Falar bem do Brasil não é difícil, pois se precisaria de muita má vontade se não se reconhecesse os muitos valores deste grande país, deste povão com o coração tão grande como o Amazonas, do empenho e carinho dos muitos que fazem do Brasil um sítio agradável e inesquecível para passar umas férias, ou para escolher como lar.
No entanto, não é por sempre dizer bem que as pessoas ajudam, quando uma opinião forasteira muitas vezes abre os olhos melhor do que as vozes daqueles que vivem dentro do sistema e por isso são cegados por ele.
Ontem, dia 4 de Agosto, morto de sono depois duma viagem de nove horas e vinte minutos de Lisboa para São Paulo, deparei com o maior exemplo de estupidez institucional desde a semana passada quando tive o privilégio de passar um dia com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em Portugal.
Com o voo já atrasado em uma hora e meia, restava apenas a mesma quantia de tempo para efectuar o controlo dos passaportes, pegar nas bagagens e fazer outro check-in para Fortaleza.
Na sala de desembarque há três filas em São Paulo. Uma para brasileiros, outra para estrangeiros e uma para American citizens, que merecem tratamento especial igual ao que espera os brasileiros lá nos EUA. Nada estranho aí.
Mas o que é estranho é que havia só um funcionário a atender a fila de estrangeiros que tinha nada menos que 347 almas a esperarem. Uma pessoa, que mesmo assim entrava e sair do seu cubículo, deixando os estrangeiros desesperados. Daí que uma palhaçada, o Brasil é sempre assim? esta malta é sempre autoritária, nunca mais ponho cá os pés foram os comentários mais ouvidos. Será esta imagem que o Brasil quer passar para o exterior?
Ironicamente, os American citizens podem ultrapassar os outros, porque têm um funcionário especial a espera deles; por isso qualquer eventual retaliação contra o tratamento de brasileiros nos Estados Unidos sai ao contrário: ficam beneficiados porque não têm de passar horas para receberem um carimbo no passaporte.
Passado meia hora chegaram mais dois empregados, acenaram, sorriram e fizeram uma vénia, com os estrangeiros a baterem palmas (uma autêntica palhaçada num espaço que é suposto ser sério) e o primeiro empregado foi-se embora. Só muito mais tarde colocaram mais dois oficiais, fazendo quatro, para os 347 que tinham amontoado mais dois aviões cheios.
Eu consegui apanhar o voo de conexão para Fortaleza por um milagre. Com certeza muitos outros passageiros da Varig que seguiam para outros destinos não tiveram a mesma sorte.
Se bem que o brasileiro é tratado a chuto noutros países, utilizar o argumento um olho por um olho nada faz para remediar a situação, antes pelo contrário, porque qualquer simpatia e pena que uma pessoa sentisse por causa da maneira em que eram tratados os emigrantes brasileiros no estrangeiro, se perde no aeroporto de São Paulo, onde é demonstrado uma total e estudada falta de respeito pelo visitante. A mensagem é posso mandar e por isso mando, tenho poder total sobre ti e vou utilizá-lo.
É pena porque o resto da estadia no Brasil é sempre aquela maravilha: pessoas que têm prazer em receber o visitante e que sentem prazer em vê-lo satisfeito, comida maravilhosa, praias lindas, um património cultural e histórico riquíssimo e tudo o resto que faz do Brasil um grande país.
É pena porque a pequenez e estupidez institucional daquela gente que recebe o turista na entrada, faz logo a primeira impressão, que é negativa, extremamente negativa. Uma pessoa a atender 347 estrangeiros não é receber os visitantes com respeito e nunca pode criar uma imagem positiva de competência e de gestão de pessoal.
É pena porque todos os brasileiros a espera dos familiares estrangeiros disseram que não tinha defesa um tratamento destes, que tinham vergonha de serem brasileiros e que não tencionavam colocar mais os pés aqui durante muitos anos.
Não é isso a mensagem que as autoridades brasileiras querem passar para o exterior. Por isso esperemos que este artigo seja recebido não como uma crítica destrutiva mas como um conselho amigo duma pessoa que ama o Brasil com todo seu coração.
Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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