TENDÊNCIAS/DEBATES
"A luta foi ganha pela continuidade", afirmou Chico de Oliveira, reconhecido cientista político de longa trajetória no PT. Contra a continuidade, expressa no projeto de reforma da Previdência, milhares de servidores públicos manifestaram-se na Esplanada e entraram em greve.
Pela primeira vez, aqueles que construíram a vitória eleitoral de Lula estão enfrentando o novo governo e vaiando os parlamentares e sindicalistas identificados com a proposta oficial. Intelectuais petistas, servidores públicos e os chamados "radicais" do PT são a ponta do iceberg da revolta que se multiplica pelo país, contra a política de um governo que o povo elegeu como seu e que acabou pactuando com os inimigos dos trabalhadores.Vãos são os discursos da direção do PT, acusando-nos de "fortalecer a direita", porque o novo fenômeno político e social é o confronto entre o governo Lula e sua base social, causado pela decisão da direção majoritária do partido, hoje no governo, de mudar de lado, aliando-se à direita. Essa mudança se expressa também na presença de Lula na reunião da Governança Progressista, convocada por Tony Blair, que se propõe a renovar a desgastada Terceira Via, cooptando o "New PT" para dar credibilidade à impossível tarefa de "humanizar" o ajuste neoliberal.
Por isso a revolta dos petistas não pode ser sufocada pelas ordens ditatoriais vindas da Casa Civil, que tenta amedrontar e punir aqueles que com justa razão se rebelam.O presidente do PT, José Genoino, escreveu que "a reforma da Previdência proposta pelo governo Lula (...) mantém uma coerência inquestionável com a postura política de esquerda", tentando ocultar que o pêndulo da política econômica continua indo para o lado dos poderosos, aprofundando o modelo herdado de FHC.Nestes seis meses de governo, o crédito e o salário encolheram; a produção, o consumo e as vendas despencaram, enquanto o desemprego bateu recorde, indicando que estamos à beira da recessão.
Em vez do "espetáculo do crescimento", a população assistiu, constrangida, ao triste espetáculo de milhares de desempregados disputando uma vaga de gari no Rio. No entanto o BankBoston, que paga US$ 750 mil anuais ao presidente do BC, viu-se retribuído generosamente, aumentando seus lucros em 410% no primeiro trimestre de 2003.
Nosso compromisso é com o "velho" PT, não com o FMI e os banqueiros. Não nos assusta a Comissão de Ética
Mas a "política de esquerda inquestionável" não pára. Lá vêm a reforma que mantém a injustiça do sistema tributário, no qual quem ganha R$ 3.000 paga o mesmo que quem ganha R$ 30 mil. Porém avança na ampliação da "desvinculação da receita", para dispor dos tributos vinculados às despesas com saúde ou educação a fim de pagar os encargos da dívida. A agenda continua, com a modificação da CLT.Para coroar essa mudança, Lula comprometeu-se a implementar a Alca até 2005, sendo que meses atrás definiu esse acordo como um projeto de anexação por parte dos EUA. Esta, longe de ser uma política de "esquerda inquestionável", é o ajuste estrutural e permanente defendido pelo Consenso de Washington e pelo Banco Mundial. Para poder aplicá-lo, em um toma-lá-dá-cá de dar inveja a FHC e afastando os "hereges" e os "dissidentes" da bancada e das comissões, o governo avançou na conformação de sua base parlamentar. A adesão do PMDB custou embaixadas, diretorias de bancos e futuros ministérios, mas chegou.
Essa continuidade nas práticas políticas é necessária para manter a continuidade na política econômica.Essa base de sustentação tem seu preço: hoje é responsabilidade do PT o engavetamento e a paralisia de diversas CPI's, como a dos grampos da Bahia ou a da privatização das teles. Abortada no Senado, a CPI do Banestado será mista, mas as pressões do Planalto buscam impedir uma apuração para valer do sumiço de US$ 30 bilhões, pelo envolvimento que teriam políticos e empresários.Não, presidente Genoino, tais não são posturas políticas de esquerda de uma coerência inquestionável, mas é a rendição às políticas neoliberais da direita, que sempre combatemos. Por isso vocês têm a coragem de tirar 11% dos aposentados, mas não de tirar 11% das terras do latifúndio e dos lucros do sistema financeiro.Seguiremos na luta, porque a mobilização junto com os trabalhadores é a única forma de derrotar esse projeto. Nosso compromisso é com eles, com o "velho" PT, não com o FMI e os banqueiros.
Não nos assusta a Comissão de Ética. Continuamos junto dos petistas que se rebelam, escrevem manifestos, propõem alternativas, rejeitam punições e resistem. Assumimos o caminho da esquerda coerente, de unir os petistas, os trabalhadores e os lutadores para derrotar a agenda neoliberal.
João Batista Oliveira de Araújo, o Babá, 49, engenheiro, é deputado federal pelo PT do Pará.2) Assista Deputado Babá e Deputada Luciana Genro, na GNT, Entrevista com Marília Gabriela - estréia: domingo 20/07 22:00 h Reprises: 3ª f. 22/07 21:00 h 4ª f 23/07 10:00 h e 16:00 sábado 26/07 15:00 h Domingo 27/07 03:30 h
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