Meu caro companheiro Hugo Cháves, presidente da República Bolivariana da Venezuela, meus queridos amigos, ministros e autoridades do governo venezuelano,meus companheiros, ministros do meu governo e demais integrantes da comitiva brasileira, senhor embaixador da Venezuela no Brasil, senhor embaixador do Brasil na Venezuela, empresários da Venezuela e do Brasil, empresárias brasileiras e empresárias venezuelanas, meus amigos e minhas amigas,
É muito significativo que estejamos iniciando nossa programação na Venezuela com este encontro empresarial. Tenho insistido que as ações externas dos governos precisam de um forte apoio dos nossos setores empresariais. É, portanto, com grande alegria que constato que parcela altamente representativa dos homens de negócio, brasileiros e venezuelanos estejam aqui presentes.
O evento de hoje dá continuidade a uma bem-sucedida série de encontros iniciada em 2003. Mas ele é também especial, pois se dá em um momento em que nossos dois governos decidiram tornar realidade o sonho de forjar uma verdadeira aliança estratégica. Essa associação dará complementaridade inédita às nossas duas economias.
Prova disso é a notável recuperação do intercâmbio comercial, que passou de US$ 880 milhões em 2003, para US$ 1,6 em 2004. Eu prefiro ficar com o número citado pelo representante dos empresários brasileiros, que prevê uma perspectiva de 3 bilhões de dólares na nossa relação comercial para 2005.
Estamos, por outro lado, preocupados em buscar um maior equilíbrio em nossas trocas, de maneira que os ganhos com esse comércio produzam benefícios para os dois países.
A integração da América do Sul é prioridade número um da política exterior de meu governo e ela exige um aumento das trocas comerciais, no contexto de um comércio regional mais equilibrado.
Por isso, lançamos um programa de substituição competitiva de importações, já conhecido do segmento empresarial venezuelano. Ele é uma ferramenta que vem permitindo ao consumidor brasileiro conhecer melhor os produtos venezuelanos. Esse conhecimento mútuo é fator decisivo para o tão desejado aumento da corrente de comércio. Nesse sentido, a macro-rodada de negócios, prevista para realizar-se em Caracas proximamente, será de grande importância.
Querido companheiro Chávez, se quisermos estimular a crescente complementaridade de nossas economias, precisamos também continuar dedicando especial atenção ao tema dos investimentos e à questão da infra-estrutura. São muito promissoras as perspectivas para 2005, sobretudo no setor energético.
Refiro-me entre outros, aos entendimentos entre PDVSA e Petrobrás, para a construção conjunta de uma refinaria no Brasil e também para a prospecção na Venezuela. Refiro-me, igualmente, à cooperação entre PDVSA e BRASKEM, para a construção de uma petroquímica binacional. São enormes as possibilidades de exploração de ferro, carvão, bauxita e níquel por empresa constituída pela Vale do Rio Doce e pela Carbozulia.
Destaco os entendimentos com a Embraer, que permitirão que Venezuela se associe ao processo de montagem de aviões. Destaco, também, o compromisso da participação brasileira com a terceira ponte sobre o rio Orinoco; o significativo investimento que empresas brasileiras vêm realizando ou pretendem realizar em breve, bem como a cooperação nos processos de monitoramento do espaço aéreo da Amazônia.
Essas notícias nos enchem de orgulho e de esperança, pois representam uma oportunidade de geração de empregos e de riqueza nos dois lados da fronteira. Significa que despertamos para a imensa potencialidade de nossas economias e para a busca de soluções próprias para os desafios do nosso desenvolvimento. Um desenvolvimento que se dê efetivamente em benefício de nossas populações.
Deixo aqui, para os empresários dos dois países, o desafio e a provocação: associem-se, façam negócios, gerem rendas e postos de trabalho. O sucesso individual de vocês será também o sucesso de todos nós, pois, como tem dito o presidente Chávez, e aqui faço questão de repetir, "unidos, alcançaremos níveis superiores de liberdade".
Meus amigos e minhas amigas, eu quero crer que todos nós temos a exata dimensão do que estamos fazendo hoje, aqui, neste encontro. Não é mais uma reunião entre empresários brasileiros e empresários venezuelanos. Não é mais uma reunião entre o presidente Chávez e o presidente Lula, até porque já fizemos muitas reuniões.
O que estamos fazendo, aqui, é concretizando uma aspiração daqueles que lutaram pela libertação da Venezuela, daqueles que lutaram pela libertação do Brasil, daqueles que sonharam com duas nações soberanas, livres e autônomas, daqueles que sonharam com a autodeterminação dos seus povos.
