Ternuras ancestrais

Acordei nesta segunda-feira na doce recordação dum sonho com uma ex-colega de banco escolar primário - do nada, Angélica veio me dar um fraterno abraço e me entregar uma caixa que, imagino, estaria repleta de tesouros do centro da Terra; e eu nem me atrevi a colocar as minhas mãos naquele relicário. Devaneios noturnos inexplicáveis assim ajudam no descanso do corpo e fazem a alma da gente viajar em meio a feixes universais de luz.

Contudo, neste final de semana eu e Esperança reencontramos o amigo físico quântico Ivan Guerrini e a esposa farmacêutica Tarsila. Reunião daquelas temperadas com a alegria de ser e que nos tornam pessoas melhores. No exercício das nossas individualidades, reforçamos em nós quatro a certeza do quão são vitais o amor e o respeito mútuo.

E nesse contexto de amizades reais inclui-se o gigante e saudoso mineiro Sr. Ronan. Seu Ronan era uma criatura vívida, vivaz e entusiasmada. Radicado em Águas de São Pedro com a esposa Dona Julieta, ele formou uma linda família e melhorou a vida de todos dentro e fora da pequenina e aprazível estância hidromineral; um dos respeitados berços hoteleiros do Brasil.

Almoçando em Águas de São Pedro no último e ensolarado domingo, 14, soubemos que Seu Ronan havia ido ao encontro de Dona Julieta, lá no céu. Parentes nos disseram que ele planejava a festa das suas 90 décadas. Entretanto, Deus o convidou para celebrar a data junto a santos, anjos, arcanjos, querubins, serafins... A essa altura todos devem estar degustando os deliciosos bolinhos de chuva da Dona Julieta.

Foi enorme o meu aprendizado ao conviver com a família Borges do Ronan entre 1990 e 1997, quando trabalhava como repórter da Jovem Pan AM Sat em São Paulo. No vaivém do jornalismo olhos nos olhos, tive a grata felicidade de prestar serviços e transmitir informações de Águas de São Pedro e região aos ouvintes, nos Projetos Inverno e Verão da emissora. Os paulistanos adoram descansar na 'poluição zero' de Águas de São Pedro.

De Seu Ronan herdamos fé, sabedoria e coragem e uma imensurável ternura ancestral que transcende a nomes, sobrenomes, cargos e títulos.

Na observação sentinela das corujas, na colorida dança dos colibris em busca de néctar, nos fluir das águas medicinais, em toda a fauna e flora de Águas de São Pedro está certamente cravada a energia deste homem de fibra que lá habitou.

 

Paulo de Tarso Porrelli é jornalista. 

 

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