EUA travam guerra psicológica contra Venezuela para desmoralizar liderança e povo
Na opinião do Dr. Heinz Dieterich, coordenador do Projeto Mundial de Pesquisa Avançada, a administração Trump está tentando enfraquecer o governo venezuelano através do estrangulamento econômico.
Washington continua aumentando sua pressão sobre a Venezuela apesar do agravamento do estado da economia norte-americana, que tem visto o número de casos de COVID-19 disparar, o PIB cair a pique e o desemprego aumentar.
O Dr. Heinz Dieterich, diretor do Centro de Ciências da Transição (CTS) da Universidade Autônoma Metropolitana da Cidade do México e coordenador do Projeto Mundial de Pesquisa Avançada (WARP), explica como o impasse entre os EUA e a Venezuela pode evoluir.
Após indiciar o presidente venezuelano Nicolás Maduro, juntamente com outros 14 antigos e atuais funcionários de supostas acusações de narcoterrorismo, o Departamento de Estado norte-americano propôs em 26 de março "realizar uma votação na Venezuela" em seis a 12 meses, em uma tentativa de formar um governo interino obediente no país latino-americano.
Em seguida, os EUA reforçaram sua presença naval no Caribe, perto das costas venezuelanas, sob o pretexto de uma operação mais ampla contra o narcotráfico na região, que se tornou o maior deslocamento militar desde a invasão do Panamá em 1989, de acordo com a agência Associated Press.
Caracas denunciou as tentativas dos EUA de interferirem nos assuntos políticos internos da Venezuela e ordenou a mobilização da artilharia nas áreas estratégicas do país, a fim de garantir a segurança do Estado.
Utilidade de governo interino
"A agressão de Trump contra a Venezuela ainda está na fase de guerra psicológica, em que você usa todo tipo de pressão militar, econômica, política, midiática e cultural para desmoralizar o inimigo e fortalecer a determinação de seus aliados", explica o Dr. Heinz Dieterich.
"O objetivo desta fase é a mudança de regime em Caracas, onde Trump quer instalar um governo neocolonial obediente aos interesses de Washington", ressalta.
A criação do chamado governo interino na Venezuela "seria muito útil para Trump para dar um impulso às eleições de novembro e ajudar a desviar a atenção de seus fracassos de política externa na Coreia do Norte, Irã e Ucrânia, bem como de sua inacreditável incompetência em lidar com o coronavírus", de acordo com o professor.
Embora os Estados Unidos estejam aplicando duras sanções econômicas contra o país latino-americano, uma intervenção militar direta pelo Comando Sul é improvável no momento, já que todas as grandes concentrações militares são quase impossíveis por causa da ameaça da COVID-19, observa o especialista.
"Por exemplo, as tradicionais forças de intervenção dos EUA são os dez grupos de ataque de porta-aviões que a Marinha tem", segundo o acadêmico. "Quatro deles têm ameaçado a China nos últimos anos no Pacífico Sul. No momento, não há nenhum perigo militar, porque o coronavírus os eliminou a todos".
Como os EUA estão 'asfixiando' a Venezuela
Além das sanções impostas às autoridades venezuelanas e à indústria petrolífera do país, Washington está cortando todo e qualquer financiamento ao Estado sul-americano.
Após entregar o controle das participações venezuelanas no Banco de Reserva Federal de Nova York e em outros bancos federais ao autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, os EUA também facilitaram a aquisição de empresas públicas venezuelanas que operam fora do país por parte do oposicionista venezuelano.
© AP PHOTO / LUIS M. ALVAREZ
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, (à direita), cumprimenta o líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, (à esquerda) em Washington, no dia 6 de fevereiro de 2020.
Apesar disso, não há registros abertos que esclareçam como Guaidó está lidando com os recursos do país.
Assim, em meados de abril de 2020, os legisladores alinhados com Guaidó "autorizaram" a transferência de cerca de US$ 349 milhões (R$ 1,91 bilhão) em fundos bloqueados de uma conta do Banco Central da Venezuela no Citibank para uma conta da Reserva Federal dos EUA com a aprovação tácita do governo Trump.
E isso não é tudo, destaca Dieterich.
"Há poucos dias, a poderosa empresa petrolífera transnacional Halliburton, cujo CEO no passado foi o antigo vice-presidente norte-americano Richard Cheney, cessou suas operações na Venezuela", diz ele. "O mesmo aconteceu com a espanhola Repsol. Trump rejeita todos os apelos para aliviar as sanções econômicas em meio à pandemia, em união com o Fundo Monetário Internacional, que tem rejeitado pedidos de crédito por parte de Maduro".
Resultado da política dos EUA
Essa abordagem "desumana" parece estar funcionando aos olhos do governo norte-americano, pois os protestos e saques de rua estão em ascensão na Venezuela, observa.
"A escassez de gasolina e alimentos, juntamente com o aumento dos preços dos alimentos e uma hiperinflação incontrolável tornam a situação para o povo insuportável", observa o professor. "As mercadorias são basicamente cotadas em dólares, mas as pessoas estão sendo pagas em bolívares, que desvalorizam a cada dia".
A instabilidade no mercado de energia e as quedas temporárias de alguns valores de referência abaixo de zero exacerbaram ainda mais a situação: "Como Maduro não aceita a oferta dos EUA, a situação econômica vai se agravar gradualmente", prevê o acadêmico.
"A soberania da Venezuela está, portanto, em perigo, porque somente um país unido por trás de sua liderança, uma economia, exército e identidade nacional fortes pode resistir a uma superpotência imperial agressiva como os Estados Unidos", adverte o Dr. Dieterich.
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