Brasil - Segundo turno: mais supresas?

Prof. Dr. Isaac Bigio*

Dos cinco candidatos à presidência, outros dois foram importantes: Heloísa Helena, à esquerda, com 6.9% dos votos, e Cristóvam Buarque, representando uma outra alternativa de trabalhismo, com 2.6%. Os votos brancos e nulos somam 8.4% e o absenteísmo foi de 16.8%.

Polarização

No que pode-se concluir pelos números, a abstenção foi relativamente pequena e o país segue polarizado politicamente. Tendo havido apenas um candidato representando a centro-direita (Alckmin), ele mesmo ainda pode surpreender no segundo turno.

Alckmin não só impediu que Lula ganhasse no primeiro turno, mas diminuiu de 20 para 7 pontos percentuais a vantagem que as pesquisas projetavam para Lula. O candidato do PSDB obteve mais votos que Lula no Sul do país (região mais próspera) e seu partido venceu no primeiro turno governos de estados significativos como São Paulo e Minas Gerais.

Segundo José Alencar, vice de Lula, sua fórmula não triunfou de primeira devido ao fato de o presidente ter sido "desacreditado", por não comparecer no debate na TV. Mas, de fato, o que mais vem minando e debilitando o lulismo é a série de constantes demonstrações de corrupção em seu entorno e no núcleo de seu governo.

Dossiêgate

O último escândalo foi a compra do dossiê contra José Serra, para a qual duas pessoas ligadas ao PT foram flagradas com cerca de US$ 800 mil, que supostamente seriam usados para corromper rivais.

Os quase 10% da população que não votou para nenhum candidato neste primeiro turno declarou tê-lo feito por opção. Mas pode ser que no segundo turno estes eleitores considerem Lula um "mal menor".

Todavia, é inegável que a crise moral do governo Lula, levou o PT e assegurar somente 4 dos 27 governos aos quais concorreu – sinônimo do desencanto dos eleitores com o partido do presidente.

Repercussão internacional

Uma vitória de Lula seria saudada tanto por Bush como por Chávez. Para os EUA e a União Européia, o ex-sindicalista centro-esquerdista representa um contrapeso moderado ao avanço da tríade mais extremista Venezuela-Cuba-Bolívia na América Latina.

Ao mesmo tempo em que as forças da centro-direita questionam a relação próxima de Lula com a política de Chávez (a mesma que tem fomentado a nacionalização boliviana da Petrobras), as de esquerda se sentem traídas pelo governo do então radical petista ter se alinhado ao neoliberalismo e manter uma boa relação com Bush.

Empregos

Se Lula não pôde ou não quis cumprir as promessas eleitorais de 2002, como a conclusão da reforma agrária, um grande salto no crescimento econômico e a moralizacão da política, o fato de seu governo ter mantido a estabilidade econômica e um crescimento 2 ½% anual (inferior à taxa regional e muito abaixo da de outros gigantes como Índia e China) rendeu trunfos – possibilitando a criação de muito menos dos empregos que prometia, apesar de melhorar as condições básicas de setores muito pobres as sociedade e diminuir o analfabetismo.

Durante os últimos dias da campanha, Lula afirmou ter criado "103 mil empregos por mês". Na campanha de 2002, o então candidato do PT prometeu criar 10 milhões de empregos em quatro anos.

Números oficiais do Ministério do Trabalho, como o cadastro Caged, mostram que nos três primeiros anos do governo Lula foram criados 3,3 milhões de novos empregos (a projeção para o final de 2006 é de 4,8 milhões), ou seis vezes mais do que a quantidade de novas vagas com carteira assinada criadas pelos dois governos anteriores do PSDB.

Portanto, a estratégia de Alckmin para o segundo turno será de minar a candidatura de Lula, mostrando que seu governo não possui garantia de transparência moral e, por isso, não vai atrair mais investimentos da iniciativa privada.

Mesmo assim, uma vitória de Gerado Alckmin é pouco provável. E mesmo que o eleitorado brasileiro prefira, tradicionalmente, um governo de centro-direita, os programa sociais do governo Lula devem pesar na hora da decisão final dos setores mais pobres e numerosos da população.

Oposição

O segundo turno é algo que deve dar certa satisfação aos candidatos Heloísa Helena e Cristóvam Buarque, que romperam com o PT em seu primeiro mandato. Lula deve propor-lhes uma aliança e esta poderá ser obtiva mediante maior participação de seus partidos no governo e uma possível mudança de direcionamento na política económica praticada pelo PT.

O cenário mais provável é que Lula seja reeleito num novo contexto em que a centro-direita sai fortalecida, e com um grande diferença de 2002: o surgimento de uma oposição significativa à sua esquerda.

*) O analista internacional e ex-professor da London School of Economics Isaac Bigio é peruano e especializado em América Latina. Assina uma coluna diária no jornal peruano Correo e escreve às terças e sextas para BR Press. Tradução: Angélica Resende/BR Press.

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