Confira abaixo alguns trechos da conversa.
Chávez: Quem fala?
Fidel: Me escuta.
Chávez: Te escuto.
Fidel: Ilustre e querido amigo. Como você está?
Chávez: Caramba, mas é Fidel! (aplausos)
Fidel: Oi, estou te escutando aqui no Alô, Presidente e todos os dados que você falou em alguns minutos aí. Me parece muito boa a argumentação sobre o crescimento, o PIB, sobre a queda do desemprego, coisas muito interessantes.
Chávez: How are you, Fidel? (em inglês)
Fidel: Very well (risadas). (em inglês)
Chávez : Oi, você não sabe a alegria que nos dá ouvir sua voz e saber que você está bem.
Fidel: Muito obrigado.
Chávez: Um abraço. Estamos muito surpresos, gratamente surpreendidos, e estamos, como quase sempre, falando de você há algum tempo.
Fidel: Eu sempre soube que acabaria aparecendo em um Alô, Presidente.
Chávez: Agora é todos os dias.
Fidel: Não, não, não, não me ponha a fazer isso, pois tenho trabalho duro aqui (risadas). Estudando muito, sobre tudo. Mas vejo que você não larga dos livros. Que horas você dorme?
Chávez: Bom, na madrugada eu durmo um pouco.
Fidel:: Um pouco.
Chávez: Durmo um pouco. Estou estudando muito. É uma das tarefas de todo revolucionário, e seguimos teu exemplo.
Fidel: Sim, e levas muito tempo lendo e tens um talento privilegiado para apreender tudo, recordar tudo. O que você às vezes se esquece são os números (risos).
Chávez: Bom, às vezes me esqueço, mas não tanto assim.
Fidel:: Mas você tem tudo aí anotado, não perde nada.
Chávez: Você sabe quantos hectares de milho são necessários para produzir um milhão de barris de etanol?
Fidel: De etanol? Creio que você falou outro dia em 20 milhões de hectares, algo como isso (risos), mas me lembre.
Chávez: Vinte milhões. Não, é você quem tem uma mente privilegiada.
Fidel: Ah, vinte milhões. Bom, a idéia de usar alimentos para produzir combustíveis é trágica, é dramática. Ninguém tem garantia de onde vão chegar os preços dos alimentos, quando a soja está se convertendo em combustível, com a falta que faz no mundo para produzir ovos, para produzir leite, para produzir carne, e é mais uma das tragédias que acontecem neste momento.
Me alegro muito que você tenha levantado a bandeira para salvar a espécie, porque é duro o que se precisa lutar para salvar a espécie. Porque existem problemas novos, muito difíceis, e você está como um pregador, realmente, um grande pregador, convertido em defensor da causa, o defensor da vida da espécie, e, por isso, te felicito.
Li, há pouco, que a Austrália se proclama o primeiro país do mundo a fazer uma revolução energética, e descubro que se trata de um projeto a ser realizado em dois ou três anos. Dá vontade de rir, porque vocês, em dois meses, já colocaram 34 milhões de lâmpadas, e em quatro meses terão cumprido a primeira meta de levar essas lâmpadas, que tantas vantagens têm, para todos os lugares.
Ou seja, já há exemplos aqui, mas alguns ainda estão colocando a Austrália em primeiro lugar. Não existe apenas um país, na Europa ou em qualquer outro lugar, que esteja preocupado com esse problema. Me perdoe se me estendi e roubei metade do seu programa.
Chávez: Não, que extenso que nada, são 7h49 do dia de hoje. Estamos lembrando porque você sabe que hoje é 27 de fevereiro e aqui nos dizem que há 18 anos uma das causas do Caracazo foi que você, quando veio aquela vez, deixou aqui 200 agitadores que teriam incendiado uma pedreira, como você disse.
E estamos fazendo uma análise hoje das causas de todo o tema da dívida externa, o tema da sexta-feira negra, o saque do país, a fuga de capitais, as privatizações, a inflação acompanhada de uma recessão terrível, o desemprego, o desmoronamento da classe média.
Bom, como disse Einstein, quando reflete sobre o socialismo, Einstein conclui que o capitalismo gera um caos. No Caracazo, Fidel, lembro que quando vi você por aqui, tentei me aproximar, mas não pude. Mas já estávamos aqui no movimento revolucionário. E falar ao mundo por aqui, pelo Alô, Presidente, e agora ouvindo e dialogando com você, que honra enorme, aquele dia em que o povo se levantou contra o neoliberalismo. O Caracazo foi a primeira resposta em nível mundial com uma contundência enorme ao plano neoliberal, quando caía a União Soviética, o muro de Berlim e começavam a dizer que havia chegado o fim da história e o pensamento único.
Hoje estamos trabalhando na 7ª Reunião da Comissão Mista de alto nível, em Havana, como você sabe, e as conclusões que recebi até agora são extraordinárias, do avanço da ALBA e da relação bilateral. Quero que montemos aqui várias fábricas, Fidel. Tragamos muitas tecnologias. O que você pensa disso?
Fidel: Me parece maravilhoso tudo isso. Há três anos inauguramos um parque eólico na Ilha da Juventude, ainda que pequeno, com geradores de 275 kilowatts. Mas servem de uma prova que vamos fazer aqui. Vocês vão fazer uma fábrica de aço inoxidável utilizando a energia barata que têm hoje disponível e, sobretudo, a energia que podem economizar vocês mesmos.
A Venezuela conta com um território de quase um milhão de quilômetros quadrados. Nós somos uma casca de noz que a corrente do golfo levou para bem perto de seus amigos do Norte.
