FSM expressará avanço da esquerda, diz Pont

O secretário-geral do PT, deputado estadual Raul Pont (RS), considera importante que os petistas acompanhem “em todas as suas dimensões” o processo novo em curso na América Latina, expresso pelas vitórias de forças progressistas nas eleições de importantes países da região. O retrato desta realidade deverá ser exposto na próxima edição do Fórum Social Mundial (FSM), em Caracas (Venezuela).

O evento, que ocorre entre 24 a 29 deste mês, será o principal encontro de organizações da sociedade civil do mundo, seguido por edições menores na Ásia e na África. “Precisamos acompanhar, não apenas no sentido partidário, mas no que isto significa em termos de experiências e alternativas econômicas que rompam com o neoliberalismo”, ressaltou o petista.

Pont tem expectativas positivas em relação ao avanço dos governos conquistados por partidos progressistas no Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Chile, Bolívia e Equador. Fortalecidos por estas vitórias eleitorais, os movimentos de esquerda estarão em Caracas fazendo intercâmbio de experiências em políticas públicas e governamentais.

“A experiência que o povo venezuelano está vivendo, da chamada revolução bolivariana, é muito rica, com suas particularidades, mas que tem muitos pontos de identidade e contato com a realidade latino-americana”, lembrou ele.

Há, também, muitas afinidades entre as políticas implementadas pelo governo Lula e as discussões que são feitas no FSM. Para ele, é importante que o governo esteja presente para demonstrar isso. Segundo Pont, em toda a América Latina se produz experiências de economia solidária e popular, apoio a políticas à pequena produção familiar, alternativas ao modo de produção capitalista clássico.

“São experiências que os governos praticam e que nascem das próprias reivindicações dos movimentos populares”, disse. Neste sentido, o dirigente petista avaliou como positiva a confirmação da presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no FSM, “para dar um depoimento, assim como os outros chefes de Estado que estarão lá, inclusive para prestigiar o evento”.

Crise política

Levando em conta todas as possibilidade de intercâmbio do fórum, Pont considera secundária, ainda que necessária, a resposta do PT à “crise que se abateu sobre o partido a partir dos inquéritos do Congresso e do envolvimento de dirigentes em caso de financiamento irregular de campanha”.

Para ele, se houver questionamentos sobre isto, será importante a presença petista para oferecer ao conjunto dos movimentos sociais e da esquerda latino-americana “uma informação e uma versão que não seja aquela da grande mídia brasileira nem dos adversários”.

Embora não seja um encontro de partidos, há espaço nas mesas de debates, encontros paralelos e coletivas de imprensa para estabelecer um diálogo e expressar o pensamento do partido.

Pont afirma que o seminário que a Secretaria Nacional de Relações Internacionais do PT irá promover no dia 12, no Diretório Nacional -que reunirá os petistas convidados e participantes do FSM -, terá como objetivo discutir formas de levar a experiência e concepção mais geral de sociedade que tem o PT.

O próprio Pont foi convidado para uma das mesas do Fórum de Autoridades Locais (FAL), organizada pela Alcadia Mayor de Caracas. Vai participar, também, de uma mesa de partidos de esquerda europeus. Ele destacou também as mesas do IDEA – Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre –, um dos organizadores do FSM em 2005.

Novo formato

Este ano, o FSM ocorrerá em três continentes, ao contrário dos anos anteriores, com quatro edições em Porto Alegre e uma edição em Mumbai (Índia), em 2003. “Estamos apostando e esperando que este formato seja bem sucedido”, disse Pont.

Para ele, essa expressão continental do fórum (África, Ásia e América) pode perder em pluralidade, mas pode ganhar em participação, por tornar mais fácil o deslocamento dos participantes, e possibilitar uma convergência de temas e assuntos mais diretamente ligados aos interesses de cada região, ganhando em aprofundamento das identidades culturais e políticas socioeconômicas regionais.

“Aqui na América Latina e Caribe há uma problemática socioeconômica, política e cultural muito semelhante”, avaliou. Pont não acredita que o fórum vá perder o caráter mundial que tem pelo fato de participarem muitos europeus na edição americana.

Partidos

Pont está entre os que defendem a manutenção da organização sob o controle da coordenação de movimentos e entidades sociais, sem “hegemonia” partidária.

Para ele, os partidos têm seus fóruns de associação, que ele considera mais eficientes para articulação. “O encontro de partidos latino-americanos, por excelência, é o Foro de São Paulo, que tem que ser divulgado e cada vez mais bem organizado”. Além disso, o FSM costuma ser acompanhado de fóruns paralelos de autoridades locais e de parlamentares, entre outros.

“Os partidos não devem ter uma hegemonia ou um processo de organização direta do FSM, mas mobilizar seus filiados e entidades influenciadas por partidos”, disse. Ele não vê contradição entre a organização pela coordenação de movimentos sociais e a forte participação de militantes partidários. “Os partidos têm seus mecanismos de troca de experiências que são muito fortes e até mais eficazes”.

Na opinião dele, sem a interferência direta dos partidos, o fórum ganha mais em abertura, autonomia, independência e pluralidade de temas debatidos. “Os partidos têm seu programa e seu direcionamento ideológico, enquanto o FSM tem outro sentido, que não é substituir nem se transformar em um partido. Nem acho que os partidos têm que pleitear isso, porque seria prejudicial ao caráter fomentador de movimentos sociais", defendeu.

Porto Alegre

Uma prova da autonomia do FSM, sem intervenção partidária ou governamental, de acordo com Pont, é que nunca houve acusações de aparelhamento do fórum pelos governos petistas do Rio Grande do Sul. “Porque nunca houve isso”.

Ele acredita que o FSM faz muita falta à sua cidade, mas que os atuais governos conservadores não têm expresso isso com a boa vontade que os governos petistas tiveram.

“O FSM não veio para Porto Alegre espontaneamente, mas porque representávamos uma experiência concreta de democracia participativa, e porque nós nos oferecemos para bancar a infra-estrutura, tanto na prefeitura quanto no governo do Estado”, explicou.

A data do FSM, sempre em janeiro, coincide com a época em que o veraneio tira muita gente da atividade produtiva e dos serviços em Porto Alegre. O FSM significava uma alternativa a vários setores do turismo da cidade, segundo Pont. “Além disso, o FSM colocou Porto Alegre como uma referência mundial em políticas sociais progressistas”.

PT

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