A ex-diretora da Casa Pia de Lisboa Catalina Pestana em entrevista publicada no jornal "Sol" disse "não ter dúvida" de que ainda há pessoas dentro da instituição educacional portuguesa que abusam sexualmente dos alunos.
Logo de seguida, a actual presidente da Casa Pia, Maria Joaquina Madeira, garantiu não ter quaisquer indícios da existência desses abusos, desde que está no cargo, há ano e meio.
Conjugadas, as duas declarações são inquietantes como pode a ex-responsável da Casa Pia não ter dúvidas e a actual não ver nem um indício? Se Catalina Pestana tem razão, haverá indícios; se não há indícios, Catalina alarma-nos desnecessariamente. Segundo o Correio da Manhã na quarta-feira, o presidente Cavaco Silva revelou que convocou o procurador- geral da República. Pinto Monteiro, e exigiu que todas as suspeitas de abusos a crianças da Casa Pia sejam investigadas até ao fim.
Em entrevista publicada na sexta-feira passada pelo jornal "Sol", Pestana declarou ter informado o procurador-geral da República, Fernando Pinto Monteiro, sobre suas suspeitas.
A ex-responsável pela instituição beneficente considera que há "redes externas que continuam usando os meninos da Casa Pia para abusos sexuais".
A instituição pública foi criada em 1870 para atender crianças pobres e órfãs. Catalina Pestana, nomeada em 2003, após a divulgação de um escândalo por abusos sexuais, explicou que Pinto Monteiro mandou abrir uma investigação e que ela já prestou depoimento.
O caso começou a ser julgado em 2004. Entre os acusados, estão um famoso apresentador de televisão, Carlos Cruz, o diplomata aposentado Jorge Ritto, e o ex-funcionário da Casa Pia Carlos Silvino da Silva, acusado de 639 crimes de abusos contra crianças e adolescentes.
Também são processados o ex-diretor-adjunto da Casa Pia Manuel Abrantes, o médico João Ferreira Diniz, o advogado Hugo Marsal e Gertrudes Nunes.
Nunes, a única mulher acusada no processo, era dona de uma casa em Elvas, perto da fronteira com a Espanha, na qual supostamente crianças foram abusadas sexualmente.
O caso mobilizou a opinião pública portuguesa em 2002, após a publicação de uma reportagem em que foram reveladas duas décadas de abusos a alunos da instituição.
O escândalo atingiu a vida política portuguesa, com a prisão do ex-ministro Paulo Pedroso, que era braço-direito do ex-líder socialista Eduardo Ferro Rodrigues. Posteriormente, as acusações contra Pedroso foram retiradas. O caso se agravou com o vazamento de gravações feitas pela polícia de conversas entre personalidades políticas, entre elas o então chefe de Estado, Jorge Sampaio, e o ex-presidente do Parlamento João Bosco Mota Amaral.
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