O secretário de imprensa do Pentágono Geoff Morrell disse que o documento continha o teor dos discursos de Robert Gates pronunciados durante os diversos meses recentes. O ministro escreveu que considerava seu documento uma receita para o sucesso da próxima administração dos Estados Unidos.
A estratégia tem sido uma questão de extrema importância para Robert Gates desde o fim de 2006, quando ele chefiava o Pentágono. O conceito dessa estratégia diz que os Estados Unidos têm que reunir recursos tanto militares quanto "culturais e ideológicos" para derrotar um inimigo complexo e transnacional.
O documento também contém apelos para o desenvolvimento de métodos de guerra não padronizados em vez do foco no poder dos Estados Unidos em conflitos armados convencionais com outros estados. Gates também recomenda o desenvolvimento de parceria com a China e a Rússia para neutralizar a ascensão delas como adversárias em potencial e limitar seus crescentes recursos militares.
Robert Gates destaca a Índia como aliada, a qual, espera ele, reclamará ampla responsabilidade como país interessado no sistema internacional. Entretanto, a autoridade vê a luta com a al-Qaida e outros grupos terroristas como a principal meta dos Estados Unidos no decurso das próximas décadas.
Mesmo vitórias no Iraque e no Afeganistão não porão fim à guerra de longo prazo com grupos extremistas armados, acredita Gates.
"No futuro previsível, vencer a 'Longa Guerra' contra movimentos extremistas violentos será o objetivo central dos Estados Unidos," diz o documento estratégico, acrescentando que o Iraque e o Afeganistão "continuam a ser as principais frentes do combate."
Entretanto, o documento acrescenta que os Estados Unidos "não podem perder de vista as implicações da condução de um conflito de longo prazo, irregular, em frentes múltiplas, e de dimensões múltiplas, mais complexo e diversificado do que o confronto da Guerra Fria com o comunismo."
O documento de 23 páginas afirma: "O sucesso no Iraque e no Afeganistão é crucial para a vitória nesse conflito, mas isso só não trará vitória."
Gates usa a expressão 'longa guerra' introduzida por seu predecessor, Donald Rumsfeld. A autoridade usa essa expressão para assimilar a guerra contra o terrorismo ao comunismo soviético e ao nazismo alemão. Gates desistiu da idéia de atribuir a primeira prioridade ao uso preventivo da força militar. Ele insta para que a administração atual e a futura dos Estados Unidos cooperem com outros países para exterminar o terrorismo e as condições que levam a seu desenvolvimento.
"O uso da força desempenha certo papel, mas pode ser menos importante do que medidas para promover particiipação local no governo e programas econômicos para incentivar o desenvolvimento, bem como esforços para compreender e atender ressentimentos que amiúde situam-se no cerne das insurgências," diz o documento.
Em poucas palavras, Robert Gates acredita que os Estados Unidos devam fazer guerra por procuração.
A estratégia nacional de defesa, que o Secretário de Defesa dos Estados Unidos submete ao Senado e ao presidente dos Estados Unidos cada dois anos, espelha a evolução da decadente capacidade de defesa dos Estados Unidos. Os conceitos prévios expressavam a prontidão do país para combater o terrorismo internacional em qualquer parte do mundo. O "sucesso" de tal combate seguramente vem solapando a reputação da Casa Branca tanto dentro quanto fora dos Estados Unidos, e bem assim a reputação dos membros da OTAN que mandaram seus contingentes militares ao Iraque e ao Afeganistão. É hora de os Estados Unidos darem o verdadeiro nome às coisas.
Quando um relatório militar menciona um país pelo nome e o define como inimigo em potencial, deve-se ler isso como 'inimigo.' Portanto, os Estados Unidos denominaram oficialmente Rússia e China como inimigas oficiais. Não é preciso dizer que os Estados Unidos não conduzirão guerra contra esses dois países. É difícil imaginar o que aconteceria ao Exército dos Estados Unidos se a administração dos Estados Unidos declarasse guerra contra a China com a população de 1,5 bilião de habitantes que ela tem. Para culminar, a Rússia e a China possuem armas nucleares. Entretanto, um reconhecimento da China e da Rússia como inimigas dos Estados Unidos dará aos Estados Unidos oportunidade de assestar estações de radar e sistemas de defesa contra mísseis em qualquer lugar do mundo. A estratégia de Gates é uma declaração de guerra não oficial.
A situação econômica dos Estados Unidos também deixa muito a desejar. A guerra do ópio, que a nação desencadeou no Afeganistão, pode servir como a melhor prova disso. Washington não tem condições de bancar os gastos militares a expensas de sua própria indústria. A Inglaterra costumava solucionar satisfatoriamente seus problemas financeiros com a ajuda do ópio e das guerras do ópio na China.
Se os Estados Unidos forem privados dessa fonte de renda, o país não terá fundos suficientes para desencadear conflitos locais no mundo todo e para manter capacidade mínima de batalha de seu próprio exército.
Não se pode descartar a hipótese de a nova estratégia de defesa dos Estados Unidos ser apenas outra tentativa do país de preservar sua imagem de única superpotência do mundo. Além disso, esse conceito pode também permitir não evidenciar nenhuma reação contra as iniciativas da Rússia. Os Estados Unidos simplesmente declaram que podem lidar com a Rússia e a China ao mesmo tempo, criando assim a falsa impressão de líder do mundo.
Vladimir Anokhin
Pravda.ru
Autor do post : Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme
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