Em meados de março, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), retirou da pauta de votação o projeto popular contra os candidatos "fichas-sujas" (algumas imundas) alegando que seria um desastre (ou vergonha?) o projeto ser rejeitado por falta de consenso. No caso, não exatamente um consenso, mas um, digamos, dilema ético; um falso impasse a respeito de um hamletiano "ser ou não ser" elegível do ponto de vista do freguês - que outrora se dizia ter sempre razão.
Dali a quatro dias, o volátil ceticismo - jamais resistência, não é mesmo? - de Temer se havia evaporado, e ele já falava em "certo consenso", apoio de líderes e outras entabulações para levar o agora previsivelmente vitorioso "ficha-suja" ao plenário. O presidente da Câmara chegou a dizer que o texto havia "melhorado bastante", embora não especificando para quem exatamente.
O eleitor mais escaldado, sabendo que três dos principais partidos, PSDB,DEM e PT, irmanados no infortúnio do Mensalão, haviam-se declarado frontalmente contra a malfadada iniciativa popular - com a silenciosa aquiescência, entre outros, do talvez principal interessado em ver a coisa naufragar, o PMDB - não terá dado um tostão pelas ciclotímicas declarações de Michel Temer.
Passou a Páscoa. E, com ela, o ensaiado otimismo.
Modo de dizer, quase às portas do início da campanha, nenhum candidato se atreve a dizer o que realmente pensa do projeto, preferindo mencionar "inconveniências" embrulhadas em sofismas como a validade da presunção de inocência, que, ao ver de suas excelências, compreenderia, além da área criminal, a seara eleitoral. E por que não também a cível, que impede candidatos a cargos públicos de carreira de prestar concurso se tiverem uma nódoa no currículo, por microscópica que seja?
Não, senhores, se um brasileiro qualquer, dessa gente comum que se vê nas esquinas do País for se candidatar a um emprego em empresa privada, não poderá nem mesmo ter seu "nome sujo" por estar apontado nos serviços de proteção ao crédito, ainda que inadimplente por, quem sabe, ter sido despedido numa dessas fusões que tornam empresas já enormes em títeres tão poderosos que grandes demais para quebrar. Se tiver ficha criminal então, não passa nem pela porta de entrada.
Haveria alguém, numa discussão honesta, de ousar dizer que o juiz de carreira, obrigado a provar com uma pilha de certidões negativas a sua aptidão moral a ingressar na magistratura tem menos direito à presunção de inocência que os homens e mulheres que fazem as leis por meio das quais ele julga e decide o destino alheio?
Contrariando o poeta Fernando Pessoa, para os políticos que ousam contrapor suas conveniências às de quase dois milhões de eleitores que se manifestaram, - e sabe-se lá quantos mais, que não se deram o trabalho de fazê-lo, mas hipotecam seu apoio moral aos ativistas, "tudo vale a pena quando a alma é pequena".
Site da campanha: www.avaaz.org
Luiz Leitão é jornalista [email protected]
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