O míssil disparado com a publicação das fitas de vídeo, nas quais aparece Waldomiro Diniz, ex assessor para assuntos parlamentares da Casa Civil, e os desdobramentos de casos de corrupção, atingem em cheio o governo Lula. É bizarro, mas não surpreendente.
O governo Lula/Alencar está no olho do furacão das denúncias de corrupção. A alta cúpula petista pisoteou a história do partido e as bandeiras que fizeram grande o PT. Abandonando os trabalhadores e suas lutas para privilegiar o jogo eleitoral, buscando um bom resultado nas urnas a qualquer preço, o PT, ao longo do tempo, foi convertendo-se em mais um partido da ordem, em um partido igual aos outros.
Por isso, não surpreende que a lama das denúncias de corrupção esteja hoje na soleira da porta da alta cúpula petista. Ao unir-se com o que há de mais podre e fisiológico na política brasileira, a cúpula dirigente cristalizou a construção do "New PT". Trocaram os parlamentares radicais pelos Sarneys e ACMs; os honestos lutadores dos movimentos sociais pelas nebulosas figuras dos Waldomiros, Cachoeiras, Burattis e Sombras. Desta forma cristalizaram não somente mudanças programáticas, mas deram um salto na mudança do caráter de classe do partido. Tais transformações não se expressam apenas no terreno político e econômico, também nas práticas políticas.
Porém, agora, está colocado mais um elemento: banqueiros não são apenas os financistas. Os escândalos de corrupção envolvendo Waldomiro Diniz, assessor para assuntos parlamentares, ligado diretamente ao quarto andar do Palácio do Planalto, à Casa Civil do poderoso Ministro Zé Dirceu, demonstra que um outro tipo de "banqueiro", o das bancas de bicho, da exploração dos bingos, tinham, pelo menos com Waldomiro, livre trânsito no governo.
Investigar a fundo todas as ramificações espúrias que este esquema montado por Waldomiro poderia ter e que o governo e sua base aliada tenta ocultar, é o que exige a maioria da população, como demonstram as pesquisas de opinião.
Crise e unidade burguesa em torno do governo Lula
Aberta a crise com as denúncias de Waldomiro, e os desdobramentos que chegam até o escritório de Palocci, passando pela CEF, o livre trânsito do tesoureiro do PT nos ministérios e a liberação de verbas para o filho de Dirceu, para nomear alguns, as críticas e os atritos dentro do governo não param de crescer. Nas últimas semanas, todos tentaram se diferenciar.
A Executiva Nacional do PT lançou nota pedindo mudanças na economia; o líder do PL, partido do vice presidente, pediu a renúncia de Palocci e de Meirelles; o Ministro de Agricultura chamou o Ministro de Planejamento - Guido Mantega - de vagabundo, o PFL de Bornhaussen e o PSDB de Artur Virgílio aparecem como os maiores opositores do governo, e na convenção do PMDB, aliado fundamental e decisivo do governo, fortaleceu-se o setor mais crítico e distante do Palácio do Planalto. Evidentemente, que com o pano de fundo da economia estagnada e da crescente insatisfação popular, todos pensam nas eleições municipais e tentam capitalizar o descontentamento com o governo. Mas é importante definir se realmente existe uma fratura da frente burguesa em torno do governo Lula e se o destino mais provável é o de avançar em direção a uma crise institucional. Para isso, é fundamental avaliar a condutas dos partidos em torno da possível CPI dos bingos e do Waldomiro.
Neste caso, mais uma vez, os aliados decisivos foram Sarney, ACM e Renan Calheiros, treinados no governo FHC em barrar investigações sepultando CPI's, que junto a alta cúpula do PT e do governo, montaram a "operação abafa" negando-se a nomear os parlamentares para instalar a CPI dos Bingos, na tentativa de varrer a sujeira para baixo do tapete. Esta unidade burguesa com o governo para sepultar a CPI não é episódica nem casual, é sim o resultado de um projeto comum. Não é de estranhar que Waldomiro Diniz circulasse pelo Congresso Nacional negociando, em nome de seu chefe José Dirceu e do governo, o voto favorável à Reforma da Previdência, à Lei de
Falências ou a alguma das outras medidas da atual política econômica. A unidade burguesa em torno do governo Lula sustenta-se em que o atual governo está aplicando o plano que o FMI, os banqueiros, os grandes empresários e os latifundiários querem. Todos estes setores estão bem representados no Congresso Nacional, fundamentalmente através do PSDB, PMDB, PP, PTB, PFL, e fornecem uma folgada base de sustentação ao governo Lula, capaz de decidir tanto a sepultura de uma CPI quanto a aplicação de medidas políticas e/ou econômicas contra os trabalhadores e o povo. Uma boa demonstração disto, está no discurso de uma das maiores figuras tucanas, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) quem afirmou: "A desestabilização do ministro Palocci acarretaria o mais absoluto caos neste momento".
Mas além de estar aplicando um plano que lhes favorece, os partidos da burguesia conseguem cargos para eles e seus apadrinhados, como a recente nomeação, para a presidência dos Correios, de José Henrique Almeida, um ex ministro de FHC que pertence ao PMDB de Sarney, que desta forma recebe o prêmio de chefiar uma das principais empresas do estado brasileiro, pelo "favorzinho" de abafar a CPI no Senado. Isto não significa que a crise não possa se agravar e o quadro mudar. Até onde chegarão as denúncias e as investigações em torno das nebulosas figuras que ao redor do PT, montaram esquemas de enriquecimento por meio de concessões de obras, empresas de lixo, transporte, jogo e outros mecanismos, estruturados nas prefeituras petistas, é uma incógnita ainda não revelada.
Babá
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