Chávez: Our friends. (em inglês)
Fidel: Você disse que eu sei falar inglês. Eu soube, mas já faz um tempo.
Chávez: Você esqueceu?
Fidel: O trauma que me deixaram depois me fez esquecer. E por isso não tenho a memória privilegiada que você tem. Sua capacidade de síntese, seu ouvido musical, sua capacidade de lembrar qualquer canção. Porque não acredito que você possa ter feito tantas festas para que se lembre de todas as músicas que canta em Alô, Presidente. Aqui, invejo isso.
Chávez: Não festejei tanto como você. Nunca fui tanto a festas como você, nem cantei tanto como você.
Fidel: Não, homem, não! Me lembro mais ou menos da essência das idéias, mas você tem a palavra exata, que vejo que busca, repete, busca a palavra exata. No final, você vai se tornar um dos grandes escritores deste hemisfério. E não se lamente, porque os escritores têm um poder cada vez maior.
Chávez: Ia perguntar algo a você. O que você acha desta notícia de última hora que chega aqui? 67% dos americanos desaprovam a política de Bush no Iraque. Você sabe que estamos nos preparando para dar as boas-vindas ao Bush aqui na América do Sul.
Fidel: Ah, mas vão dar umas boas-vindas. Sim, ouvi falar algo, acredito que haverá manifestações em massa, tudo dentro do espírito muito pacífico e muito respeitoso. Mas aposto que você não sabe das notícias novas de hoje.
Chávez: Diga-me, dê-me um furo de reportagem aqui no Alô, Presidente.
Fidel: Por exemplo, a bolsa de Xangai caiu uns 9% hoje, e a bolsa de Nova York, que é a rainha, caiu 4%. É uma das maiores quedas que aconteceram nos últimos anos e isso realmente não faz nada senão comprovar o que estamos pensando.
Chávez: Bom, essa notícia eu não...
Fidel: Hoje perderam ali 800 bilhões de dólares, e essa é a rainha das bolsas. E caiu mais do que quando houve a crise no sudeste asiático. Não sei o que vai preocupar mais os dirigentes dos Estados Unidos, bom, quem dirige os Estados Unidos de moto-próprio, se a notícia do que aconteceu lá, ou o efeito na América do Sul. O que você pensa?
Chávez: Não, lhe digo que não tinha essas notícias, da queda das bolsas de Xangai e da bolsa de Nova York. Você deve saber já, porque você sabe tudo, que o Fundo Monetário está em crise e eu dizia ontem, e hoje, que, melhor, terão de pedir um empréstimo ao Banco do Sul. O Fundo Monetário não tem dinheiro para pagar saldos, estão vendendo barras de ouro.
Fidel: Sim, estão vendendo ouro, que é a única coisa que vale agora. Devem vender papéis, papéis que pagam os Estados Unidos. Vender ouro agora é coisa de louco. Mas, bom, o Banco do Sul é um banco sério, pretende ser um banco sério.
Chávez: Será um banco sério.
Fidel: O FMI nunca foi isso, mas a crise prova isso.
Chávez: É a mesma crise, como você bem sabe, crise da economia mundial. (...) Bom, Daniel Ortega veio aqui há três dias e conversamos por horas. Temos uma reunião na semana que vem em Manágua da Comissão Mista. Kirchner, como você sabe, veio à faixa do Orinoco e Kirchner me convidou. Aproveito para tornar isso público, dado a sua chamada. Não havíamos tornado isso público. Vamos fazer uma reunião em Buenos Aires na próxima semana, vamos continuar avançando na relação bilateral Argentina-Caracas e logo outra reunião na Bolívia ¿ vamos visitar Evo nesta próxima semana ¿ da aliança estratégica, esse eixo Caracas-Buenos Aires, passando por Brasília, o eixo com La Paz, agora com Correa.
Fidel: Agradeço muito por todas essas saudações, sua lembrança, e, sobretudo, me deixe devolver-lhe os microfones, pois se não me enrolo como você. Competir não poderia, mas imitar um pouco, sim.
Chávez: Moral e luzes!
Fidel: Moral e luzes! Isso não me sai da cabeça agora, porque é a primeira vez que vejo alguém tratando de ganhar esta batalha moral, conquistar o interior, o coração e a mente das gentes. (...) Peço a todo mundo paciência e calma, estou feliz porque vejo todo mundo tranqüilo. O país marcha, é o que mais importa. E peço também tranqüilidade para mim para cumprir minhas novas tarefas neste momento.
Chávez: Sim, Fidel. Me tornei... bom, você me transformou em uma espécie de emissário, ou de fonte. Aquele que quiser saber sobre Fidel, pois que venha aqui, me chame, converse comigo, e eu sempre direi a verdade, o que está acontecendo: sua recuperação, seu exemplo, sua coerência. (...) Você sabe qual é a audiência da primeira hora deste programa? Quarenta por cento! É estratosférica, como você sabe, a audiência do Alô, Presidente.
Fidel: Muito bem.
Chávez: Obrigado por sua chamada histórica.
Fidel: Um milhão de abraços para todos.
Chávez: Vamos dar um aplauso a Fidel (aplausos). Um bom aplauso, irmão. Um abraço camarada, companheiro, e você sabe que eu para isso não tenho complexos, te chamo de meu pai diante do mundo. Até a vitória sempre!
Fidel: Até a vitória sempre!
Chávez: Venceremos!
Fidel: Venceremos!
Chávez: Bravo! (aplausos)
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