Ok, falemos claro. Não sou muçulmano. Sou contra o terrorismo. Não apoio a pena de morte. Detesto o takfirismo. Não aceito que a violência seja usada como meio para impor posições políticas ou éticas. Prego e defendo a mais completa liberdade de expressão, inclusive a crítica e o humor.
8/1/2015, The Saker, Vineyard of the Saker
http://vineyardsaker.blogspot.com.br/2015/01/i-am-not-charlie.html
Mas hoje absolutamente NÃO SOU Charlie.
Na verdade, sinto-me horrorizado, nauseado, ante o show coletivo de hipocrisia que cerca os assassinatos na França. Eis por quê:
“Charlie Hebdo merece o ‘Prêmio Darwin’"
O pessoal da redação de Charlie Hebdo estava pedindo para ser atacado. Eis o que escrevi sobre eles em setembro de 2012, quando publicaram as famosas caricaturas do Profeta Maomé: “Se querem saber minha opinião, merecem o Prêmio Darwin. Ótimo, o ‘pool genético’ da “esquerda-caviar” francesa precisa mesmo, muito, de uma varrida.” Hoje, confirmo integralmente o que escrevi.
Permitam-me perguntar o seguinte: qual seria o sentido de, digamos, deitar para tirar uma soneca sobre trilhos de trem? Você não precisa “concordar” com o trem que passará por cima de você, e mesmo assim o trem passará por cima de você, e você sabe que ele passará por cima de você. E se alguém se deita para tirar uma soneca no caminho do trem, só para ‘argumentar’? Só para provar que o trem é malvado? Só para provocar o trem? Só para mostrar o trem como trem imbecil, aos olhos do mundo? Não seria, em todos esses casos, o máximo da estupidez? Pois aí está: tirar uma soneca sobre os trilhos do trem foi *exatamente* o que fez Charlie Hebdo. Posso até dizer que os redatores de Charlie Hebdo optaram por ganhar dinheiro desafiando o “trem” dos muçulmanos fanáticos a passar por cima deles.
Acham que estou exagerando?
Verifiquem a charge que um dos cartunistas assassinados ontem acabava de postar. Na legenda, lê-se: “Até agora, nenhum atentado terrorista na França. Mas, esperem! Temos até o fim de janeiro para distribuir nossos melhores votos de ano novo”. O doido que aparece lá desenhado está embrulhando uma Kalashnikov e usa um pakol afegão – é o típico “muçulmano maluco” do mundo de Charlie Hebdo. Não me lembro de provocação mais estúpida que essa...
“Cuspir na alma” de alguém
Há uma expressão em russo, “cuspir na alma” de alguém. Aplica-se aqui perfeitamente. Em todo o mundo os muçulmanos são absolutamente claros sobre isso: blasfêmia, para eles, é assunto sério, muito sério; e também levam muito a sério a imagem do Profeta e do Corão. Quem deseje ofender realmente um muçulmano, que ridicularize o Profeta deles ou seu Livro Sagrado. Não é segredo. E quando Charlie Hebdo publicou aquelas caricaturas do Profeta, e quando o cobriram de ridículo e de modo deliberadamente rude e provocativo, com certeza sabiam que estavam ofendendo 1,6 bilhão de muçulmanos por todo o mundo. Ah! E no Islã, blasfêmia é crime que pode ser punido com pena de morte.
Quer dizer que, num certo momento, exatamente três daquele 1,6 bilhão de muçulmanos resolveram fazer justiça pelas próprias mãos e mataram aqueles franceses que deliberadamente fizeram da blasfêmia meio de vida.
Ninguém precisa ser muçulmano ou ser favorável à pena de morte nos crimes de blasfêmia para entender que o que aconteceu aconteceria inevitavelmente, e que nada desses eventos tem qualquer coisa a ver com o Islã como religião. Ofenda qualquer grupo com 1,6 bilhão de membros e, mais cedo ou mais tarde, aparecerão 1, 2, 5 deles, dispostos a usar de violência para fazê-lo pagar pelas ofensas. É uma inevitabilidade estatística.