O que estamos fazendo, aqui, é estabelecendo e concretizando uma aliança estratégica. Uma aliança estratégica profunda, que leve em conta a potencialidade dos dois países, que leve em conta o conhecimento científico e tecnológico dos dois países, que leve em conta a possibilidade da ajuda mútua entre os dois países. E tem que ser feito de uma forma tão sólida, que mesmo quando não existir mais Lula e Chávez, na presidência dos seus países, a sociedade da Venezuela e a sociedade brasileira estejam com tanta convicção do processo, que ele tenha continuidade para que as duas nações possam usufruir da riqueza que Deus nos deu.
Eu, presidente Chávez, tenho dito todo santo dia: o século XIX, uma parte do século XX foi europeu, uma outra parte do século XX, a grande parte, foi dos Estados Unidos. Eu penso que se nós tivermos consciência e agirmos com ousadia, nós teremos condições de transformar o século XXI no século do Venezuela, no século do Brasil, no século da América do Sul, no século da América Latina.
Nós não temos o direito de jogar fora essa oportunidade. Eu tenho dito, sempre, que nós podemos mudar a geografia comercial do mundo, restabelecer uma política de complementaridade se acreditarmos mais em nós mesmos, na criatividade do nosso povo, na capacidade de produção do nosso povo, no conhecimento do nosso povo. Isso não depende de nenhum presidente de outro país, isso depende única e exclusivamente da nossa disposição.
Dediquei meus dois primeiros anos de mandato para dar uma contribuição para a construção de uma aliança muito forte na América do Sul. Terminamos no ano passado, em Cuzco, criando a comunidade Sul-americana de Nações. Não é tudo que nós queremos, mas já é muito se nós imaginarmos o que tínhamos há dois anos.
Chávez tem mais dois anos de mandato, até 2006, eu tenho até 2006. Possivelmente, se nós dedicarmos mais esses dois anos à integração da América do Sul, à política de complementaridade entre os países, certamente, nós iremos dar um passo gigantesco e todos iremos perceber que os sonhos de Simão Bolívar estarão muito mais próximos de serem concluídos com a nossa atuação política ousada, com a nossa perseverança e, sobretudo, com a paciência que todos nós temos que ter nos momentos de adversidade.
Por isso, companheiro Chávez, estou feliz de estar aqui num momento bom da política da Venezuela. Apesar das enchentes e do excesso de chuva, quero aproveitar e transmitir a minha solidariedade ao presidente Chávez e ao povo da Venezuela, e dizer que estamos dispostos a ajudar naquilo que for possível. E quero também te dar os parabéns pela sabedoria nesse início de divergência com a Colômbia e, sobretudo Chávez, eu não poderia deixar de aqui, numa reunião com empresários brasileiros e venezuelanos, dizer do orgulho que tenho de saber que o referendo consolidou, possivelmente, o momento mais importante da democracia na Venezuela.
Acho que as divergências políticas são inerentes à democracia e elas existirão onde existir democracia. Aliás, só existirá onde existir democracia. Eu acho que o povo da Venezuela deu uma demonstração extraordinária de que é dono do seu nariz, que é dono da sua consciência e que é dono dos seus atos, com o resultado do referendo que consolidou a democracia na Venezuela. E hoje estamos percebendo a economia da Venezuela crescer, estamos percebendo o governo da Venezuela preocupado com a industrialização do país, até para tirar proveito da grande quantidade de petróleo que tem a Venezuela.
No Brasil, estamos vivendo a mesma situação. Eu estou feliz porque a produção industrial do meu Brasil teve o maior crescimento desde 1986, se bem que o crescimento de 1986 foi muito curto por causa do "cruzado".
Estamos convencidos, presidente Chávez, que entramos numa rota de solidez para a nossa economia.
O Brasil já teve dezenas de oportunidades. Acho que poucos países tiveram as oportunidades que o Brasil teve de se tornar uma economia sólida e estável mas, possivelmente, os desejos eleitorais de alguns políticos brasileiros permitiram que eles não tirassem proveito dos bons momentos que nós tivemos. E eu tenho dito, todo santo dia, que não jogarei fora esta oportunidade. O Brasil precisa de um novo ciclo de crescimento, que dure 10 ou 15 anos, mas que seja constante.
... (palavra inaudível) que graças a atuação do presidente Chávez, do presidente Lula, do presidente Kirchner, do presidente Toledo e de tantos outros presidentes, a América do Sul, finalmente, atingiu a sua maior idade política, econômica, e adotou a liberdade, a soberania e a auto-confiança como instrumento do desenvolvimento e de repartição de riquezas.
Muito obrigado e boa sorte.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
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