O desafio do Mercosul

Mauro Lourenço Dias (*)

            Finalmente, em 2011, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia poderá sair do limbo em que se encontra há mais de uma década. Se tudo correr bem e o real não continuar tão valorizado como está, é possível que Brasil e Argentina, os sócios majoritários do Tratado de Assunção, acertem com os europeus um acordo de liberalização que não venha a arruinar a indústria dos dois países.

14111.jpegPor enquanto, as duas partes continuam a discutir aspectos normativos, incluindo regra de origem e questões sanitárias e fitossanitárias. E esperam alcançar, até o final do ano ou, no máximo, no primeiro semestre de 2011, um consenso a respeito de troca de ofertas de acesso ao mercado. Mas, a levar-se em consideração a experiência dos últimos anos, não se deve aguardar com muito otimismo esse acordo. Até porque são grandes os obstáculos que separam as intenções do Mercosul das da União Europeia. Sem contar as divergências que existem - e são visíveis - entre Brasil e Argentina.

            Na verdade, as duas nações sul-americanas só chegam a um consenso quando decidem cobrar dos europeus maior abertura do mercado para produtos agrícolas do Mercosul. No entanto, têm dificuldades em encontrar propostas que prevejam a abertura do mercado regional para produtos industriais europeus. Nesse ponto, é de reconhecer que o governo argentino tem sido mais inflexível em defesa do protecionismo do que o brasileiro.

            Em outras palavras: o Mercosul só continuará a ter razão de existir se chegar a um acordo amplo com um grande bloco ou com os EUA. Caso contrário, a continuar nos moldes verificados nos últimos anos, constituirá para o Brasil mais um estorvo. Se não existisse, é provável que o governo brasileiro já tivesse chegado a um acordo com a União Europeia, já que com os EUA essa possibilidade parece fora de propósito enquanto perdurar a ultrapassada tendência terceiro-mundista que tem marcado a atuação política do Itamaraty nos dois últimos governos.

            Em números globais, o Mercosul, que em 1998 absorveu 17,4% das exportações brasileiras, hoje é responsável por menos de 8% das vendas do Brasil para o planeta. E a tendência é de declínio, pois, enquanto se fecham para os produtos brasileiros, os mercados argentino, uruguaio e paraguaio abrem-se generosamente para os produtos chineses. Mais de 70% do que os parceiros do Brasil no Mercosul importam vêm dos EUA, China, União Europeia e outros países, segundo dados do MDIC. Seria o caso de se afirmar em bom castelhano: muy amigos.

            Diante dessas dificuldades, o melhor, isso sim, é discutir, senão a revogação pura e simples do Mercosul, o seu retorno à condição de zona de livre comércio, mais compatível com a integração limitada alcançada pelos quatro sócios em 19 anos de existência do tratado. Nesse caso, cada membro do bloco ficaria livre para negociar isoladamente seus acordos de livre comércio. Esse é o desafio do Mercosul, pois não dá mais para continuar a negociar indefinidamente com a União Europeia. Até quando terá de se esperar por esse acordo?

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(*) Mauro Lourenço Dias é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

 

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