O escritor Umberto Eco, autor de sucesso, acaba de fazer afirmação que pode comprometer seu prestígio como intelectual. Ou não; nunca se tem certeza.
Assegurou que as redes sociais deram a palavra a "uma legião de imbecis" que antes falavam "num bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade". E prossegue: "normalmente eles (os imbecis) eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel". Continua: "o drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade".
É um linguajar preconceituoso, pesado, sujo, que não é digno de um autor importante, entre eles "O Nome da Rosa", que já li quatro vezes. Tenho este hábito. Bons livros são sempre relidos, não importa o número de vezes. Por esta razão, considero-me insuspeito para falar.
Que a quantidade de pessoas absolutamente despreparadas é bastante grande, não se discute. O Facebook, por exemplo, está tomado por elas, mas a grossa maioria quer apenas escrever fatos do cotidiano, e não ganhar notoriedade. Eco generaliza sem dó nem piedade, quando ele mesmo pretendeu transmitir no livro citado, "O Nome da Rosa", que a cultura e o saber devem ser ocultados da massa. Com esperteza, não fez a afirmação diretamente; colocou-a num tempo passado. Os livros da biblioteca famosa do mosteiro onde a história se passa, não são do conhecimento dos monges, inclusive dos que neles trabalhavam, copiando ou ilustrando. Ou seja, não fez qualquer esforço para desmentir o fato de que o conhecimento e o saber devem estar afastados do homem comum.
Diferentemente do homem medieval, o dos tempos de hoje ao expressar suas ideias desenvolve consciência política e social, fato só admitido em sociedades bastante desenvolvidas. Assim mesmo, Eco manda a sociedade ficar calada. É muita pretensão, vontade ditatorial. Ele mesmo não é nenhum sábio. Escreveu livro que leva o nome de uma experiência física que estuda o movimento de rotação da Terra, "O Pêndulo de Foucault", mas não conhece as equações que o engenheiro e físico francês, de mesmo nome, deduziu após o experimento. Não tem esta obrigação, na verdade. É filósofo e escritor, mas deveria ter um conhecimento probabilístico para imaginar a reação do povo, diante do que afirmou sobre "os imbecis".
Não é o primeiro a cair nesta esparrela. O 'divino Aristóteles', sem mais nem menos, do alto da sua sabedoria, disse que os corpos de maior peso - o correto é massa - quando jogados da mesma altura, caem ao solo em menor tempo do que os mais leves. Séculos se passaram e a verdade aristotélica ficou, até que Galileu, do alto da Torre de Pisa provou que caem todos ao mesmo tempo, pois sobre eles atua uma só força, a gravidade terrestre.
Poderia ter ficado calado, professor Humberto.
Jorge Cortás Sader Filho é escritor
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