Não tenho dúvidas, era a mesma pessoa. Já vira aquele menino antes, na zona norte, em outra transversal do tempo. Não era muito bom jogando bola, mas contava histórias como ninguém. E gostava de pular o muro do terreno de seu Lula, para pegar azeitonas pretas. Não seria difícil conversar com ele. Afinal já nos conhecíamos, mesmo que de vista. Andáramos pelas mesmas ruas, comemos os abacaxis do Mercado de Água Fria, cortamos os cabelos com o mesmo barbeiro da Rua Japaranduba. Era um velho conhecido. Foi só lhe dirigir a palavra e a conversa aconteceu. Não na praia do Pina ou em alguma esquina de Água Fria, mas nas terras férteis da internet. O resultado dessa conversa está colocada abaixo. Com muita sinceridade (Clóvis Campêlo).
Clóvis Campêlo - Quando foi que um anjo torto te disse para ser “gauche” na vida?
Urariano Mota - Em lugar dos versos "Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida", na minha vida, em mais de uma oportunidade, não houve qualquer anjo. Pelo contrário, muitas vezes, na infância e já adolescente, eu senti que um "urubu pousou na minha sorte", para lembrar o verso definitivo de Augusto dos Anjos. Pouso e sem pose, nada retórico. Nem mesmo Deus. Caso semelhante ao do narrador em O Filho Renegado de Deus: "'Eu tenho um acerto pessoal com Deus', a consciência de Jimeralto gritava". Mas se entendo a sua pergunta de outra maneira, digo que filho de mãe descendente de índio com branco e de pai mulato, trabalhador do cais do Recife, nascido em Água Fria, eu tinha mesmo que ser gauche, ou seria idiota. Ser gauche foi a minha salvação. Taí, um crente diria que Deus escreve certo por linhas tortas. Mas observo que o "gauche" na minha resposta vem da tradução do francês, "esquerda", "ser de esquerda". Creio ser esse um dos significados dos versos de Drummond, e não o que lhe dá o dicionário, "tímido, canhestro, torto". Foi no sentido de "esquerda" que respondi.
Clóvis Campêlo - Penso que ninguém nasce de "esquerda", entendeu? Nascemos "cristãos" e "capitalistas". Somos impregnados por essas ideologias desde o berçário da maternidade. Tornar-se de esquerda, significa tomar conhecimento de outras informações e leituras do mundo e optar por elas. A pergunta foi nesse sentido. Quando se deu esse "start"? Em que fase da tua vida isso aconteceu?
Urariano Mota - De fato, ninguém nasce de “esquerda”, na medida em que todos nascemos nus, despidos, com um patrimônio animal, antes de nos tornarmos humanos. Mesmo quanto à tradição capitalista e cristã que se incorpora adiante em nós como uma segunda pele, com todos os preconceitos de que somos feitos, essa segunda pele vem com mistura de tudo, vale dizer, também de cultura que nem é cristã nem capitalista. O que dizer, por exemplo, da vizinha que divide a comida com o outro em dificuldade, isso é capitalista ou cristão?
Mas você quer o começo biográfico. O “start” para a esquerda, Clóvis, veio se construindo, em momentos cruéis e cruciais da minha vida, porque a minha tradição era de americanófilos, como de resto eram os suburbanos naquela fase imperiosa de Hollywood e propaganda pós-guerra dos Estados Unidos. Então eu lembro que, menor de idade, fui contínuo em A F Motta & Cia. Ltda, que ficava na Rua da Concórdia. Ali, todas as manhãs, eu tinha que limpar a lixeira com escarro do dono português. Quanto catarro possuía na garganta o patrão. Cuspia e tossia o dia inteiro, antes que o anjo do câncer o levasse para o céu. O meu cinto era um cordão barbante. Os jovens hoje, os filhos, nem imaginam o quanto era inacessível um simples cinto para as calças. Então na festa do fim do ano ganhei um de presente, da caixa da loja, e o peguei morto de vergonha, porque haviam descoberto o que a minha camisa cobria. Dias depois, a caixa da loja, a doce e amável caixa, me emprestou A Mãe, de Górki. Esse é um dos começos que vieram se somando.
Clóvis Campêlo - E como chegou aos seus grandes ideólogos? De onde tirou a base de sustentação para essa opção ideológica?
