A história da Terra já tem seus 4,6 bilhões de anos. A vida na Terra teria surgido há cerca de três bilhões e meio de anos. Segundo estudo publicado na revista científica Nature, isso ocorreu muito provavelmente quando formas primitivas desenvolveram estratégias mais eficazes de captar energia do sol.
Marcus Eduardo de Oliveira
Evidências arqueológicas indicam que o primeiro bebê nasceu há 200 mil anos na África. Em algum lugar do Oriente Médio, 10 mil anos atrás, surgiu a agricultura. Faz 7 mil anos que um conjunto de humanos com capacidade para criar animais e cultivar plantas passaram a ser produtores, inaugurando assim o que chamamos de civilização.
Faz apenas 2 mil anos que um judeu chamado Yeshua ben-Yosef (Jesus) passou por aqui com seus ensinamentos morais, deixando mensagens para vivermos longe do materialismo avassalador.
Transcorridos todos esses eventos, ainda não nos demos conta de algo básico: não podemos conquistar tudo e todos. Entretanto, de maneira muito arrogante, nos achamos os donos de tudo.
Sem muita dificuldade, achamos até mesmo que somos perpétuos, eternos, perenes e nos esquecemos que aqui somos tão passageiros que, na verdade, nem mesmo somos, apenas e tão somente, estamos.
Com muita sorte e um pouco de disposição física, cada um de nós - uns um pouco mais, outros um pouco menos - viveremos por volta de uns 30 mil dias. Portanto, será efêmera nossa jornada por aqui (algo em torno de oito décadas, menos de 720 mil horas), mas queremos dominar tudo com nossa péssima "mania" de acumulação.
Vejamos, por exemplo, o caso da economia, guiada por mãos antrópicas, em relação à natureza. Com a sanha de muita produção e exagerado consumo, os que comandam os destinos da economia global se apropriaram da natureza usando-a a bel-prazer do sistema produtivo para abastecer o mercado, pouco se importando se, para isso, desfigura-se o rosto ecológico do mundo, saqueando os recursos naturais e esgotando os serviços ecossistêmicos.
Espécie de filha legítima da Filosofia Moral, essa mesma economia (ciência) que estamos mencionando nasceu para estudar as formas de comportamento humano, correlacionado à satisfação de necessidades dos indivíduos frente a escassez de recursos, fazendo com que, ao melhorar a sua condição individual, o homem, liberto de quaisquer amarras, também seja capaz de melhorar toda a sociedade.
Portanto, pode-se perfeitamente argumentar que a ciência econômica surgiu também com o intuito de transformar o homem, conferindo a ele um fundamento principal: a liberdade de escolha.
Hoje, no entanto, essa ciência social, de certa forma, o escraviza, fazendo dele um mero homo economicus (influenciado por recompensas e coisas materiais), submetendo-o ao jogo do consumismo, absorto pelas ordens que emanam do mercado de consumo, quais sejam: compre, gaste, consuma, obtenha, acumule.
Esse mesmo homo economicus, "escravizado" pela economia de mercado em sua condição de mero consumidor, convive, de igual maneira, com a escravização da natureza às ordens econômicas, impostas num primeiro plano pelos ditames dos gestores da produção industrial que não se dão conta que a produção de qualquer bem, seja petróleo, carro, avião ou um quilo de café em pó, por exemplo, gera emissão de carbono.
Nesse sentido, não querer enxergar que a atividade produtiva econômica é termodinâmica, se configura num completo quadro de miopia intelectual; talvez por isso haja completo descaso por parte da economia tradicional em relação às condições em que o excesso de atividade produtiva é capaz de deixar o planeta, com mais poluição, aquecimento e resíduos.
Não se pode fechar os olhos ao seguinte argumento: crescer e desenvolver a economia - ordens impostas pelos gestores econômicos do mundo moderno - são ações contraditórias à noção de conservar e preservar o meio ambiente.
Apesar de alguns ignorarem, é certo que a Terra não suporta excessos, e isso precisa necessariamente ser respeitado. Gandhi (1869-1948) certa vez asseverou que "A Terra possui recursos suficientes para prover às necessidades de todos, menos dos gananciosos".
Leonardo Boff, numa argumentação próxima a essa, pondera que "(...) precisamos produzir para atender as necessidades humanas. Mas produzir respeitando os ritmos da natureza, os limites de cada ecossistema e optar por uma forma de consumo solidário, responsável, uma verdadeira simplicidade voluntária. Isso seria o desenvolvimento sustentável e humano".
Destruir a natureza, escravizando e submetendo-a da pior forma possível aos interesses econômicos, em troca dos apelos da voracidade do mercado de consumo é, antes disso, destruir as teias que sustentam a vida humana. Lamentavelmente, passa o tempo, mas o homo economicus permanece insensível em relação a isso.
Sempre se faz oportuno destacar que o mercado, assim como toda a economia, depende de algo que está acima de tudo isso: a natureza. A economia, como atividade produtiva, é apenas um subproduto do ambiente natural, e depende dos mais variados recursos que emanam da natureza.
Nós, seres humanos, assim como todos os seres vivos da natureza, somos partes e não o todo desse ambiente natural que contempla as relações da vida. É forçoso ressaltar que não apenas estamos na Terra; somos, pois, a Terra. Não "ocupamos" a natureza como meros participantes dela; somos a própria natureza.
Perceber a economia apenas pela quantidade de coisas produzidas, enaltecendo o crescimento físico da economia - como faz o pensamento econômico tradicional - é um erro crasso que somente tem "provocado" o acirramento da cultura do desperdício, da extravagância, do consumismo, do culto ao materialismo e da falta de parcimônia em matéria de regular a própria atividade produtiva frente às limitações de recursos naturais.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia
da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo.
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