O governo do ex-primeiro ministro Durão Barroso aprovou um documento que cria um organismo para gerir crises sem consultar nem o órgão de consulta do Presidente em tempo de crises, nem o Conselho de Chefes de Estado-Maior, que estaria no centro de qualquer acção para resolver crises quando aparecessem.
Que ingratidão
Mas que ingratidão! Depois de Jorge Sampaio ter escolhido um governo de Santana Lopes sobre uma vitória certa do Partido Socialista, o Barroso foge para Bruxelas apontando um organismo para actuar em assuntos de grande interesse nacional mas sem consultar os organismos que aconselham o Presidente.
O Sistema Nacional de Gestão de Crises entrou em vigor no dia 22 de Julho, um dia depois do diploma ter sido publicado no Diário da República, sem qualquer discussão no Conselho Superior de Defesa Nacional, que serve de conselheiro para o Presidente quando surgem assuntos de defesa nacional, e sem sequer consultar o Conselho de Chefes de Estado-Maior, negando assim a oportunidade de ouvir a opinião de precisamente o organismo que iria enviar e controlar os efectivos para a resolução da crise.
Como se define uma crise?
De acordo com o Ministério da Defesa, uma crise se constitui por acções terroristas, a utilização ou ameaça de utilizar Armas de Destruição Maciça, conflito armado, situações de fome, catástrofes e calamidade. Em fim, qualquer situação em que seriam utilizadas as Forças Armadas.
Por isso, como se justifica o acto de estabelecer um Sistema Nacional de Gestão de Crises desta forma? Começa a surgir a noção que se não é extrema arrogância, mas incompetência.
O quê é que vai seguir? Projectos de lei para alterar o Serviço Nacional da Saúde sem consultar os médicos, projectos para alterar o sistema educativo sem falar com os professores ou de alterar a lei criminal à margem dos efectivos da Polícia?
Falta de comunicação
Uma grande falha neste (des)governo é, e sempre foi, a ausência de capacidade de comunicação. As medidas são decididas em escritórios fechados, por políticos profissionais que em muitos casos perderam há gerações o contacto com a vida real, que vivem em redomas de cristal, que são levados da casa para o emprego pelo motorista particular (que a seguir leva a mulher ao emprego e os filhos à escola), que não andam em transportes colectivos, que não sabem o que é ganhar um ordenado mínimo à portuguesa e pagar preços de alimentação à europeia.
Não é só o (dês) governo PSD/PP que precisa de descer do pedestal, é toda a classe política, excepto talvez a maioria dos militantes do Partido Comunista e o Bloco de Esquerda.
Já não basta a falta de comunicação com a população nem sequer há comunicação entre os organismos centrais que seriam afectados directamente pela tomada duma decisão que os envolve mas sem os consultar.
Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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