Urariano Mota - Em primeiro lugar, da necessidade urgente de procurar uma resposta para a desordem do mundo. Como Deus poderia admitir que a injustiça triunfasse de todas as maneiras? Que o mundo fosse uma ordem que não respeitava o talento, o amor, o afeto, o brilho e a sensibilidade de rapazinhos suburbanos, como podia? Aliás, não podia, só fodia, a alma da gente. E a partir dessa necessidade, os amigos, as pessoas de esquerda que conheci, as melhores pessoas que podíamos conhecer nos anos 70.
Sobre esse momento, o meu primeiro romance “Os corações futuristas” narra:
“- Deus não está do nosso lado – João fala.
–Ainda acredita em Deus? – Vevê pergunta.
– Que pergunta! – João responde. – Se existe ou não, Ele não está do nosso lado. Isso é o que importa.
– Fecho – Miro diz. – Há muito que Deus não está por nós. Às vezes está conosco, mas é contra nós.....
Naquela manhã , ao atingir a Suassuna, João estragou o sapato chutando muros dos jardins de casas na avenida. Miro, mais sereno, acompanhou aquela angústia como um personagem que tudo vê, num pesadelo. Aquela angústia também era sua, mas amenizada, por temperamento e crença. Vevê ficou em casa, para dormir. Terminou por ‘furar um ponto’, às onze horas do dia. Samuel, nem feliz nem contente, apenas dizia, ‘João, João’ e não sentia em si forças para conter aquele assalto de desespero. O certo é que todos tinham os olhos vermelhos, marejados, e os corpos dissolutos. Cada um guardava no íntimo, e sabiam que este era um segredo comum, que não se diziam: vida, tu és amarga.”
Clóvis Campêlo - Dando sequência, eu perguntaria se a sua opção realmente lhe serviu para modificar positivamente o mundo, ou se mostrou como um instrumento sem a força necessária para isso. O escritor é um demiurgo que tenta reconstruir e reorganizar o dito cujo. Mas, entre a literatura e a realidade existe uma certa distância. Como você administra isso?
Urariano Mota - Há uma corrente de céticos, que eu chamaria de cínicos, para não dizê-los coisa pior, há uns desonestos cuja reflexão para a literatura é dizer que ela serve para nada. Aqui ainda não é o lugar de responder à altura a essa falsidade. Mas para falar o mínimo, eu digo que a opção de escrever me salvou, ou me tem salvo até aqui. Mais: que a minha pouca obra já serviu para melhorar a sorte de Canhoto da Paraíba, por exemplo, quando uma Oração que lhe fiz (ah esses ateus...) lhe gerou uma pensão do governo da Paraíba. Mas a minha ambição, é claro, é maior.
Eu, como todos que amam a literatura, gostaria que ela transformasse o mundo. Menos, ó quixotesco, menos. Então eu já me conformo com a mudança e salvação humana que ela tem operado em mais de uma pessoa. Por exemplo, na recuperação, no grito contra injustiças malditas, seculares, como fiz com “O filho renegado de Deus’. Na recriação dos assassinatos no Recife em 1973, como escrevi em “Soledad no Recife”. Ou como a resposta que venho dando ao desafio de uma quiromante, quando ela me disse: "É preciso salvas as almas socialistas que clamam justiça". É coisa de doido? É coisa da poesia!
Então, nesse particular sentido, acho que tenho contribuído com o meu grãozinho de areia para a mistura do cimentinho que vai levantar um tijolinho de nada para a casa dos homens, que vai dar uma salvação da pessoa, que corre agora dos tiros e bombas que querem matá-la. Se uma só página, se uma só linha, quem sabe se uma só palavra, acender a luz nos olhos de uma maldiçoado que morria sem saída, então estou muito feliz e melhor ainda pago.
Recupero de um texto que publiquei sob o título de A literatura salva:
“ – O que eu ganho com isso, professor?
