Depois de sangrar durante meses a fio por causa da hesitação de seus integrantes em julgar o ex-presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), a credibilidade do Senado Federal deverá continuar anêmica com a eleição do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) para a presidência daquela Casa.
Suas excelências perderam a oportunidade de pôr no comando do Congresso o senador gaúcho Pedro Simon (PMDB-RS), veterano de 25 anos, profundo conhecedor dos anais da instituição e célebre por sua postura ética. Mas os leitores certamente já ouviram falar de gente que foi preterida em processos de seleção em empresas porque eram superdimensionadas para o cargo.
Certamente foi isto o que aconteceu quando 68 entre 78 senadores julgaram que Garibaldi Alves, suspeito de desvio de recursos nas eleições de 2002 (Folha de São Paulo, 12/12/07) e de ser sócio oculto em emissora de TV ( Inter TV, antiga Cabugi, repetidora da Rede Globo no Rio Grande do Norte) , o que é proibido pela Constituição, mas que a absolvição do senador Renan Calheiros acaba de atestar não ser nada de mais, - até porque todo mundo faz -, está mais de acordo com os padrões atualmente vigentes naquela Casa. Ainda que nada venha a ser provado a respeito dessas acusações ao novo presidente, conviria neste caso invocar a questão da mulher de César.
Mas já vai longe o tempo em que a opinião pública tinha o condão de influenciar a conduta de nossos parlamentares, porque se assim fosse o Congresso estaria hoje em outro patamar ético.
Garibaldi, escolhido com o aval do presidente Lula, fez um belo discurso de posse - " Convoco todos a partilhar comigo a árdua missão de devolver ao Senado, perante ao (sic) País, toda a credibilidade de sua trajetória histórica" "Chego à presidência em um momento traumático para a Casa com os últimos acontecimentos que levaram o Senado a se aproximar de limites que jamais poderiam ser ultrapassados, sob pena de fraturar a imagem da Casa junto à opinião pública e não faltarão oportunidades para que a veracidade de suas palavras seja posta à prova.
O Senado perdeu a oportunidade de fazer jus a um upgrade em sua imagem. Ficou provado que presidi-lo nas atuais condições não é coisa para homens como o petebista Jefferson Peres ou pemedebista Pedro Simon. Este último, teria dito o presidente Lula, que não costuma apreciar quem se lhe opõe, uma pessoa não confiável, e pode-se dizer que para algumas das pretensões do presidente da República parlamentares como José Sarney, Jader Barbalho, Romero Jucá, o velho e bom Renan Calheiros e outros de semelhante quilate são mesmo muito mais confiáveis.
Entretanto, neste institucionalmente melancólico final de ano, bem ou mal, com ou sem a aprovação do tributo CPMF, e apesar da rarefeita oposição que o governo enfrenta dentro e fora do Congresso, as dificuldades enfrentadas pelo governo durante a batalha campal que se desenrola no Senado, menos por discordância dos protagonistas do embate a respeito da conveniência deste imposto e mais pela inesgotável fome do PMDB por cargos na máquina de governo, mostram que Lula, ainda que hábil no manejo do verbo e da verba, se perde quando exposto à adversidade, crescente à medida que o tempo for consumindo os três anos de mandato que lhe restam.
Enfim, nesta atribulada troca de praticamente seis por meia dúzia na sua presidência, o Senado se iguala à Câmara cuja legislatura que terminou ano passado foi considerada a pior de todos os tempos. Mas o recorde, pelo andar da carruagem, será quebrado.
Luiz Leitão
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