Ato em frente ao Globo
A campanha de Paulo Ramos (PDT) à prefeito do Rio convoca todos e todas para um ato público em frente ao jornal O Globo, que fica à Rua Irineu Marinho 35 - Cidade Nova. Paulo vem afirmando durante a campanha que o "Sistema Globo está liderando um golpe nessas eleições. Já escolheram os candidatos que podem vencer e os candidatos que serão derrotados".
Num primeiro momento, o escolhido pelas Organizações Globo era Fernando Gabeira (PSDB-PV-PPS). Mas quando Eduardo Paes (PMDB) entrou na disputa, a aliança do governo estadual com a empresa de comunicação falou mais alto. Nas entrevistas concecidas ao RJTV, Paes foi o único a não ser incomodado por perguntas difíceis. A equipe da TV Globo omitiu, por exemplo, uma entrevista de Eduardo Paes concedida ao próprio RJTV, há dois anos, quando concorria ao governo do estado pelo PSDB.
Na ocasião, o agora peemedebista (que também já foi subprefeito no governo César Maia, do DEM/PFL) defendeu o crime organizado conduzido por policiais e outros agentes de segurança: "Jacarepaguá, no Rio de Janeiro [Zona Oeste], é um bairro que a tal da polícia mineira, formada por policiais, por bombeiros, trouxe tranquilidade para a população. O morro do S. José Operário era um dos morros mais violentos desse estado, e agora é um dos lugares mais tranquilos". Veja o vídeo abaixo:
[http://consciencia-textos.blogspot.com/2008/09/ato-em-frente-ao-globo.html]
Enquanto preserva os candidatos de sua predileção, as Organizações Globo atacam aqueles que sustentam um programa político independente do esquema que mantém o Rio de Janeiro violento e desigual. Foi o caso da reportagem contra Chico Alencar (PSOL-PSTU), que teve chamada de capa nesta sexta-feira, 5 de setembro. Debaixo da rubrica "Propaganda enganosa", o texto acusa: "Chico promete o que não pode fazer: O candidato a prefeito Chico Alencar (PSOL) promete impedir que o Rio seja 'vítima da insensatez do caveirão'. Cuidar da polícia é atribuição do governador do estado".
O jornalão sequer anota que o caveirão é o símbolo máximo de um modelo de segurança insano, baseado no tiroteio, que faz da polícia do Rio a que mais mata e a que mais morre. Não. O Globo vai buscar justo o mais truculento dos comandantes da PM fluminense para sustentar sua opinião. Marcus Jardim, o homem que declarou que "a PM é o melhor inseticida social" e que "2007 será o ano de três pês: PAN, PAC e pau" após operações que resultaram em mortes de moradores de favelas.
Marcus Jardim foi comandante do 16o Batalhão (Olaria), considerado um dos mais violentos do estado. Como recompensa, foi promovido pelo governo Sérgio Cabral (PMDB) a comandante do 1° Comando de Policiamento de Área (CPA), responsável por 14 batalhões na capital. Irônico, ele afirma ao Globo que "O Estado tem regras próprias para o emprego dos blindados, que servem para transportar policiais civis e militares", como se fosse esse o alvo da crítica de Chico Alencar.
Em sua página, o candidato da Frente Rio Socialista rebateu: "O Globo afirma que o prefeito do Rio não pode se meter em segurança pública nem criticar o tal 'caveirão'. Representante de uma cidade de 6 milhões de habitantes, o prefeito do Rio deve, sim, exigir assento no Gabinete Integrado de Segurança Pública e afirmar sua concepção de polícia inteligente, investigativa, preventiva, além de fazer o que lhe cabe diretamente, como braço social dessa política: creches, escola pública de qualidade, atendimento básico de saúde".
Disputa do poder simbólico
Aos poucos a esquerda do Rio vai descobrindo a importância de entrar na disputa das representações. A mídia, hoje, é a instituição com maior poder de produção de subjetividades, ou seja, de determinar formas de sentir, agir, pensar e viver. Em função de seu desenvolvimento tecnológico, a mídia é capaz de atravessar todas as demais instituições produtoras de subjetividades: Igreja, Escola, Família, Hospital, Exército, entre outras.
Os meios de comunicação de massa são capazes de moldar percepções, forjar consensos e, assim, alterar a própria realidade. No Brasil, esse quadro se agrava devido à brutal concentração do setor. Existem apenas 7 emissoras abertas de televisão, isso num país com 190 milhões de habitantes. Dessas sete, seis são ideologicamente afinadas - a serviço da exploração do povo brasileiro - e a outra apenas agora começa a procurar uma nova narrativa. Das seis comerciais, uma única possui 40% da audiência e detém 60% das verbas publicitárias.
Segundo Roméro Machado, que trabalhou durante 10 anos na Fundação Roberto Marinho, a televisão brasileira foi criada com o objetivo de consolidar "um suporte de mídia que visava apoiar, dar base, sustentação e consolidar a ditadura no Brasil, apoiada e supervisionada pela CIA, por exigência dos Estados Unidos, comandado por terroristas da CIA, como Vernon Walters e Joe Walach, sendo este último com emprego fixo na Globo, como 'representante' do grupo Time-Life".
A construção de uma nova cidade, de um novo estado, de um novo país passa, necessariamente, pela construção de um outro suporte de mídia. Um suporte que seja capaz de transmitir outros valores que não o consumismo desenfreado, o individualismo, o egoísmo e o ódio de classe. Para tanto, é necessário um sistema público de comunicação robusto e bem consolidado.
Neste documento - clique aqui - preparado pelo Coletivo Intervozes há uma série de propostas que, se adotadas pelos governantes, podem resultar numa efetiva democratização dos meios de comunicação e, conseqüentemente, na democratização da sociedade. Baixe o arquivo e exija que os parlamentares de sua cidade ou estado, além dos prefeitos e governadores, assinem este compromisso. Lembre-se que eles são nossos funcionários, pagos com o dinheiro dos nossos impostos, e devem atender às nossas demandas.
(*) Marcelo Salles é jornalista e editor do Jornal Fazendo Media. Publicado em seu blog em 07/09/2008, clique aqui para acessá-lo.
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