'Isso' era a literatura. Quando essa pergunta me era feita por jovens da periferia, excluídos, isso me ofendia muito mais que a pergunta do jovem classe média. Aos de antes eu respondia com uma oposição quase absoluta, porque não me via em suas condições e rostos. Mas aos periféricos, não. Eu passava a ser atingido nos meus domínios, na minha gente, porque eu olhava os seus rostos e via o meu, no tempo em que fui tão perdido e carente quanto qualquer um deles. Então eu não sorria. Aquilo, do meu semelhante, me acendia um fogo, um álcool vigoroso, e eu lhes falava do valor da literatura com exemplos vivos, vivíssimos, da minha própria experiência. Então eu vencia. Então a literatura vencia. Mas já não tinha o nome de literatura. Tinha o nome de outra coisa, algo como histórias reais de miseráveis que têm a cara da gente. Mas tudo bem, eu me dizia, que se dane o nome, vence a literatura.”
Em um dia de 7 de setembro, "Oração para Canhoto da Paraíba" foi lida como um poema no Mais Você, de Ana Maria Braga. Quando terminou o programa, Vitória, a filha do violonista, ligou para mim e anunciou: “O governador da Paraíba acaba de ligar, papai vai ter uma pensão”. Então eu lhe disse como resposta: “Este é o melhor 7 de setembro da minha vida”. Assim falei porque não poderia na voz falar: obrigado, amiga, acabas de me anunciar para que serve a literatura. Para diminuir um pouquinho que seja o sofrimento e a dor da gente.
Clóvis Campêlo - Um famoso escritor pernambucano afirmava que seus personagens se sobrepunham ao sistema usando a esperteza, nunca o confronto. No meu entendimento, ao usar essa estratégia ele justificava o status quo e referendava o dito popular que diz que "o mundo é dos mais espertos". Os seus personagens também se utilizam dessa estratégia da esperteza ou usam a indignação como força motriz transformadora?
Urariano Mota - Ótima pergunta, Clóvis. O que move os personagens sobre os quais escrevo é a afirmação de humanidade em um mundo profundamente inumano. Eles lutam e enlutam com a boa e má luta. De todas as maneiras. São quixotescos? Não, gostaria que fossem pessoas. Gente de cara e dente. São indivíduos que me impressionam e me falam (assim como espero que falem aos leitores): “a nossa vida é curta. Por que diminuí-la ainda mais?”. Isto é, por que torná-la menor que as nossas necessidades animais? É claro que não são santos nem heróis. Não estou escrevendo uma hagiografia. Eles têm pecados, alguns mortais, cabeludos, porque assim somos feitos, de pecado, carne, egoísmo, generosidade e sexo. Mas no limite eles querem apenas afirmar a necessidade irrefreável do amor. Como aqui, em O filho renegado de Deus:
“Seria específico de ti o teu amor pelo irmão homossexual? Que dupla desconforme desconformidade a tua, ao desejar o incesto com um homem que não te queria para o sexo. No entanto, Maria, os censores nem veem que o desnatural vinha antes: a mulher em plenitude que não era amada. Percebes agora a extensão do teu infortúnio? É claro, os teus olhos fechados nesta hora me falam que já percebias, mas a teu modo continuavas a viver, na tua bravura sem queixa. Pois contigo me veio a lição, aquela que não se encontra escrita nos livros, mas se acha codificada na vida dos dignos: os que lutam não se queixam. Vão em frente, como se felizes estivessem, vão em frente, apesar de, apesar de, apesar da infâmia sofrida. Se não têm mãos, lutam com os pés. Se não têm pernas, braços, lutam com o cuspe. E não se dizem nunca ‘coitado que sou, pobre de mim’, porque à queixa pertencem os vigaristas. Então, o que seria mais o teu específico? A tua obesidade, a tua pouca estatura, a tua miséria, a tua dor de mulher não amada pelo companheiro, ou a tua agonia de morrer com o filho no ventre?”
Clóvis Campêlo - Urariano, quando você afirma que os seus personagens não são santos nem heróis, fico com a impressão de que o autor tenta lhes imputar uma aura de realidade, a questão da verossimilhança. Em quase todas as literaturas essa opção narrativa marca as obras que se caracterizam pela marca do realismo, em contraponto ao fantástico que marcou uma geração de autores latinos. Como autor, como você se situa diante dessas duas formas de escrever e narrar?
