Jean Charles de Menezes, 27, um imigrante brasileiro legalizado, que tinha passado três dos seus cinco anos de visto de trabalho como electricista em Londres, é hoje uma memória nos corações e mentes da sua família, em Minas Gerais, no centro-sul do Brasil. Foi atingido cinco vezes na cabeça à queima-roupa enquanto deitava sem defesa e sem arma no chão dum comboio metropolitano.
Chamar esse acto de assassínio com dolo um erro trágico ou pedir muitas e profundas desculpas não faz com que Jean Charles volte. Contudo, esse acto horrífico de terrorismo de estado serve como exemplo de onde estamos a errar na nossa luta contra o terrorismo islamista.
Deve afirmar-se, desde o início, que ninguém aqui está a chamar a polícia britânica de terroristas e que o registo da força policial britânica está entre os melhores do mundo e que de modo geral, a polícia e serviços de emergência britânicas estão treinados e agem de acordo com os mais altos padrões.
Porém, é verdade que devido à reacção insensata por uma mão-cheia de países numa das situações mais sensíveis na história humana, chegámos a um estado em que um jovem não pode correr nas ruas de Londres sem que seja caçado e abatido, assassinado, com cinco tiros na cabeça.
A caça
Forças especiais da polícia britânica conduziam uma operação no edifício onde Jean Charles vivia em Tulse Hill, Brixton. Jean Charles saiu da casa no dia 21 de Julho para ir à sua vida...sua aparência, não branco de leite de olhos claros e cabelo louro, despertou a atenção da equipe das forças especiais.
Pele escura, hein? Seguindo a política Quanto mais escura a pele, pior deve ser a pessoa, a caça começou, cinco hienas atrás dum preso sem qualquer hipótese de se defender.
Jean Charles talvez sentiu que estava sendo seguido por um grupo de homens sem uniforme, musculosos, com olhar determinado e nada amigável. Quiçá tentou andar mais depressa e eles responderam, assustado, começou a correr, eles berravam para ele parar, frios, hostis, convencido que ele era terrorista porque tinha aspecto asiático (??).
Ora bem, para quem não tinha nada a esconder, apanhado numa cidade capital estrangeira em situação de extrema hostilidade, a ser seguido por cinco homens sem uniforme, com atitude agressiva, quem é que faria outra coisa senão fugir com todo o fulgor?
Foi o que Jean Charles fez, talvez convencido que estava a ser seguido por uma gang. A caça terminou com uma chuva de cinco balas desfazendo o crânio de Jean Charles, à queima-roupa, enquanto estava estendido no chão, em pânico, indefesa e sem armas, num comboio metropolitano de Londres.
A conclusão
A conclusão é que hoje em dia um jovem que não tem cabelos louros e olhos azuis não pode correr numa rua de Londres, porque pode ser considerado um terrorista. A conclusão é que o tipo de acção reflexo, tipo Bush, que segue a linha Se não es connosco, es contra nós, ou Se não fores branquinho, es um potencial terrorista, vai de mãos dadas com o tipo de acção que aconteceu, se bem que fosse num momento de grande tensão, em que um jovem foi assassinado somente porque estava a correr.
Num dos momentos mais sensíveis na história recente, quando terroristas islamistas perpetram actos de pura maldade contra civis, sejam homens, mulheres ou crianças, uma mão cheia de países, liderados por (quem é que havia de ser??) Washington, decidiram perpetrar um acto de chacina no Iraque, assassinando ou sendo associados com os assassínios de entre 75.000 e 100.000 pessoas, enquanto enviaram o país um século para trás em termos de desenvolvimento social.
Que reacção mais inteligente!
O que aconteceu em Londres no dia 7 de Julho foi consequência directa da decisão do governo britânico participar nesse acto de chacina, que abriu as portões para outros actos de assassínio, supostamente em retaliação. Afinal, qual é a diferença entre o assassínio dum civil nas ruas de Bagdade por uma bomba deitada por um piloto que acredita que segue as suas ordens e o assassínio dum civil nas ruas de Londres por uma bomba na mochila de alguém que acredita na teoria das setenta virgens? Será que o primeiro é justificado porque um piloto tenta ganhar corações e mentes através de tácticas de choque e pavor e o segundo é pura e simplesmente um acto de terrorismo?
O que aconteceu em Londres no dia 22 de Julho a Jean Charles foi muito mais do que uma tragédia, um erro ou um acidente. Foi resultado directo da associação criminosa entre um Londres talvez bem-intencionado e um Washington agarrado por um clique neo-conservador e cripto-fascista de capitalistas monetaristas cuja obsessão com a linha de fundo é maior que sua preocupação com a vida humana.
Jean Charles é o vítima inocente desta associação, nomeadamente um mundo mais perigoso em que os direitos humanos é um conceito que está a ser ultrapassado. O 1984 de George Orwell está bem vivo no Washington e Londres de hoje.
PAM!! PAM!! PAM!! PAM!! PAM!!
Ai, desculpem!
(Mas, ele estava a correr!!)
Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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