O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ironizou a assinatura, no último dia 8, em Praga, do tratado de desarmamento nuclear pelos presidentes Barack Obama, dos Estados Unidos, e Dmitri Medvedev, do Rússia.
Desativar o que? Desativar o que está vencido não faz sentido. Eu tenho em minha casa uma caixa de remédios e vou tirando os que estão vencidos. Ou falamos sério sobre desarmamento ou não podemos admitir que haja um grupo de países armados até os dentes e outros desarmados", afirmou Lula.
O presidente brasileiro foi a Washington, nos Estados Unidos, para participar da Cúpula de Segurança Nuclear, que vai discutir a cooperação internacional na área de proteção física de material, instalações nucleares e combate ao terrorismo nuclear.
Lula disse que o Irã "é um grande país, com uma cultura própria, que criou uma civilização. É preciso que os iranianos saibam que podem enriquecer urânio para fins pacíficos e que os demais devem ter tranquilidade de que será para fins pacíficos".
Se acontecer de a China apoiar sanções ao Irã, o Brasil poderá ser isolado. A posição brasileira de rejeitar novas sanções contra o Irã poderá ser posta em xeque, caso a China decida apoiar as medidas.
"Se a China concordar com novas sanções, isso vai mostrar que as grandes potências mundiais estão preocupadas com a questão nuclear do Irã. Ignorar esse fato não é a direção correta a ser tomada por um país que deseja ser uma potência global, disse Mauricio Cárdenas, diretor do Instituto Brookings, de Washington.
A questão nuclear iraniana deverá estar no centro dos debates entre 47 países na Cúpula sobre Segurança Nuclear, em Washington. Até o momento, Brasil e China têm adotado discursos semelhantes sobre o assunto, com manifestações contrárias à imposição de uma quarta rodada de sanções da ONU contra o Irã e com a defesa do diálogo como melhor caminho.
Apesar de ter se postado contra sanções ao Irã, Pequim vem dando sinais de que pode mudar sua posição. O governo chinês já aceitou "discutir" as sanções, e enviou representante a uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para debater o tema. "O Brasil talvez tenha de acabar apoiando as sanções se a China assim o fizer", diz Alireza Nader, especialista em Irã da Rand Corporation.
A China é membro permanente do Conselho de Segurança, ao lado de Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, e por isso tem poder de veto sobre as resoluções do órgão. O Brasil também integra o conselho, mas com uma vaga rotativa, sem poder de vetar as resoluções.
O governo brasileiro, porém, deseja obter no futuro uma vaga permanente. A Rússia, outro membro permanente que também era contrário a novas sanções contra o Irã, recentemente manifestou seu apoio às medidas.
Os Estados Unidos e outros aliados pressionam a recusa do governo iraniano em interromper seu programa de enriquecimento de urânio. Esses países temem que o Irã esteja trabalhando secretamente para fabricar armas nucleares.
O governo iraniano nega essas alegações e diz que seu programa é pacífico. As sanções já aprovadas pelo Conselho de Segurança se mostraram até agora pouco eficazes em pressionar Teerã a interromper seu programa nuclear.
As novas sanções em discussão, segundo especialistas, seriam direcionadas a empresas ligadas à Guarda Revolucionária do Irã, que controlam negócios domésticos e no Exterior.
Depois que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança chegarem a um acordo sobre uma nova rodada de sanções, a proposta de resolução é levada a votação, com a participação dos outros dez membros com vagas rotativas.
"Em geral, a posição do Brasil não seria crucial. Mas o Brasil é o único país com uma boa reputação global, considerado um 'bom cidadão global', que parece apoiar o Irã neste momento", diz o presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, Peter Hakim.
O analista afirma que não se deve esperar que o Brasil mude de posição de uma hora para outra, caso a China resolva apoiar as sanções. "Mas vai ter que mudar em algum momento. Ou não vai ser levado a sério", diz Hakim.
