 nos próximos anos, representa uma das maiores iniciativas privadas no espaço. Contudo, a natureza imprevisível do Sol — responsável por desencadear eventos geomagnéticos capazes de comprometer missões inteiras — impõe desafios que extrapolam o domínio técnico da SpaceX. Neste novo cenário, ignorar o Sol como variável crítica pode significar falhas em cascata, não apenas em comunicações, mas em toda a infraestrutura espacial global.

No momento, a SpaceX segue sem divulgar detalhes sobre estratégias futuras de mitigação. Enquanto isso, cada novo surto solar levanta a mesma pergunta entre cientistas e engenheiros: por quanto tempo ainda será possível manter milhares de satélites em órbita baixa antes que o próprio espaço se torne um campo de batalha contra forças naturais fora de nosso controle?

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Author`s name Evgenia Rumyantseva