E haveria talvez vítimas mais vítimas que outras?
Assim aconteceu que 12 “blasfemadores que cospem na alma de tanta gente” foram assassinados, e a França está em luto profundo. A imprensa-empresa em todo o mundo só faz noticiar o assassinato como desastre planetário, e por todo o planeta milhares de pessoas repetem “Sou Charlie”, soluçam, acendem velas e defendem “corajosamente” a liberdade de expressão.
Querem saber minha opinião? São lágrimas de crocodilo.
Fato é que os anglo-sionistas nutriram, organizaram, financiaram, treinaram, equiparam, armaram cuidadosamente, dedicadamente, ao longo de décadas, os doidos takfiri.
Desde a guerra contra o Afeganistão até a guerra contra a Síria hoje, esses psicopatas assassinos têm atuado como coturnos-em-solo para o Império Anglo-sionista, já há décadas. Mas, aparentemente, ninguém está muito condoído com o destino das vítimas deles no Afeganistão, na Bósnia, na Chechênia, no Kosovo, na Líbia, no Curdistão, no Iraque ou em tantos outros pontos. Esses malditos comedores de fígado humanos são “combatentes da liberdade” que recebem integral apoio do ‘ocidente’. Inclusive da própria imprensa-empresa que, hoje, chora o destino de Charlie Hebdo.
Pelo que se vê, há vítimas mais vítimas que outras no ethos ‘ocidental’.
E quando se viu na Europa, em tempos recentes, alguém chorando por causa do assassinato diário de milhares de civis inocentes no Donbass, cuja morte é encomendada e paga e diretamente comandada por governos ocidentais?
Será que pensam que nós somos TOTALMENTE idiotas?
E, agora, o ataque em Paris. Até o mais rematado idiota sabia que Charlie Hebdo era *O* principal alvo para esse tipo de ataque. E sei, e posso garantir, que os policiais franceses não são absolutamente idiotas. Apesar disso, por alguma razão, não havia policiais à vista na proteção do jornal atacado: só uma Van com dois policiais (ou um?), estacionada nos arredores – o que absolutamente não é proteção antiterrorismo –, e um guarda, coitado, foi executado com um tiro de AK na cabeça, quando implorava pela própria vida. Isso seria o melhor que o estado francês tinha a oferecer? Não. Não era.
Assim sendo... O que, afinal, realmente aconteceu?
Posso dizer-lhes: aconteceu que os defensores da “União-Europeia-em-1ºlugar” estão agora capitalizando a reação aos assassinatos, para começar a atacar a própria população. Sarkozy já se reuniu com Hollande [e a ‘notícia’ já foi manchete no HORRENDO ‘noticiário’ de GloboNews-Br, ontem (NTs)] e ambos já decidiram que é indispensável implantar novos níveis de controle e vigilância. Sentiram o fedor de um 11/9 francês?
Por tudo isso, não: definitivamente NÃO SOU Charlie hoje, e estou enojado além do que consigo escrever, ao ver o show obsceno de ‘solidariedade’ tão fajuta quanto ‘correta’, a um grupo de ‘esquerdinhas-caviar’, que ganhavam dinheiro cuspindo e ensinando a cuspir na alma de bilhões de pessoas, e cometeram a temeridade de desafiar aquelas pessoas a reagirem.
E não tenho dúvida alguma de que a pergunta “a quem o crime beneficia?” indica que o responsável organizador e executor do ataque foi o governo francês – ou organizou e executou ou permitiu que fosse organizado e executado, ou, no mínimo, estava e está preparado para extrair máxima vantagem política dos crimes.
Mas quem mais me enoja são os [jornalistas] que fazem o jogo e cuidadosamente evitam as perguntas certas sobre tudo que está acontecendo. São “Charlies”, esses, sim, todos eles. Eu não sou.
[assina] The Saker
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=d41d8cd98f00b204e9800998ecf8427e&cod=14933
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