Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil durante oito anos. Seu mandato foi marcado, entre outras coisas, pela explosão das dívidas externa e interna, pelo déficit na balança comercial e pelas privatizações, pelo populismo cambial seguido da desvalorização do real, pela aprovação da reeleição e pelo conflito sistemático com os movimentos sociais.
Apesar desse prontuário, FHC é tratado por certa imprensa como se fosse portador de virtudes morais e cívicas. Assim foram tratadas suas declarações de teor golpista, conclamando os eleitores conservadores a reagir frente a cada vez mais provável vitória de Lula. Foi quando ele revelou saudades de Carlos Lacerda, defendeu "botar fogo no palheiro" e "liquidar essa diferença nas pesquisas".
Nesta semana, numa carta dirigida aos militantes do PSDB, o ex-presidente disse que "nós do PSDB não fomos suficientemente firmes na denúncia política de todo esse descalabro (ético) no momento adequado. Não será agora, durante a campanha eleitoral, que conseguiremos despertar a população. Mas, para nos diferenciarmos da podridão reinante, temos a obrigação moral de não calar (...)."
Vários analistas interpretaram esta carta como o reconhecimento público, por parte de FHC, que ele não acredita mais nas chances da candidatura Alckmin. Outros intérpretes, com um toque de humor, acreditam que a carta é um lance maquiavélico de FHC. Já que as pesquisas revelam que o ex-presidente é altamente reprovado pelo povo brasileiro, quando mais distante ele estiver de Alckmin, maiores as chances eleitorais do ex-governador paulista.
De toda forma, o apelo feito por FHC, por mais agressividade por parte da oposição, não foi em vão.
Num desses fenômenos bizarros que caracterizam a política brasileira, quem resolveu seguir ao pé da letra a orientação do ex-presidente foi a senadora Heloísa Helena, que em discurso de palanque acusou o presidente da República de ser um "gângster que chefia uma organização criminosa, capaz de roubar, matar, caluniar e liquidar qualquer um que passe pela sua frente ameaçando seu projeto de poder".
Para que não restassem dúvidas, em entrevista à imprensa concedida depois dos ataques de palanque, Heloísa Helena mostrou estar afinada com as orientações de FHC: "Não estamos em uma disputa partidária. Enfrentamos uma organização criminosa, porque, com todo o respeito que tenho por algumas pessoas do PT, que são dignas, infelizmente o presidente Lula é um gângster."
As declarações da senadora ultrapassaram todos os limites e devem ser objeto de ação judicial. Do ponto de vista político, a violência verbal e o repertório udenista mostram que o espírito de FHC & Lacerda não freqüentam apenas salões tucanos e pefelistas.
Fonte: PT
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