Segundo Hakim, ao contrário da China, o Brasil, além de se manifestar contra as sanções e a favor do diálogo com o governo iraniano, também demonstra não acreditar que o Irã busque desenvolver armas nucleares, e está disposto a dar ao governo iraniano o benefício da dúvida.
"Agindo assim, o Brasil dá a impressão de estar desconectado dos fatos. Sugere que considera o Irã um cidadão internacional perfeitamente responsável. Dá a impressão de não estar totalmente informado sobre o papel do Irã no Oriente Médio", diz Hakim.
Mauricio Cárdenas, analista do Instituto Brookings, disse que a imagem do Brasil poderia ser arranhada caso o país insista em apoiar o Irã, e que em uma questão que diz respeito a toda a comunidade internacional, discordar não é sinal de independência, é sinal de que o Brasil não entendeu os riscos".
A programação oficial da Cúpula de Segurança Nuclear prevê plenárias e discussões sobre a cooperação internacional para evitar o terrorismo nuclear. Segundo a Casa Branca, os países vão discutir medidas conjuntas e individuais e buscar um plano de ação sobre o tema. A questão iraniana não aparece na agenda oficial, mas deverá movimentar os encontros bilaterais previstos para os dois dias do encontro.
O presidente americano, Barack Obama, vem mantendo uma série de discussões bilaterais, entre elas com o presidente da China, Hu Jintao. A cúpula ocorre no momento em que a questão nuclear ocupa espaço de destaque na agenda política de Obama.
Lula defende o "direito" ao uso da energia nuclear e o Irã promete se queixar na ONU contra nova política nuclear dos EUA. O Irã vem indicando que insistirá com seu programa nuclear, e o Brasil vem mostrando que será contra a imposição de novas sanções, como querem americanos e europeus.
A chanceler alemã, Angela Merkel, quer uma decisão rápida sobre sanções ao Irã. Ela quer que se acelere a decisão sobre possíveis sanções ao Irã dentro da polêmica nuclear, e disse que "o tempo pressiona, e a decisão sobre possíveis sanções ao Irã terá que ser tomada em breve".
Merkel disse ser bom que na cúpula de segurança nuclear haja representantes de China e Rússia, que até agora se mostraram reticentes à imposição de sanções ao Irã.
O Irã rechaça decisões da cúpula nuclear e diz que apresentará queixa na ONU. Segundo o Teerã, as decisões tomadas pela cúpula já são 'conhecidas de antemão', e afirma que não se sentirá de nenhum modo vinculado aos compromissos da cúpula sobre segurança nuclear.
"Os resultados da conferência de Washington são conhecidos de antemão, e nenhuma de suas conclusões podem ser vinculantes para os países que não assinarem o acordo", disse Asghar Soltanieh, representante da República Islâmica na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O Ministério iraniano de Assuntos de Exteriores apresentará uma queixa oficial na ONU pelo que considera uma "ameaça nuclear do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, contra o Irã", anunciou hoje o porta-voz desse Ministério, Ramin Mehmanparast.
Segundo a agência Fars, Mehmanparast se referiu dessa forma à postura nuclear dos EUA expressada pelo presidente Obama, que ameaçou - segundo a interpretação iraniana - com armas nucleares os países como o Irã e a Coréia do Norte.
"Vamos denunciar oficialmente na ONU esse tipo de declarações por parte de um país que possui armas nucleares", e indicou ainda que "a nova geração de centrífugas (em construção no Irã) para acelerar a produção do combustível nuclear não tem fins bélicos".
Durante o ato de comemoração do Dia Nacional da Energia Atômica, em Teerã, as autoridades iranianas anunciaram a fabricação da terceira geração de centrífugas, seis vezes mais rápidas que a primeira, em um novo desafio à comunidade internacional.
Mehmanparast argumentou que o Irã tem de produzir os 20 mil megawatts de eletricidade fixados no projeto aprovado pelo Parlamento e para isso precisa criar 20 usinas nucleares do mesmo tamanho que a central de Busher.
ANTONIO CARLOS LACERDA
PRAVDA Ru BRASIL
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