Urariano Mota - Clóvis, penso que o realismo vai além do que se convencionou chamar de realismo. Quero dizer, toda obra de arte se faz no domínio da realidade humana. Melhor dizendo, ela se prende na – e se liberta da – realidade factual. Escrevo isso, e nos meus olhos passam agora Guernica, de Picasso, e Chagall. Estou vendo Cícero Dias, mais Lula Cardoso Ayres e suas almas penadas, que só arrepiam pela beleza. Mas de um ponto de vista estrito, literário, leio e releio Gabriel García Márquez, e encontro a realidade latino-americana, mesmo quando o sangue de um filho assassinado atravessa a rua, sobe a calçada e volta para o útero da mãe na rede. É tudo dentro do domínio da realidade, até mesmo o que desobedece à lei física, até mesmo quando um homem acorda transformado em um inseto.
Esclareço melhor, creio: eu só vim a compreender o Kafka de A Metomorfose quando revi o homem de uma família amiga. Ele era excepcional, e na sua casa o escondiam das visitas. Aquilo era puro Kafka, quando a família do rapaz-monstro o esconde das visitas. Tudo tão realidade, não é? (por sinal, Kafka é muito realista, ainda que fale de uma colônia de ratos ou da Colônia Penal). Lembro também que a família da García Márquez reconhecia todos os personagens, mesmo os mais sem nexo, entre as pessoas da cidadezinha de Aracataca, aliás, Macondo. Quero dizer, o naturalismo foi que viciou, mal acostumou as pessoas na percepção de que o imediato, visível, é que era o real. Mas não. A realidade vem de antes de Cervantes, passa pelo Dom Quixote e nos encontra até hoje.
Assim, creio estar no reino do real mesmo quando narro, em O Filho Renegado de Deus, um diálogo entre Maria, morta em um caixão, e Filadelfo, que se exibe marido apaixonado no enterro:
“- Tudo, menos essa falsidade. Respeita-me!
Pois o corpo de Maria com vida anímica lhe falava, estabelecia com ele um diálogo que não era mudo, apesar de inaudível ao publico do espetáculo. Nesse diálogo vinham os dias em que ele não estava em casa porque estaria trabalhando. E Filadelfo bem sabia ser mentira, pois a morta insinuava o que não queria lembrar. No breve e torturante discurso de Maria ao remorso de Filadelfo, aquele rosto suave para o filho se contraía duro:
- O teu choro engana os bestas. As tuas lágrimas, por mais que chores, não lavam o teu sujo.
- Eu não tive culpa, Maria. Eu não sou culpado, você não quis ir para a maternidade, Filadelfo gritava.
- Por que mentes? Eu já estava sacrificada. O que eu fizesse era inútil. Morria na maternidade ou em casa.
- Maria, eu sempre quis o seu bem.
- Mentira! Tu querias o teu bem. Por que me arrancaste de casa? Eu queria ter a minha última hora com o meu filho, Por quê? Porque a tua vontade era a única e exclusiva. Eu não tive direito nem à minha última.
- Tanto que eu lhe disse, cuide-se, Maria, cuide-se...
- Não, a tua fala era de que gostavas de mulher carnuda. Depois viravas a cara para o outro lado.
- ... Deus é testemunha.
E ao ouvir esse ‘Deus é testemunha’, no rosto de Maria se desenhava o sinal de um sorriso. Vendo esse traço nos lábios, Filadelfo espalmava as mãos em vertical sobre os olhos, apertando as pálpebras. Bom seria que a sua consciência não pensasse. Havia, claro, dois gêneros de Deus. Um para Filadelfo, outro para Maria”.
A realidade não nos prende, enfim. Ela nos liberta pela possibilidade que teremos em aprofundá-la, ao nível da nossa observação e experiência. Chamam a isso de verossimilhança. Sim, mas prefiro dizer, uma prospecção do real.
Clóvis Campêlo - O escritor japonês George Oshawa acreditava que morreria cedo em função de muito ter escrito quando era vivo. Dizia que escrever nos consome muita energia vital. Morreu aos 78 anos com a impressão de que muito do que escrevera não seria utilizado pelas pessoas como forma de evolução pessoal e intelectual. Você também sente isso? Quais as estratégias que utiliza para atingir um grande público e com ele se identificar? Você acha que o escritor sempre estará condenado à solidão?
