Por ANTONIO CARLOS LACERDA
RIO DE JANEIRO-BRASIL - Na cidade do Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil, policiais militares de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) estão inscritos no caderno do tráfico de drogas e recebem um 'salário' de até R$53 mil por mês, a título suborno e de propina.
Criada para colocar um ponto final no domínio do crime organizado nos morros do Catumbi, a UPP da Coroa, Fallet e Fogueteiro fraquejou e se rendeu aos encantos do dinheiro das drogas.
Um grande esquema de corrupção foi descoberto na unidade, onde propinas fixas são pagas regularmente pelos traficantes a policiais. O 'Mensalão da UPP' abastece os agentes com quantias que variam de R$ 400 a R$ 2 mil e no mês totalizam mais de R$ 53 mil.
Trinta homens da unidade são investigados por envolvimento na caixinha do tráfico. Eles foram monitorados durante um mês por policiais da Coordenadoria de Inteligência da PM. Na terça-feira, três agentes foram presos pela Corregedoria: um sargento e dois soldados. Com eles, no carro, havia R$ 13,4 mil, em envelopes, que continham valores entre R$ 100 e R$ 500 e o nome dos policiais militares.
O valor das propinas era fixado de acordo com a patente e a importância do policial na estrutura do policiamento. Durante a apuração, os policiais do Setor de Inteligência descobriram que no dia de plantão dos investigados não havia repressão ao tráfico. Os bandidos agiam livremente e vendiam drogas nos principais becos das favelas da Coroa, Fallet e Fogueteiro. Mas sem ostentar armas.
A Unidade da Policia Pacificadora do Catumbi tem 206 policiais e a possível ligação com as propinas do tráfico atinge 14,5% do efetivo. O comandante e o subcomandante da UPP, capitão Elton Costa e tenente Medeiros, também são investigados sobre o 'Mensalão da UPP', que teria o sargento detido terça-feira como operador do esquema.
Seria ele a pessoa que aparece nas investigações negociando com traficantes a retirada dos Policiais militares das áreas onde há venda de drogas nos morros e os valores da propinas. Inquérito Policial Militar, aberto no Comando da Polícia Pacificadora, será analisado pela juíza Ana Paula Pena Barros, da Auditoria da Justiça Militar, que decidirá se decreta a prisão dos Policiais militares.
O Comando de Polícia Pacificadora, que participa da investigação, resolveu intervir na UPP da Coroa, Fallet e Fogueteiro. Os 30 policiais investigados pela Corregedoria da PM foram afastados e destacados ao batalhão de origem. Todos são recrutas e foram selecionados no ano passado por unidades do Interior do Rio (Itaperuna, Macaé, Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis).
Os policiais estavam lotados na UPP Coroa, Fallet e Fogueteiro desde a inauguração da unidade, no dia 25 de fevereiro deste ano. A idéia de selecionar homens novos na carreira policial e do Interior era justamente para impedir a contaminação dos agentes com esquemas de corrupção do tráfico de drogas. Eles serão substituídos, agora, pelos novos recrutas que estão sendo formados pelo Centro de Aperfeiçoamento de Praças (Cefap).
A investigação do envolvimento de Policiais militares na caixinha do tráfico levou à descoberta de que o atentado a três agentes, em junho deste ano, não foi mera coincidência. Lotados na UPP, eles estavam fora do esquema do Mensalão da UPP das drogas e, em todo plantão, faziam exatamente o que se espera de um policial: tentavam prender os criminosos.
A ação dos policiais militares irritou os bandidos, que resolveram dar um corretivo em quem insistia em se ausentar do caderninho do tráfico: jogaram uma granada no momento em que os três policiais patrulhavam os becos do Morro do Fallet.
O soldado Alexander de Oliveira foi atingido na emboscada e perdeu parte da perna direita e teve fratura do braço esquerdo. Outros dois policiais militares foram atingidos por estilhaços.
O trabalho dos agentes da Coordenadoria de Inteligência mostrou que nem todos os policiais da UPP estão envolvidos no esquema de corrupção. Mas um bom número de homens sabia da ligação de alguns colegas com os traficantes.
O sargento e os soldados presos na terça-feira alegaram na 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) que os R$ 13,4 mil encontrados com eles no carro não era de nenhum deles. E nem sabiam o que faziam os nomes dos agentes nos envelopes.
O tráfico nos morros do Catumbi é controlado por Valquir Garcia dos Santos, o Valqui. Dono de uma extensa ficha criminal, são 17 anotações, ele é foragido do Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro, em Niterói, de onde saiu pela porta da frente, em fevereiro do ano passado.
O traficante ganhou o benefício da visita periódica ao lar, após ser preso, em 2005, ao ser baleado numa troca de tiros com policiais quando mantinha uma família como refém. Enquanto esteve preso, Valquir dos Santos mostrou que seu poder vai além das grades: determinou o fechamento do comércio na região do Catumbi, em luto pela morte do irmão, Valcinei Garcia dos Santos, o Caê, que foi morto pela polícia.
Toda a quadrilha responsável pelo tráfico de drogas está identificada no inquérito aberto da 6ª DP (Cidade Nova) pelo delegado Luiz Alberto Andrade e com prisão decretada pela Justiça.
R$ 13.400 - Valor apreendido no carro com três policiais que foram presos, após investigação. Envelopes tinham nomes de PMs;
14,5% - Percentual do efetivo de 206 policiais militares que atuam nos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro e que estaria comprometido com traficantes para recebimento de dinheiro;
R$ 2 MIL - Valor a que chegavam as quantias pagas a cada policial para fazer vista grossa para a atuação dos traficantes. Esquema foi descoberto depois de três meses de monitoramento.
ANTONIO CARLOS LACERDA é correspondente internacional do PRAVDA.RU
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