Médio Oriente: Política dos Estados Unidos e Israel está errada

Há actualmente dois vectores na diplomacia internacional: a abordagem multilateral, baseada em respeito pela lei internacional, realçando a necessidade de seguir os termos de acordos assinados e no uso do Conselho de Segurança da ONU como o devido fórum de debate e diálogo numa base igualitária e não-discriminatória – e a abordagem tipo cenoura e pau, unilateralista, baseada nos interesses económicos de cliques elitistas, favorecida por Washington e seu protegido, Tel Aviv.

A primeira abordagem se torna cada vez mais a norma na diplomacia internacional e é a filosofia atrás das políticas de Brasília, Moscovo, Beijing e Nova Deli (o bloco BRIC, Brasil, Rússia, Índia e China) e a maioria dos outros estados na comunidade internacional. Contrastado a esta vertente é a abordagem unilateralista, adoptada pelo regime de Bush, onde as leis internacionais e normas diplomáticas são utensílios, usados e abusados quanto baste, que em vez de serem constantes de uma política baseada no direito e em preceitos morais, são apenas o meio para justificar um fim. A política de Maquiavelli, no século 21.

No mundo actual, também vemos métodos medievais a conduzirem esta política – os campos de concentração em Abu Ghraib, Baghram e Guantanamo, a tortura, os actos depravados de perversão sexual, perpetrados contra prisioneiros inocentes, o uso de equipamento militar contra alvos civis, os actos de assassínio em grande escala, a chacina de crianças, a violação de mulheres – métodos favorecidos por Washington e/ou Tel Aviv.

A reacção primária à vitória de HAMAS nas eleições palestinianas foi mais uma prova de quão errada é esta política. Se bem que o HAMAS tenha sido fundamentado numa plataforma que não só é hostil à ocupação ilegal das terras palestinianas por Israel, (como definidas pela ONU) como também produziu afirmações que não reconhecem o direito à existência de Israel.

Quantos dos norte-americanos no campo pró-Israel iriam concordar que o vizinho que invadiu seu pomar, tomou posse da sua casa, roubou seus haveres, armou-se, construiu uma colónia para seus amigos e se recusou a sair, tivesse qualquer direito de lá permanecer; quantos destes norte-americanos iriam reconhecer esse direito?

Contudo, a diplomacia internacional tem estas questões difíceis e complexas e tentar resolvê-las por meios ou argumentos simplistas só cria mais problemas. É essa a razão atrás da ONU e seu Conselho de Segurança, que afirma o direito de Israel a existir, porém dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas e não qualquer louca noção de um Grande Israel baseada num território referido nuns livros escritos há milhares de anos.

Por isso, o HAMAS, tendo sido democrática e legalmente eleito para representar o povo palestiniano no mundo de hoje, tem de reconhecer este direito, no entanto, há que ver que o movimento dificilmente consegue fazer a reviravolta em três tempos. Observadores inteligentes teriam notado que HAMAS reduziu substancialmente os comentários acerca do direito de existência de Israel durante a recente campanha eleitoral e os que rotulam este movimento como simplesmente uma organização terrorista (devido às actividades da sua ala militar, as Brigadas Izzedine al-Qassam) ignoram que a manifestação prática da HAMAS para tantos palestinianos é seu programa social (escolas, hospitais, etc.).

Como resultado, a política diplomática mais inteligente seria levar HAMAS na direcção de assumir as suas responsabilidades na comunidade internacional de hoje, o mesmo sendo de esperar de Israel, em seguir as linhas guia da Mapa de Estrada. A Federação Russa depressa viu esta realidade e pouco depois da sua eleição, HAMAS tinha uma delegação em Moscovo a entrar em discussões.

E o que fazem Washington e Tel Aviv? Recusando-se a dialogar, apesar da tentativa da HAMAS de estender o primeiro ramo de oliveira, propondo um processo de conversção, os EUA pede à Autoridade Palestiniana o retorno de 50 milhões de USD em apoio (que foi feito) e Israel retém os 50 milhões de USD que deve em direitos alfandegários. Juntos, tiram 100 milhões de dólares do cofre dos palestinianos e se recusam a falar com um governo que foi democraticamente eleito.

Fechar a torneira afecta o cidadão comum muito mais que a liderança e virar as costas numa primeira abordagem ao diálogo fecha a porta na cara de qualquer incipiente processo duradouro de paz, endurecendo as corações e mentes de aqueles que teriam gostado de embarcar passo-a-passo num caminho que levaria à existência mútua dentro de fronteiras seguras.

Mais uma vez, Washington e Tel Aviv tomaram a decisão errada. Nota zero para a diplomacia.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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