Não foi necessário mais que o contorcionismo verbal das múltiplas justificativas e versões apresentadas, e o tratamento fidalgo da, digamos, oposição, para a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Roussef se safar das acusações de ter comandado a produção de um dossiê com informações sobre gastos da Presidência da República na gestão de Fernando Henrique.
As tergiversações de costume, somadas às negativas e à tática de desqualificar o acusador deram conta do recado, e a CPI dos cartões corporativos foi encerrada com o brilhante relatório do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), que absolveu liminarmente os ex-ministros Matilde Ribeiro e Orlando Tapioca Silva da acusação de uso indevido de seus cartões, pois o que houve foi somente um engano, um descuido.
Somente os ingênuos haveriam de esperar outro desfecho para esta ou qualquer outra investigação parlamentar onde o governo tem maioria, e mesmo que não a tivesse, sabe que pode sempre contar com os bons ofícios de boa parte da chamada oposição, que não pode abusar de uma eventual disposição para o confronto quando é alvo de frondosas suspeitas de desvio de recursos no caso Alstom.
O curioso nesta cabeluda história de mau uso de cartões, dossiês e outras vilanias, é que o comportamento de petistas e tucanos é homogêneo: no Congresso, barram convocações indesejáveis; na Assembléia de São Paulo, onde corre a CPI da Eletropaulo, idem.
O público, enfastiado, de há muito dispensa toda essa teatralidade dos políticos, as atitudes de ensaiada indignação, os protestos de inocência, as alegações de ignorância dos fatos e personagens, as puídas acusações de perseguição política.
Em palavras simples, a questão é a seguinte: quem é injustamente acusado processa seus detratores e ponto final. Isto vale para o deputado Paulinho da Força, sobre quem pesam suspeitas de participação no esquema de desvio de recursos do BNDES, para o ex-governador fluminense Anthony Garotinho, a quem a Polícia Federal atribui a estarrecedora chefia de quadrilha armada e, agora, para a mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, que poderá passar à condição de órfão.
Justamente quando Dilma, passada a tormenta da CPI dos cartões, consegue recuperar a paz de espírito, vem a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, acusar a Casa Civil de favorecer o comprador da Varig, em um fabuloso negócio que rendeu um lucro de US$ 296 milhões em poucos meses.
Na substanciosa entrevista de Denise Abreu e do empresário Marco Antônio Audi ao jornal O Estado de S. Paulo, em 5 do corrente, sobram até acusações de tráfico de influência ao compadre e amigo do presidente Lula, o advogado Roberto Teixeira, cujo escritório, por ordem da Justiça, será investigado pela Polícia Federal.
O fato é que a sociedade, evidentemente aquela sua parcela mais esclarecida, acostumada a cobrar, está cansada, e não é de hoje, dos protestos de inocência, do discurso fácil e incongruente do presidente Lula; das frases de efeito, de uma deplorável e piegas dramaticidade os críticos do etanol têm os dedos sujos de óleo - da fuga às responsabilidades, quando o desmatamento da Amazônia cresce a olhos vistos, e um performático ecologista é nomeado ministro do Meio Ambiente para, apenas, distrair atenções, especialidade da casa, neste governo nunca antes tão desenvolto na arte de manter ou alterar as aparências?
Acusações maldosas, dirão, talvez, os envolvidos. Neste caso, sempre melhor que negar, basta processar os autores das aleivosias.
Luiz Leitão comentarista
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