Urariano Mota - Olhe, morrendo aos 78 anos, o escritor japonês chorou de barriga cheia. Quem morreu de trabalho (e dívidas) foi Balzac, aos 51 anos, depois de uma obra colossal em quantidade e qualidade. Mas é verdade que escrever consome muita energia, tanto mental quanto física, ainda que o escritor não saia do canto. Às vezes, é muita tensão. Na maioria das vezes, mexe com o peito da gente, sangra. E nem pense que isso é drama. Arrancar de si o que um homem nem às paredes confessa, como traumas, remorsos, amores ocultos e vilezas, isso não é atividade de gente normal. Tem um preço alto para a saúde. Mas e aí, seria melhor viver sob a falsidade?
Que venha a expressão da dor. Mas considere que assim como jesus-morreu-na-cruz-para-nos salvar, o homem morre todos os dias. A nossa vida só é vida se estivermos em atividade. O homem É na ação. No escritor, na ação de escrever. Confesso que às vezes frustra muito, porque melhor seria um soco, um tiro, uma bomba. Mas a covardia da gente faz o que pode. Quanto à solidão do escritor, acho um mito. É claro, no momento da escrita ele está sozinho para a rua, para a casa, para a mulher, para os familiares, para os amigos. Mas está acompanhado dos que o acompanham na memória e sentimento.
É possível que o meu texto não seja aproveitado. Quero ter no entanto a consciência de que fiz o que meu coração pedia.
Clóvis Campêlo - Como você vê a literatura brasileira hoje? Existe nela um lugar de destaque para os nordestinados? Renato Boca-de-caçapa, o filósofo do povo, afirma que nós, nordestinos, sofremos dois tipos de colonização cultural: a que nos é imposta por Tio Sam, nosso eterno colonizador, e a colonização cultural interna, onde temos que conquistar o sudeste para poder ser aceito no nosso rincão? Você concorda com essa visão?
Urariano Mota - Esse Renato Boca-de-Caçapa é dos bons. Ele está certo. Falo agora de um episódio esclarecedor. Não faz muito, em Garanhuns, tive uma discussão braba com agentes culturais e um escritor que acreditavam ser os escritores do Sudeste melhores que os regionais. Razão alegada e prova: os do sudeste publicavam pelas grandes editoras. Daí a razão de merecerem melhores cachês que os fodidos escritores pernambucanos. Aí o bicho pegou. Dois momentos cômicos aconteceram então na mesa do restaurante:
1. Durante a discussão, eu me exaltei e disse que para escrever como Mario Vargas Llosa em Tia Júlia e o Escrevinhador, eu escreveria “cagando”. Claro, era um exagero retórico. Mas um escritor recifense assim me respondeu: “então, comece a cagar”.
2. Na saída, entre abraços de despedida, eu disse à produtora que só voltaria a Garanhuns quando recebesse o mesmo cachê que um “escritor do Sul”. Ao que o escritor garanhuense interveio: - Você quer dizer que volta mais nunca.
Vida que segue. Eu espero voltar. Ou nunca.
Clóvis Campêlo - Acabamos de eleger pela quarta vez consecutiva uma candidata petista para a presidência da República do Brasil, para desespero das velhas oligarquias políticas brasileiras. Como você vê a situação sócio-econômica do Brasil depois desses três mandatos petistas cumpridos? Melhoramos ou a vaca começa a ir para o brejo? Somos o país do presente, a bola da vez, ou as forças conservadoras conseguirão retomar o comando e reimplantar o atraso? Qual a sua opinião sobre isso?
Urariano Mota - Clóvis, eu e a maioria do povo brasileiro votamos e votarei de novo em governos que sigam o caminho aberto por Lula. Não me arrependo e estou na linha de frente e defesa do governo Dilma, que é execrado pelos acertos, não pelos erros. Vi e testemunhei o crescimento extraordinário de Pernambuco, do Nordeste, que a propaganda de Eduardo Campos e assemelhados quis creditar ao próprio governo. Vi parentes meus no Alto de Santa Terezinha entrarem na universidade, terem escola pública de qualidade, melhorarem de vida com bolsa família, e mais adiante se empregarem em atividades dignas, especializadas, e assim não precisarem mais da ajuda do governo.
Vi o pernambucano Lula se erguer como um dos líderes do mundo. Vi uma ex-guerrilheira, chamada de terrorista, assumir os destinos do Brasil. Como podemos renunciar à continuação de um sonho?
Recife, abril de 2015
http://geleiageneral.blogspot.com.br/2015/04/entrevista-com-urariano-mota.html
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter