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O jogador de futebol, Edinaldo Batista Libanio, apelidado de Grafite, sentiu-se ofendido pelas palavras proferidas pelo jogador argentino Leandro Desabato, dirigidas à sua pessoa durante a partida entre São Paulo e Quilnes, realizado no último dia 13 de abril, o que resultou na prisão do jogador argentino e posterior instauração de inquérito judicial por injúria qualificada com agravante de racismo.

Ocorre que segundo as declarações de Edinaldo, digo, Grafite, o jogador argentino o chamou de “negro” e “negrito”. Mas Edinaldo (Grafite) é da raça negra, é afro-brasileiro e de cor preta. Um negro não pode se sentir ofendido por ser qualificado de negro, mesmo que a assertiva tenha conotação racista e a ação judicial, considerando este fato, não deveria ser julgada procedente. Ao contrário de se sentir ofendido, a reação de Edinaldo, deveria ter sido de altivez e orgulho ao ser assim qualificado pois é a sua raça.

Se, ao contrário de se sentir ofendido e interpelasse Desabato judicialmente, Edinaldo tivesse agradecido, isto teria tido um impacto tão devastador no seu racismo, que o faria certamente repensar seu comportamento. Ao contrário, sua prisão acarretará no crescimento de seu sentimento racista e também dos que o apóiam, como foi o caso das manifestações ocorridas na Argentina recentemente podendo criar um estado de animosidade entre brasileiros e argentinos que pode ultrapassar as fronteiras do esporte.

Dessa forma, Edinalo (Grafite) deveria se sentir ofendido e instaurar um processo toda vez que fosse chamado de Grafite, pois grafite nada mais é que um minério de cor preta que é utilizado comumente para a escrita e, ser assim chamado deveria ser tão ofensivo como qualquer outra denominação utilizada por grupos racistas para definir negros.

De qualquer forma, foi acertada a prisão do jogador argentino, ao menos para demonstrar para o mundo que no Brasil a lei é cumprida independentemente de quem seja o réu, mas tudo isto foi por terra, ao se permitir que Desabato fosse libertado sem se conhecer seus antecedentes e permitir dessa forma que ele pudesse retornar ao seu país. O mesmo ocorreu no caso dos seqüestradores do empresário Abílio Diniz, mas o brasileiro condenado à morte por tráfico de drogas na Indonésia, nem mesmo o pedido oficial de clemência do presidente Lula, fez com que fosse repatriado.

Quanto ao que está ocorrendo nos campos de futebol da Europa, o princípio deveria ser o mesmo: ao contrário de uma campanha contra o racismo no futebol, encabeçada, entre outros, pelo jogador francês Thierrt Henry, deveria haver uma comunicação oficial de desprezo ao racismo e orgulho à raça negra e, ao contrário de se sentirem ofendidos pelas demonstrações ridículas por parte de alguns torcedores, os jogadores deveriam simplesmente, ignorá-las, pois geralmente, o efeito que o desdém causa em alguém que deseja chamar a atenção através de futilidades, é o recolhimento à sua insignificância.

O racismo é próprio da natureza humana como qualquer outro mal que necessite ser extirpado para o crescimento espiritual e, como todos os outros males, há níveis de tolerância. Há pessoas que sequer conseguem trocar um simples aperto de mãos com um negro, bem como há pessoas que se relacionam normalmente, até com relações de amizade, mas não admitem, por exemplo, que um negro se sobreponha a elas, na escala social mas, felizmente, à medida que o tempo passa, com a evolução do pensamento, este mal está se desintegrando.

Nos Estados Unidos, que foi o palco das maiores demonstrações de segregação contra os negros, juntamente com a África do Sul, a evolução foi lenta e muito se teve de lutar até a aprovação da Lei dos Direitos Civis, de 1964.

Casos como o de George Wallace, governador do estado do /Alabama nos anos 60, foi uma comprovação desta evolução. No início foi um segregacionista convicto, mas ao final da vida tornou-se bem mais tolerante com a questão racial. Após, houve a eleição do primeiro prefeito negro de Nova Iorque, David Dinkins, em 1989 e recentemente a ascensão de Colin Powell e Condoleeza Rice a um dos postos mais altos no governo dos Estados Unidos sem falar no primeiro negro a ser nomeado Secretário Geral da ONU, Koffi Annan, embora sua nomeação tenha sido criticada, entre outros, pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton.

No Brasil, em que houve uma miscigenação de uma forma bem mais ampla que em qualquer outra parte do mundo, associado à nossa cultura que teve uma grande contribuição da raça negra em sua formação, o nível de racismo é muito mais reduzido embora o governo, recentemente, tenha estabelecido um mecanismo de segregação racial com a aprovação das cotas para negros nas universidades públicas. Mesmo que a real intenção tenha sido “resgatar a dívida social com os negros”,a lei, alem de fazer a distinção do homem brasileiro por raças, apresenta o negro e o índio, como inferiores.

Felizmente as manifestações que estão ocorrendo nos campos de futebol da Europa se restringem apenas a ofensas verbais, o que significa que o sentimento racista ainda é muito forte, principalmente entre os povos anglo-saxônicos germânicos e alguns povos latinos, mas este sentimento não pode mais resultar, impunemente, em agressão pura e simplesmente. A lei não mais ignora o negro. A Ku Klux Klan, por exemplo, hoje nada mais é que um grupo de idealistas que estão percebendo que o “fogo da degradação racial” não pode mais ser apagado.

Jose Schettini Petrópolis, RJ BRASIL

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