O gordo e o magro abrem o Festival de Locarno nesta quarta-feira
O mundo vai mal? Trump ainda vai nos levar à guerra? Na impossiblidade de fazer alguma coisa, vamos rir e nos embriagar com gargalhadas. O Festival Internacional de Cinema de Locarno, que começa hoje, não nos quer induzir à uma alienação total diante do caos, mas nos promete fazer rir.
Depois de tantos anos de filmes tristes, de revolta e de indignação, Locarno quer oferecer aos seus espectadores, naquele telão de 300 metros quadrados, razões para rir, com uma dupla patrimônio universal, cujas idiotices fazem rir israelenses e palestinos, cristãos e islamitas, homens e mulheres, negros e brancos, machões e homossexuais, coxinhas e mortadelas - quem é capaz dessa unanimidade? A dupla (ou o casal?) o Gordo e o Magro!
Mas não apenas os 23 minutos do filme Liberty, mostrando as trapalhadas do obeso e do franzinho, isto é, do gordo e do magro, no alto de um edifício em construção, com o risco de caírem, nos fazendo chorar de rir com o coração na mão. Carlo Chatrian, o discreto diretor do Festival, que passou seis anos corando diante do público da Piazza Grande, evitando com sua timidez e modéstia se transfomar num people, ousou, enfim, sair da toca - escolheu colocar na mostra Retrospectiva uma batelada de comédias do realizador americano Leo McCarey, abrir o Festival com o Gordo e o Magro, e programar uma espécie de telenovela argentina com catorze horas de duração, cortada em pedaços de hora e meia ou duas horas, projetados logo logo depois do café da manhã, durante oito dias do Festival. Comédia à parte, Locarno quer fazer economias e os filmes de Leo McCarey no domínio público se alugem mais barato que os de Charlie Chaplin.
Depois do Gordo e o Magro, filme mudo mas com acompanhamento musical, virá o filme francês Os Bons Espíritos, de Vianney Lebasque, sobre um grupo de atletas deficientes que participam de uma competição. Entre eles, dois ou três são normais e foram integrados no grupo para ocupar o lugar de alguns desistentes. Também na linha do humor, assim como diversas comédias sentimentais incluídas entre os filmes selecionados nas diversas mostras. Um prêmio será concedido a uma atriz que deixou sua marca numa dessas comédias sentimentais - Meg Ryan, do inesquecível Quando Harry encontra Sally. Lembram-se dela simulando um orgasmo dos bons em pleno restaurante?
Na quinta-feira, haverá um filme suíço com título bem sugestivo - Onde você está João Gilberto?, contando as peripécias, de nós brasileiros bem conhecidas, de um cineasta à procura do mestre da Bossa Nova para filmar, dirigido por George Gachot. Parece que não achou!
Haverá ainda filmes de Spike Lee, Blackkklansman; de Ethan Hawke, Blaze, que estará em Locarno; de Antoine Fuqua, The Equalizer2, também em Locarno. O ator principal é Denzel Whahington, ausente infelizmente.
E os nossos vizinhos latinoamericanos como estão em Locarno?
Há dois filmes, um argentino, A Flor, de Mariano Llinás, e Tarde para morrer jovem, da chilena, Dominga Sottomayor, na principal competição internacional, e um colombiano, Pássaros de Verão, de Ciro Guerra e Cristina Gallego, programado para ser exibido na prestigiosa Piazza Grande, no telão de 300m2. O filme argentino A Flor, é digno do livro de recordes Guiness - tem duração de 14 horas e será projetado em pedaços de hora e meia, duas horas, durante oito dias do Festival. Chatrian disse ser um desafio ao público e à crítica programar tal filme, mas, entre nós, quem está de partida pode se permitir inovações. O diretor colombiano Ciro Guerra é conhecido por seu filme O beijo da serpente, de grande sucesso. Há ainda um filme argentino e outro mexicano na mostra Cineastas do Presente e 3 curtas metragens, dois colombianos e um venezuelano. Total nove e o Brasil dois! Parece o 7 a 1...
Rui Martins, está em Locarno, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter